Qual é o segredo para encaixar o Jiu-Jitsu numa vida atribulada, em que muitos vivem uma vida real e outra virtual, tudo socado naquelas 24 horas apressadas de sempre?
Zeca Alquéres, que começou a treinar em 2017, descobriu uma receita simples e eficiente: atrair para os treinos boa parte da família, e compartilhar com as pessoas amadas os benefícios da prática de defesa pessoal.
“Eu gostava de correr na praia desde os tempos de quartel, além de fazer exercícios ao ar livre, mas queria encontrar uma rotina nova para manter a forma. Como já tinha curiosidade sobre a defesa pessoal desde os tempos de Royce, tomei coragem e comecei. Eu nunca tinha vestido um kimono. Minha sorte foi encontrar um professor como o Vitor Terra”, disse Zeca, o mais novo faixa-preta da escuderia Gracie Terra.
“Os treinos com meu mestre Vitor Terra foram uma virada de chave”, reflete Zeca. “Não só pela qualidade técnica, mas pela filosofia transmitida. Com ele, aprendi como o Jiu-Jitsu de fato vai muito além do tatame — é uma arte que fornece disciplina, respeito, autocontrole e superação. A convivência com ele e a energia da equipe me ajudaram a ser mais focado, calmo nas decisões e equilibrado emocionalmente, tanto nos treinos quanto na vida pessoal e profissional”.
Alquéres se transformou num fiel escudeiro do professor, desde a faixa-roxa. Reunia o time em sua casa na serra, promovia verdadeiras “sessões de cinema” para analisarem o ADCC, Mundiais de Jiu-Jitsu e outros torneios. De cabeça e braços abertos, convidava quem aparecia – deste repórter, que participou de treinos a céu aberto e churrascadas memoráveis, até o comediante Away de Petrópolis – foi na casa de Zeca que o saudoso humorista vestiu o kimono e viralizou em vídeos hilários.
Zeca, enquanto evoluía tecnicamente, atraía os parentes para os treinos. Tudo de modo natural, sem pressões.
E assim foram chegando, nos tatames, suas duas filhas, os irmãos Silvia e Pedro, os cinco sobrinhos e a prima, Paula – que curtiu tanto que foi até os EUA aprender na fonte, com mestre Rickson Gracie.
“Eu até gostaria de ter começado antes no Jiu-Jitsu, mas o importante é que tomei a iniciativa – procuro nunca me arrepender do tempo certo das coisas”, reflete Zeca. “Talvez, se tivesse começado antes, não teria a maturidade para absorver tudo como absorvo hoje. Foi muito bacana conseguir levar uma parte da família para treinar realmente. Isso eu atribuo mais a uma questão de atitudes e postura do que o exercício da luta em si. Nunca precisei ‘catequizar’ ninguém. O Jiu-Jitsu tem essa coisa incrível de mudar sua energia de forma positiva; e quem está perto de você sente isso. É algo realmente transformador”.
A faixa-preta, que chegou em julho, provocou novas reflexões:
“Sinto que a faixa-preta não é uma linha de chegada, e sim o início de um novo ciclo. Ela representa anos de aprendizado, lesões, muitas dúvidas e superações. A verdade é que a gente leva muito do que se aprende na academia para fora. Quantas vezes a gente não se pega pensando numa saída para uma situação de treino ou mesmo de conflito durante o dia, enquanto está ali aborrecido no trânsito? Ou quantas vezes a gente não vai ao YouTube rever lutas clássicas, seminários e entrevistas dos grandes nomes? Nunca é demais. Acho que a gente não ganha a faixa, mas constrói ela aos poucos. Acima de tudo, ela me lembra que agora o compromisso é ainda maior. Para mim é uma responsabilidade e tanto, de precisar me aprimorar tecnicamente e me cuidar o máximo possível, cabeça, corpo e mente, para continuar sempre evoluindo e tentando ser melhor do que ontem.”
E você, o que aprendeu ao receber uma nova faixa? Oss…
