Nascido no Brasil e criado na Califórnia, o militar Ivan Oliveira estava acostumado a se movimentar no solo com agilidade, à disciplina e a enfrentar as missões mais árduas. Ainda assim, quando entrou pela primeira vez numa academia de Jiu-Jitsu, no dojo da professora Gazzy Parman, ele teve medo. Um medo diferente, claro.
“Eu servi na Alemanha e depois fui enviado ao Iraque, até que me licenciei das forças armadas. Eu tinha noções de combate corpo a corpo, claro, mas até 2011 nunca havia tido a oportunidade de fazer parte de uma escola de Jiu-Jitsu”, ele conta, antes de detalhar o sentimento que o dominava – um temor muito comum em quem pensa em experimentar pela primeira vez o tal Jiu-Jitsu: “Quando pus o kimono, eu estava cabreiro de fazer papel de bobo em cima do tatame.”
Ivan não estava muito bem quando decidiu começar. Após se afastar da rotina miliar, ele estava acima do peso, deprimido, sentia-se abandonado. Seus amigos de farda continuavam grandes cupinchas, claro, mas agora estavam a milhares de quilômetros de distância. O corpo estava fora de forma, a mente estava enfraquecida: “Eu me sentia sem rumo. Meu casamento havia sido um desastre, e eu cheguei até a considerar encerrar minha vida.”
Se o medo passou na hora? Sim, já na metade da primeira aula, após algumas repetições da raspagem tesourinha. Após aquela aula, tudo mudou. Mais de uma década após aquele treino experimental com a campeã Parman, Ivan foi condecorado faixa-preta, na escola Gracie Barra.
“Não fui um aluno dos mais consistentes, pois precisei morar no Alasca, depois me contundi. Mas eu pus na cabeça que eu seria faixa-preta antes dos 40 anos, e isso me fazia voltar sempre. Não era uma meta, era uma certeza. No Jiu-Jitsu, encontrei motivação e o rumo, e aquela arte se tornou uma paixão”, diz Ivan.
Ele chegou à Gracie Barra Salt Lake City quando era faixa-azul, e depois foi para a GB Greensboro. Seidler Rodrigo, professor e campeão da GB, foi um mentor na hora e lugar certos. Com o professor Lucas Nabuco, aperfeiçoou suas técnicas e se formou faixa-preta.
“A força mental que adquiri me permitiu enfrentar meus problemas com confiança. Hoje eu não tenho mais medo dos meus pensamentos como eu tinha antes. Na GB sei que tenho um exército de amigos para me ajudar a encarar minhas batalhas diárias”, diz a fera. “Se eu tiver um dia ruim, sei que, durante o treino, vou resolver minhas frustrações nos tatames, o que muitas vezes me leva a encontrar a clareza necessária para superar os problemas que enfrento fora da academia”.
Ivan chegou a competir, e crê que os desafios que encontrou no Jiu-Jitsu funcionam como um catalisador que transforma a maneira como abordamos as dificuldades na vida. “Nosso cérebro aprende a superar problemas, a não temer nossos demônios – sejam do tamanho que forem”, explica. “Hoje eu estou sempre indicando o Jiu-Jitsu para todos os veteranos como uma forma de superar problemas de saúde física e mental que podem debilitar as pessoas após o serviço militar.”
Ivan, após a carreira no exército americano, tornou-se um agente da lei: “O Jiu-Jitsu me ensinou a relaxar, a não me desgastar demais com esforços inúteis. Hoje consigo perseguir uma solução que exige menos esforço e é mais eficiente na resolução do problema.”
Para o faixa-preta da GB, o Jiu-Jitsu é um tesouro valioso para todos, e não apenas para quem sonha com medalhas e um título mundial.
“A beleza do Jiu-Jitsu é que a jornada não é fácil; a arte força a pessoa a superar adversidades para se tornar uma versão melhor de si mesma. Com o Jiu-Jitsu encontrei mestres e mentores que me ensinaram que o autoaperfeiçoamento é uma jornada sem fim. Minha trajetória não foi fácil e pensei em desistir, o que muitas vezes me levou a vivenciar fracassos que causaram profunda dor emocional. No entanto, sempre que sentia que a vida estava me batendo forte demais, bastava um treino com meus amigos para melhorar drasticamente meu humor. Isso me permitia agir com a clareza necessária”, narra o militar, antes de concluir:
“O Jiu-Jitsu também me fez entender que pedir ajuda não é uma fraqueza. Aprendi a lição ao pedir ajuda aos meus professores e amigos dentro e fora dos tatames. Aprendi, ainda, a ser muito mais paciente, o que me tornou um marido, pai, amigo e pessoa melhor.”
E você, também venceu a si mesmo graças ao Jiu-Jitsu? Oss…