O professor Kaue Cavassani não cansa de aprender com os desafios da vida. Faixa-preta terceiro grau, o competidor da Checkmat se mudou para Richmond, na Califórnia, para viver em prol do Jiu-Jitsu e inspirar novos alunos. Logo após se estabelecer, nasceu a filhota Ágatha, e tome aprendizado.
O aluno de Léo Vieira conversou com o GRACIEMAG.com sobre as lições da paternidade.
GRACIEMAG: Como a chegada da Ágatha e a paternidade transformaram sua forma de ver o Jiu-Jitsu?
KAUE CAVASSANI: Ser pai mudou minha perspectiva sobre todos os aspectos da vida, inclusive sobre o Jiu-Jitsu. Antes, eu treinava e competia pensando em mim e nos meus objetivos particulares. Agora, penso também no legado que quero deixar para minha filha. Isso me fez ter mais paciência, mais empatia e uma visão mais ampla sobre o impacto que o Jiu-Jítsu tem na vida das pessoas. Também passei a valorizar ainda mais a longevidade no esporte. Hoje procuro treinar de forma muito mais inteligente, para poder estar no tatame por décadas e, quem sabe, um dia, dividir esse caminho com minha filha.
O que faz um bom líder nos tatames? Que características a pessoa deve possuir, na sua visão?
Ser um bom líder no Jiu-Jítsu vai muito além de ensinar posições. O faixa-preta precisa inspirar, orientar e criar um ambiente no qual os alunos possam crescer, seja dentro ou fora do tatame. O vínculo entre professor e aluno não depende apenas da presença física, mas de uma conexão construída ao longo do tempo. Mesmo com a distância, o respeito e a admiração mantêm esse elo forte. Aprendi muito sobre liderança com excelentes mestres ao longo dos anos – mestres que sempre lideraram pelo exemplo. Eles não precisavam impor autoridade; o comportamento, a dedicação e a humildade falavam por si. Nesse aspecto, o meu maior exemplo sem dúvidas é o meu professor Leonardo Vieira, e essa é a liderança em que acredito: aquela que motiva e inspira pelo que é feito a cada dia, todos os dias.
Como tem sido ensinar nos Estados Unidos, muda muito?
A principal diferença para o Brasil é a cultura em torno do Jiu-Jitsu. No Brasil, ele faz parte da rotina, muitas vezes o aluno entra no tatame já entendendo o espírito do esporte. Nos Estados Unidos, há uma abordagem mais estruturada e foco na experiência do aluno, com aulas bem organizadas e um atendimento mais próximo ao modelo de academias tradicionais. Além disso, há uma valorização maior do aspecto educacional, especialmente no ensino infantil, onde a disciplina e o respeito dentro do tatame são fortemente enfatizados. Ambas as abordagens têm seus pontos fortes, e eu tento trazer o melhor dos dois mundos para minha metodologia de ensino.
“O sucesso vem quando você consegue equilibrar o amor pelo que faz com o profissionalismo.” ~ Kaue Cavassani
Você hoje é gestor de oito academias, com mais duas a caminho em 2025. O que aprendeu com esse tipo de desafio?
Creio que o segredo está em manter a essência do Jiu-Jitsu viva dentro da academia, enquanto você se adapta ao lado empresarial. Como professor, o foco é ensinar e formar bons alunos. Mas como gestor, o desafio vai além, é preciso criar um ambiente sustentável, onde a equipe possa crescer junto. Investir no desenvolvimento dos professores, oferecer um atendimento de qualidade e entender que cada aluno tem sua própria jornada são fatores essenciais. Além disso, aprender sobre gestão e marketing é tão importante quanto aprimorar a técnica no tatame. O sucesso vem quando você consegue equilibrar o amor pelo que faz com o profissionalismo.
Excelente dica. E o que é o Jiu-Jitsu para você?
O Jiu-Jítsu é um mestre de vida. No começo, a gente pensa que se trata apenas de técnicas e vitórias, mas com o tempo percebe que nossa arte ensina valores profundos, como resiliência, paciência e humildade. Aprendi que a evolução não é uma linha reta – há desafios, dores, contusões, frustrações. Mas a verdade é que cada obstáculo fortalece o espírito. O Jiu-Jitsu me mostrou que, para crescer, é preciso aprender a perder, ajustar e continuar.
Muito bom. E como você procura passar esses valores para as crianças na sua academia?
Vejo os jovens alunos, em especial as crianças, como o futuro do Jiu-Jitsu. Ensinar os mais novos é uma responsabilidade enorme, porque além das técnicas, estamos formando caráter, ensinando disciplina e valores que vão acompanhá-los pela vida toda. O impacto disso vai muito além da academia. Do ponto de vista financeiro, as turmas infantis também são um pilar importante, pois ajudam na retenção de alunos e no crescimento da escola. Mas o verdadeiro valor está em construir uma base sólida para o futuro do Jiu-Jítsu e da nossa comunidade.