TBT: As 100 atitudes que você deve tomar antes de receber a faixa-preta de Jiu-Jitsu

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Com um kimono, uma lata de spray e uma ideia na cabeça, a equipe de GRACIEMAG produziu a capa de uma das edições mais vendidas da história da editora, em 2007. A reportagem de capa da edição 122 compilava as 100 coisas que o praticante devia fazer antes de pegar a tão almejada faixa-preta.

Usando como base as experiências de professores consagrados, a reportagem apresentou um plano de metas dos mais ousados para o amante incondicional do Jiu-Jitsu.

A pedido de diversos leitores do GRACIEMAG.com, reeditamos a reportagem aqui, atualizando alguns pontos e revisando outros. Releia, reflita e divirta-se.

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O arrependimento não está entre as coisas mais agradáveis da vida. Em geral, a gente sofre um bocado quando pensa no passado e se lamenta por ter feito ou não ter feito algo em determinada época.

Foi assim, meio filosóficos, que corremos atrás de 40 professores de Jiu-Jitsu e perguntamos: Se pudesse voltar no tempo, o que você faria de diferente na sua carreira até a faixa-preta?

“Eu me arrependo de nunca ter feito uma dieta maneira, só agora estou me preocupando com isso, vi que os resultados são extremamente positivos”, respondeu o campeão mundial André Galvão. Tendo em vista que Galvão já era um atleta impressionante na faixa-roxa, imagine o quanto uma alimentação sofisticada teria contribuído para que ele alcançasse desempenhos ainda mais espetaculares.

Esmiuçando as repostas de cada professor, GRACIEMAG listou cem coisas que você deve fazer até chegar à faixa-preta (e outras 20 que você não deve fazer).

Em momento algum tivemos a pretensão de criar um cânone universal, uma receita de bolo. Cada atleta segue o caminho que quiser, mas tendo em mãos um roteiro baseado nas experiências de lutadores consagrados, acreditamos que, ao final da caminhada, você vai ter mais chances de olhar para trás e se dar por satisfeito.

Se você já é um faixa-preta, a lista vale como uma revisão de sua carreira e até como um estímulo para você criar o seu próprio plano de metas até a faixa-coral. Confira!

1- Gostar de Jiu-Jitsu.

2- Amar o Jiu-Jitsu.

3- Respeitar o Jiu-Jitsu.

4- Aprender a dosar força e técnica, de modo que você lute durante o máximo de tempo sem cansar.

5- Entender que a faixa não é o único objetivo, mas uma consequência do esforço e aprendizado. A pessoa que tem como meta apenas pegar a nova faixa limita o próprio potencial, que é sempre algo enorme e desconhecido. Em vez de se concentrar nisso, preocupe-se em desenvolver aspectos técnicos da luta.

6- Saber o programa de aulas básico de cor e salteado.

7- Estudar a fundo as técnicas de defesa pessoal. Ou você pretende ser um faixa-preta que se desespera para sair de uma gravata qualquer?

8- Fazer um treino duro com o próprio mestre.

9- Fazer vários amigos de fé na academia.

10- Disputar um campeonato – e voltar com a medalha de ouro para casa.

11- Disputar um campeonato na categoria absoluto.

12- Perceber que no fundo, no fundo, pontos e cronômetro não existem, enquanto não há nada mais real que os três tapinhas.

13- Participar de um seminário ministrado pelo seu grande ídolo.

14- Aprender inglês. Do jeito que o mercado do Jiu-Jitsu é, você vai ter que se comunicar em outros continentes.

15- Saber dar um armlock voador, mesmo entendendo que não é um golpe para ser usado toda hora.

16- Lutar um Mundial de Jiu-Jitsu.

17- Inventar algum golpe ou movimentação.

18- Dar um nome bem original ao golpe criado, como por exemplo “borboleta sem asa”, “pega-bobo” ou “bola de fogo”.

19- Experimentar variadas dietas até descobrir duas ou três que realmente funcionam para estimular o seu corpo, antes, durante e depois das competições.

20- Fazer ao menos um ano de judô – caso o treino intenso de quedas não seja um costume de sua academia.

21- Aprender a perder.

22- Aprender a vencer.

23- Encontrar o tipo de kimono cuja modelagem se ajuste melhor ao seu corpo.

24- Afiar o surfe, pois você ainda vai participar do Campeonato Black Belt de Surfe.

25- Se o surfe não for a sua praia, desenvolver outra atividade ao ar livre, para se energizar nos dias fora da academia.

26- Aprender a ensinar. O que inclui saber conduzir uma aula completa, planejar o aquecimento específico para o treino do dia, casar os treinos com coerência, saber deixar o aluno novamente calmo ao fim do treino para ir para casa, entre outros pontos. “Na marrom, o atleta promissor pode dar uma aula com o faixa-preta do lado, como um estágio, um teste”, sugere o professor Raphael Abi-Rihan.

27- Ler o manual de regras do Jiu-Jitsu da IBJJF.

28- Próximo à faixa-preta, participar de treinos simulados de vale-tudo, conhecidos popularmente como treinos de bloqueio e taparia. Situações reais de luta são extremamente importantes para afiar sua defesa pessoal, saber o tempo de entrada de queda e lapidar outros aspectos.

29- Raspar o cabelo, nem que seja uma só vez.

30- Tentar fazer aulas particulares – vitais para dar um refino técnico e aprender macetes com seu professor.

31- Oferecer-se de sparring para seu mestre, especialmente em aulas particulares, em que você também vai aprender muito.

32- Montar sua bibliografia básica sobre artes marciais. Quanto mais livros (e vídeos e DVDs), melhor.

33- Lutar, com todas as forças, para aquele apelido que botaram em você não pegar.

34- Aceitar o apelido, se pegar.

35- Emplacar um bom apelido em algum parceiro.

36- Incentivar uma criança a começar no Jiu-Jitsu. Afinal, elas são o futuro do esporte.

37- Adquirir autocontrole.

38- Usar suas habilidades técnicas e seu gás para sair de alguma enrascada. Aventuras fazem parte da história de qualquer grande faixa-preta.

39- Não deixar o seu bom Jiu-Jitsu subir à cabeça – mantenha os pés no chão.

40- Saber reagir. Não existe uma cartilha exata sobre como você deve proceder em cada situação, mas o professor Carlos Gracie Jr. costuma ensinar uma lição clássica. Quando alguém estiver o incomodando, no cinema, no avião em qualquer lugar, pense antes de agir: se essa pessoa fosse o Brock Lesnar, o que você faria? Há horas que você decididamente tem de interceder, e ir falar com o chato. Mas faça sempre com educação – sem covardia. Seja a pessoa uma velhinha, um grupo de adolescentes ou o campeão dos pesados do UFC.

41- Não deixar nunca de treinar o Jiu-Jitsu básico, bem como a defesa dos golpes.

42- Ter um fisioterapeuta camarada, que depois de tantas consultas já faz aquele desconto quando surge uma nova lesãozinha.

43- Ter a sua receita favorita de açaí.

44- Descobrir a sua melhor hora de treinar, e entender se o seu corpo responde melhor aos treinos duros à noite, à tarde, ou de manhã cedo.

45- Enviar um e-mail elogiando GRACIEMAG.

46- Enviar um e-mail esculhambando GRACIEMAG – ou ao menos sugerindo novas pautas.

47- Estudar o básico da história do seu esporte, e saber quem foram e o que fizeram os pioneiros do Jiu-Jitsu.

48- Todo faixa-branca já viu mais de cem vezes, então não é você que vai deixar de assistir: reveja, volta e meia, as primeiras e gloriosas vitórias do Jiu-Jitsu nos ringues. Afinal, conhecer os feitos de Carlson, Royce, Rickson, Renzo, Ralph e Minotauro, por exemplo, é entender como o Jiu-Jitsu chegou tão longe.

49- Após tantos anos de torções, descobrir o golpe para o qual você não bate de jeito algum – uma chave de pé, uma guilhotina…

50- Ser flexível; descubra seu programa de alongamento favorito.

51- Equiparar seu jogo por baixo ao seu modo de lutar por cima – ou pelo menos chegar perto disso.

52- Medir forças com atletas de outras modalidades, como wrestlers em torneios de submission, colegas judocas e por aí vai.

53- Conversar muito com os mais graduados e velhos mestres.

54- Esquecer as bombas.

55- Registrar em fotos o auge de sua forma física. Além de servir como acompanhamento, isso vai motivar a não deixar o shape cair, mesmo com o passar dos anos – e das faixas. E você ainda terá uma bela fotografia para um dia tirar onda com os filhos e netos…

56- Fazer uma viagem inesquecível para lutar ou treinar Jiu-Jitsu com a equipe.

57- Representar bem e divulgar a bandeira do nosso Jiu-Jitsu na sua comunidade, e no exterior.

58- Testar seus conhecimentos teóricos acerca do Jiu-Jitsu em provas escritas, como as realizadas na Escola Leão Teixeira, no Rio, ou na Universidade do Jiu-Jitsu, em San Diego, entre tantas outras escolas.

59- Acostumar-se ao desconforto. Afinal, como dizia Wallid Ismail, “é tempo ruim o tempo todo”.

60- Se dar mal com as mulheres por causa da sua orelha.

61- Se dar bem com as mulheres por causa da sua orelha.

62- Ter tido no mínimo 17 kimonos até pegar a preta. Se não, você não gastou pano o bastante…

63- Doar seus kimonos velhos para projetos sociais e alunos iniciantes.

64- Entender a dinâmica do seu corpo, afinal cada biótipo se adapta de um jeito diferente ao Jiu-Jitsu. O seu jogo deve estar em sintonia com o tipo de corpo que você tem.

65- Respeitar os faixas-brancas. E azuis, roxas…

66- Desenvolver sua flexibilidade mental. Em qualquer campeonato no mundo, é comum você competir mais tarde ou mais cedo do que o esperado, mudar de área de luta pouco antes do combate… “Nesses casos, relaxe e aceite. A ausência de um pensamento rígido permite que você tire o melhor de cada experiência e evolua”, ensina nosso colunista Martin Rooney.

67- Absorver qualquer nova técnica que lhe é ensinada, mesmo que não se torne sua especialidade. Certamente pode ser a de algum oponente.

68- Pelo menos uma vez na vida, decidir competir em algum torneio em cima da hora. Lembre que não existe uma fase “perfeita” para lutar, vá e lute – e quem sabe será a hora perfeita.

69- Bater, bater e bater, várias vezes. E, quem sabe, até dormir num golpe. Faz parte, tudo é aprendizado até a condecoração máxima.

70- Fazer uma luta (ou vá lá, no mínimo um treino) sem tempo ou pontos, até pegar.

71- No caso de ter amigos em outras academias, visitar novos ambientes. “Gostaria de ter ido treinar mais com outros atletas, para testar o meu Jiu-Jitsu sem a pressão dos campeonatos. Sinto falta por não ter treinado com o Amaury, Libório, Roleta, Cachorrão e Pé de Pano”, revela Saulo Ribeiro.

72- Ser o herói de alguém – nem que seja do seu irmão mais novo.

73- Explicar mais de uma vez, a diversos amigos, a filosofia do Jiu-Jitsu, e não perder a paciência quando ouvir, “Mas luta não é coisa de ignorante, não?”

74- Ser convidado para ajudar na segurança daquela festa de amigos. Nem que seja para recusar elegantemente, apesar de sentir-se orgulhoso por dentro.

75- Ter um Gracie favorito.

76- Dar uma moral, do jeito que você puder, a algum projeto social tocado por você ou um faixa-preta parceiro seu.

77- Ter o Jiu-Jitsu como estilo de vida e aproveitá-lo ao máximo. Para isso, deve-se entender que a arte não se resume a uma modalidade esportiva.

78- Descobrir o que é persistência na própria pele – afinal, é quase certo que você vai ficar um tempo parado por conta de uma lesão. Mesmo assim, não esmoreça.

79- Saber que GRACIEMAG é a melhor revista sobre Jiu-Jitsu no mundo, e sempre pedir para o jornaleiro ou o livreiro amigo separar seu exemplar.

80- Decifrar expressões curiosas como “nó-de-porco”, “creonte”, “calçar a bota”, “amassa-pão”…

81- Soltar volta e meia um “… bicho” no final da frase, e saber que isso nunca saiu de moda.

82- Descobrir o que te motiva antes de um treino e o que serve como alívio após um dia ruim na academia – seja uma música, um filme, uma leitura ou algum pensamento positivo.

83- Desenvolver um estilo próprio como lutador.

84- Desenvolver um estilo próprio como professor.

85- Entender que cada “façanha” ou briga desnecessária não acrescenta nada a um praticante, e sim representa um passo atrás na sua busca pelo reconhecimento no Jiu-Jitsu. Como afirma Saulo: “Eu nunca daria a faixa-preta a uma pessoa sem escrúpulos, ou melhor, essa pessoa nem treinaria comigo porque eu não seria capaz de abrir minha alma para ensiná-lo.”

86- Encontrar um meio de tirar prazer das grandes e pequenas coisas no Jiu-Jitsu, desde o aquecimento até os dias ruins na academia e as derrotas.

87- Aprender noções de primeiros socorros.

88- Aprender a lidar com o medo, a insegurança e a ansiedade que todos temos, uns mais, outros menos. Por isso a competição é um dos melhores ambientes para se autoconhecer, não só como atleta.

89- Entender sua responsabilidade como atleta graduado. “Se o cara pretende ser professor a responsabilidade é ainda maior, já que deve ser o exemplo para os que serão seu espelho. O Jiu-Jitsu não tem apenas a função de criar bons lutadores, mas homens capazes, dignos e honrados de levar a bandeira do Jiu-Jitsu adiante. Essa é a maior responsabilidade do faixa-preta”, ensina Robert Drysdale.

90- Refletir sobre os erros.

91- Depois de crescer com o erro, tirá-lo dos ombros.

92- Enxergar a faixa-preta como um começo, não como o fim do caminho. “Aprimorei muito meu jogo depois que cheguei na preta”, lembra Marcelo Garcia.

93- Pelo menos a partir da faixa-marrom, competir também sem kimono.

94- Inovar nos exercícios. Não passe o resto da vida fazendo polichinelos.

95- Enxergar o mais rápido possível que a academia não é lugar de competir, e sim de treinar e tentar posições. “Só batendo e exercitando suas deficiências você vai se tornar um lutador completo. Esse negócio de ‘ganhar treino’ é bobagem e limita o jogo e o aprendizado”, lembra Saulo.

96- Experimentar técnicas de respiração, Ginástica Natural e ioga, para auxiliar seu desempenho como atleta. Apesar de vistas com desconfiança antigamente, hoje tais recursos estão largamente consagrados por grandes lutadores – inclusive do UFC.

97- Preparar seu discurso antes da cerimônia de recebimento da faixa.

98- Criar a sua própria lista com 50, cem ou 200 metas que você VAI cumprir até a faixa-preta.

99- Aplicar a principal lei do Jiu-Jitsu (“mínimo esforço para a máxima eficência”) em sua própria vida. Enfrente os desafios da maneira mais simples possível, pois certamente este será o modo mais eficiente.

100- Sair da internet e ir treinar!

* Os 20 mandamentos até a faixa-preta

1. Não amarrarás.
2. Não afrouxarás.
3. Não matarás treino por motivos bobos.
4. Não farás uso em excesso de álcool.
5. Não farás uso em excesso do bate-estaca.
6. Não usarás kimonos mal-cheirosos nem esquecerás do asseio.
7. Não reclamarás da arbitragem ao fim da luta.
8. Não creontarás – respeite seu mestre e sua academia.
9. Não acatarás ordens que vão contra seus valores morais.
10. Não serás grosso durante os treinos.
11. Não farás da sua orelha estourada um troféu.
12. Não sucumbirás a biscoitos, doces e afins.
13. Não ficarás se exibindo – seja discreto, afinal, quanto mais exposto mais fácil é o alvo.
14. Não falarás demais nem causarás intriga entre os parceiros de treino.
15. Não farás covardia.
16. Não levarás a sério nenhum filme do Steven Seagal.
17. Não contarás vantagem.
18. Não tardarás a soltar o golpe quando o adversário bater.
19. Não descontarás o estresse do dia-a-dia nos parceiros de treino.
20- Não roubarás as Havaianas do colega de treinos.

A emoção de trocar a cor da faixa. Na foto, as lágrimas de Lúcio Lagarto. Foto: Gustavo Aragão.

>> Com a colaboração de: Alexandre Paiva, Alexandre Ribeiro, Amaury Bitetti, André Galvão, Fabio Gurgel, Helio Gracie, Hermes França, João Alberto Barreto, José Mario Sperry, Leonardo Santos, Leonardo Vieira, Marcelo Garcia, Martin Rooney, Raphael Abi-Rihan, Relson Gracie, Renzo Gracie, Ricardo Libório, Rickson Gracie, Robert Drysdale, Roberto Gordo, Rodrigo Comprido, Rodrigo Medeiros, Roger Gracie, Ronaldo Jacaré, Royler Gracie, Saulo Ribeiro, Sylvio Behring, Thales Leites, Vinicius Draculino, Vítor Shaolin, Wallid Ismail.

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