Vitor Belfort, um azarão?

Share it
Carlson Gracie encaixa mata-leão estiloso no pupilo Vitor Belfort. Cena do livro de Fellipe Awi.

Vitor Belfort em cena marcante com seu mestre Carlson Gracie. Foto do livro “Filho teu não foge à luta”, de Fellipe Awi.

A maioria dos brasileiros identifica Rocky Balboa como “o lutador que apanha a luta inteira e, no final, ganha do adversário”. Essa é a imagem mais comercial do personagem de Sylvester Stallone, derivada das sequências Rocky 2, 3 e, principalmente, 4 – na qual Balboa derrota o gigante russo Drago em plena União Soviética. Quando pensamos em MMA, não é raro classificarmos Rodrigo Minotauro como o “Rocky Balboa brasileiro” por sua resistência e reviravoltas inacreditáveis.

Poucos lembram que o personagem original do filme “Rocky, um lutador” (ganhador do Oscar de melhor filme de 1977), não era esse herói americano quase sobre-humano. Na verdade, o Rocky do primeiro filme era um grande azarão. Com uma carreira irregular, ele aparece relegado a lutas de segunda categoria, considerado sem importância por vizinhos, pelos amigos e pelo próprio técnico. Quando o adversário do campeão mundial Apollo Creed se machuca às vésperas da disputa do cinturão, sem tempo suficiente para que outro “top contender” se prepare para a luta, Creed resolve dar chance a um lutador local para salvar o evento. Rocky é o escolhido por causa de seu apelido “Garanhão Italiano” (Italian Stallion), que Apolo considera comercialmente interessante.

Balboa aceita o desafio, mesmo sabendo que tem poucas chances, somente para provar que todos aqueles que o subestimavam estavam errados. Que ele poderia resistir e estar de pé quando o gongo soasse. Ao final, Rocky perde por pontos, mas é aclamado por seu desempenho e amparado pela mulher que amava (“Adriaaaaan!”).

Na semana do UFC 152, Vitor Belfort é quem lembra mais esse Rocky Balboa.

Diferente do personagem de cinema, Vitor nunca chegou ao fundo do poço. Porém, pela irregularidade de seus desempenhos, jamais foi uma unanimidade entre os fãs do esporte, sendo sempre subestimado. Vitor teve um início de carreira meteórico, conquistando um título do UFC com apenas 19 anos e recebendo o apelido de “O Fenômeno”.

A partir daí passou a alternar vitórias impressionantes contra grande lutadores como Wanderlei Silva, Matt Lindland, Heath Herring e Rich Franklin com derrotas apáticas contra Randy Couture, Kazushi Sakuraba, Tito Ortiz e Chuck Lidell.

Some-se a isso a “cornetagem” infundada, tão comum aos fãs e ainda mais aos brasileiros: taxavam-no de “playboy”,  diziam que se concentrava demais em aparecer na mídia, alegavam que ele perdia muito tempo com a esposa famosa. O cúmulo foi chamá-lo de “amarelão” porque quebrou a mão às vésperas da sua luta contra Wanderlei Silva no UFC 147, supostamente para evitar  o confronto. Quanta bobagem.

Pessoalmente, nunca fui um grande fã do Belfort, talvez por não me identificar com seu discurso politicamente correto demais. Mas acho lamentável desprezar um lutador com a habilidade do Vitor.

Agora Belfort cala a boca de seus detratores ao aceitar enfrentar o temido campeão Jon Jones na categoria de peso acima da que vinha disputando. Quando o desafiante Dan Henderson se machucou às vésperas da disputa contra Jones e nenhum “top contender” aceitou enfrentar o campeão, com menos de um mês de preparação, o “azarão” Belfort foi chamado para o confronto. A vida imita a arte.

É lógico que Belfort tem pouco a perder com essa disputa contra Jon Jones. Se for derrotado, enfrentou um dos campeões mais dominantes dos últimos tempos, em um peso acima do seu, e fez um favor aos donos do UFC. Se ganhar, chocará o mundo e fará história.

Sinceramente, o que mais torço nessa luta é para que, ganhando ou perdendo, Vitor faça uma luta dura e impressionante. Bata forte, apanhe e prove que não deve ser subestimado. Quero ver Vitor Belfort em pé ao soar do gongo, aplaudido, gritando o nome de sua amada.

Mais do que nunca, Belfort deve se espelhar no Rocky Balboa original. Este personagem que só voltou no sexto filme (“Rocky Balboa”, 2006), mais velho, novamente subestimado e azarão, e que ensinou ao seu filho:

“Ninguém baterá tão forte quanto a vida. Mas não se trata de quão forte você bate. Trata-se do quanto você aguenta apanhar e continuar seguindo em frente. É assim que a vitória é conquistada.”

http://www.youtube.com/watch?v=aACN03zzWoo

Ler matéria completa Read more