Roger revê carreira no Jiu-Jitsu e pressente mais perigo no One: “Vale tiro de meta”

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Roger Gracie no Strikeforce em foto de Esther Lin

Roger Gracie no Strikeforce em foto de Esther Lin

A precisamente um mês de estrear no evento asiático One FC, em Manila, capital das Filipinas, Roger Gracie (6v, 2d) já tem seus planos táticos e de treinamento bem traçados para o dia 5 de dezembro.

O campeão de Jiu-Jitsu de 33 anos está com 98kg, seu peso normal, bem próximo do limite de 93kg que vai precisar atingir na véspera da luta contra o kickboxer inglês James McSweeney (14v, 11d), de 34 anos. Seus treinos serão em Londres, onde reside, e as duas últimas semanas serão na academia Evolve, em Singapura. A cinco dias da luta, Roger viaja para Manila.

O faixa-preta de Carlos Gracie Jr. está confiante numa boa apresentação (“Estou me sentindo pronto mentalmente e fisicamente, não quero mais que o gás seja um problema”) mas pressente alguns perigos maiores do que viveu no UFC: “As regras agora permitem joelhadas no chão e tiro de meta. Eu acho que eu preferia tomar um pisão na cabeça do que um tiro de meta”, ri o Gracie, com a voz pacata e ponderada de sempre.

A pedido do GRACIEMAG.com, Roger apontou também seus cinco oponentes mais perigosos na faixa-preta e os cinco companheiros de treino que mais o ajudaram no início da carreira. Confira a entrevista, a seguir.

GRACIEMAG: A primeira coisa que se ouve quando um campeão de Jiu-Jitsu vai lutar MMA é: “Espero que ele não invente e não resolva trocar porrada em pé”. Você vai inventar algo ou fazer seu jogo na estreia no One FC?

ROGER GRACIE: Meu plano segue mais ou menos igual ao de minhas lutas anteriores. Não vou inventar, eu sei que ficar a luta toda trocando é ruim para mim e bom para o cara, que tem um soco pesado. Mas sei também que tentar ir nas pernas do cara para derrubar o tempo todo não resolve. Pelo contrário, eu fico exposto e meu jogo muito óbvio. Por isso treinei bastante boxe, com meu treinador, Don Charles, e com companheiros como o James Zikic. Enquanto eu estiver em pé lidando bem com a habilidade de trocar do meu rival, mais confortável vou ficar para escolher a hora de investir na queda. Uma coisa curiosa no One FC são as regras à moda do Pride, em que vale tiro de meta, joelhada no chão… Acho que eu preferia pisão na cabeça do que tiro de meta. Mas vejo essa situação mais perigosa no One FC.

Um oponente trocador é o que você queria?

Tanto faz para mim. A única coisa que complica é que o cara é grandão. Minha envergadura não vai ser uma grande vantagem desta vez. Dei uma olhada rápida nas lutas dele, não quis ficar vendo muito. O importante é meu treinamento. Quero chegar lá no melhor do meu gás, afinal botar para baixo sempre é o que mais cansa, ainda mais um cara forte como ele. Estou bem preparado fisicamente e mentalmente. Estou com 98kg, comendo normal. Com quatro semanas para a luta, o ritmo de treino para a luta aumenta e já começo a secar naturalmente.

Em entrevista recente a Jake McKee, Rickson disse que tem aprendido algumas coisas com os treinos do Kron para MMA – posições que Rickson julgava válidas foram contestadas pelo filho, que testou e percebeu que não mais funcionam, que os conceitos permanecem mas alguns ajustes hoje são necessários… E no seu caso? Seu Jiu-Jitsu mudou com o MMA?

Olha, não muito. Não descobri nada de novo após treinar e lutar MMA. O que a gente tem feito é isso, adaptar nossas posições e conceitos às situações de briga. Por exemplo, no Jiu-Jitsu o cara por cima posiciona suas mãos para passar a guarda. Agora, o cara ali em cima de mim vai é tentar socar a minha cara. O interessante é que quanto mais você treina, com mais problemas você se depara. Então basta ver o que está dando errado e corrigir.

Você treinou com caras bons de queda, como o GSP. Deu para aprender alguma coisa com a explosão e o tempo de derrubada dele?

É muito raro copiar o estilo de alguém, porque cada um tem o seu corpo, suas qualidades. Eu sinto que o jeito mais seguro de derrubar ainda é clinchar e quedar, já que assim você expõe menos o rosto aos golpes. Mas como os caras evitam o clinche, então o tempo de quedas é muito importante para entrar e pegar as pernas. Eu tento ser mais explosivo a cada treinamento sim, mas sou um cara bem diferente do GSP e outros caras.

Uma vez o Demian Maia me disse que achava sua guarda perfeita para o MMA. Você treina situações por baixo, raspagens, finalizações?

Eu treino sim por baixo, com o cara tentando me acertar, e eu tento raspar ou pegar. Eu até me sinto confortável, mesmo não sendo uma posição ideal para o MMA. A questão é que não acho que o pessoal vá me quedar. Especialmente meu próximo oponente, ele não vai querer levar a luta no chão. Se levar, ótimo, mas não vai acontecer.

Tem acompanhado os campeonatos de Jiu-Jitsu?

Sim, vejo da mesma forma que antes. Eu não consegui ver o Mundial Master, mas estou acompanhando. Entre os novatos duros, gosto de ver as lutas do Felipe Pena, os outros que gosto de ver já são duros há mais tempo. Não treinei muito com o Preguiça, mas pelo que comentam ele é o próximo cara da Gracie Barra a reinar nas cabeças.

Sua alimentação para treinar MMA segue a mesma que antes?

Sim, mas a vantagem é que fiquei mais maduro com os anos e me preocupo mais. Eu comia mais besteira quando competia no Jiu-Jitsu. Eu também me casei, e tive a sorte de minha esposa cozinhar muito bem e se alimentar muito melhor que eu. Aqui em casa sempre tem muita salada, frutas, sopa, comida orgânica. Meu filho ama brócolis e minha filha é maluca por cenoura. Nunca vão comer nada ruim, eu espero.

Recomendaria um lanche para o leitor preparar antes de ir treinar?

Eu gosto de tomar vitamina de manhã, antes de ir treinar. Minha receita: uma banana, suco de maçã, maca peruana e proteína. Posso adicionar uma colher de L-glutamina, ou uma colher de vegetal em pó.

Quem teriam sido seus cinco oponentes mais complicados depois de faixa-preta?

Ronaldo Jacaré e Xande Ribeiro foram os meus dois principais rivais. O Jacaré talvez em primeiro lugar, pois nunca fizemos nenhuma luta fácil. Eu incluiria o Demian Maia, pela luta marcante que fizemos no Brasileiro de Equipes 2002, em São Paulo, quando ganhei nos pontos no final. Eu ainda era faixa-marrom. Teve também o Pé de Pano, que me venceu no Mundial 2003, e o Fabricio Werdum, com quem lutei direto. Daria para listar ainda o Alexandre Cacareco, que foi um adversário dos mais duros no ADCC 2005.

E seus companheiros de treino na GB? Quem foram os que mais amassaram você?

O cara que mais me amassou na vida foi o Flavio Almeida “Cachorrinho” (risos). Ele já era sarado quando eu estava começando, adolescente. Foi o cara que mais treinou comigo. Treinei muito com o Roleta também, que me trucidava. Em nosso último treino lembro que já endureci, mas ele me pegou num bote estranho daqueles. Teve o Alexandre Dantas, o Café, fizemos muitos treinos duros. Citaria ainda o Roberto Gordo, extremamente técnico, e o Lucio Lagarto, que já era faixa-roxa quando eu peguei a azul e sempre foi um treino bom. Continuamos treinando juntos aqui na Inglaterra.

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