Campeã Anna Carol Luz dá receita para quem ainda duvida de si mesmo

Share it

Professora da equipe 617 BJJ, a faixa-preta Anna Carol Luz é uma vencedora.

Já precisou superar adversárias, um mal incurável e vários desafios no Jiu-Jitsu, pessoais e esportivos. Após voltar de Las Vegas com a medalha de prata no Mundial Master, a lutadora conversou com GRACIEMAG sobre o evento, os próximos desafios, e tudo o que passou para chegar até aqui.

GRACIEMAG: O que achou do crescimento do Mundial Master, que este ano chegou a 12.500 competidores em Las Vegas?

ANNA CAROL LUZ: Meu último Mundial Master havia sido em 2018, quando fui campeã no meu peso. Voltei em 2025, após alguns problemas de saúde, e dei muito mais valor a cada momento que passei ali dentro. Fora dos quadrados da área de luta, pude ver um crescimento absurdo do evento. Achei incrível a proporção que o campeonato ganhou, fiquei feliz de estar ali e de poder participar, de fazer parte de mais um capítulo da história do Jiu-Jitsu.

De que gostou mais?

Talvez de ver que o esporte no feminino só cresce e nos deixa a cada dia mais orgulhosas. Pude em Vegas rever amigos que eu não encontrava há anos, pude conversar com meus ídolos, tirar fotos com eles e celebrar esse evento tão maravilhoso que é o Mundial Master da IBJJF. Fico honrada de estar ali dentro daqueles quadrados e também de subir naquele pódio. Foi um grande evento, uma conquista para ser celebrada por toda a comunidade do Jiu-Jitsu, no mundo inteiro.

Você não lutava lá desde 2018. Como superou esse obstáculo em relação à saúde?

Eu precisei fazer várias cirurgias de pele, pois tenho uma síndrome chamada hidradenite supurativa. Minha vida nos tatames então parou praticamente, de 2019 até 2023. Tive de encarar e aceitar o fato de que eu não poderia fazer nada, e que a prioridade era me curar. Trata-se de uma doença autoimune e não tem cura, mas tem tratamento com dermatologista. Depois das cirurgias, nunca mais tive crise nenhuma, e estou sempre me cuidando.

Como foi o retorno?

Em 2023 resolvi voltar com tudo, e decidi treinar para competir o Campeonato Brasileiro, obtive até bons resultados para quem estava parada havia um bom tempo. Fui bronze no absoluto e prata no superpesado, master 3. Então foram momentos desafiadores, mas agradeço por ter me fortalecido, me fez crescer.

O que motiva você a competir?

Gosto de me desafiar. O objetivo é sair da minha zona do conforto. Ficar sem fazer o que eu amo não é legal, e esse tempo afastada por motivos de saúde me mostrou como eu gosto de lutar, botar em prova meu jogo. Hoje posso fazer o que amo e de modo saudável, e quero fazer isso até onde puder. Outra consequência legal é que isso incentiva meus jovens alunos. Se você duvida de si mesmo, nada melhor do que praticar Jiu-Jitsu e participar de uma competição. Com minha equipe de nutrição, osteopatia e preparo físico, consigo fazer a máquina de guerra funcionar. Quero sempre inspirar as pessoas próximas, e fazer o pessoal acreditar que tudo é possível, se a nossa mente deseja.

Qual foi a sua conquista mais celebrada até hoje?

Foi no Mundial Master 2018 mesmo. Enfrentei duas oponentes duríssimas, e quando venci me senti como uma heroína passando de fase no videogame. Ali entendi o poder da disciplina e da dedicação.

Se você precisasse resumir todo o aprendizado colhido durante este Mundial Master 2025, que palavra escolheria?

Certamente seria “paciência”. Aprendi em Las Vegas esta lição fundamental: para que tudo dê certo na luta, preciso manter a paciência a todo instante. Se eu mostro pressa eu vou errar; e, se eu for lenta em excesso, não consigo avançar. Logo, a paciência, além da resiliência de estar dentro dos quadrados, são lições das mais importantes, essenciais dentro e fora da área de luta.

Como foram suas disputas decisivas em Vegas?

Na semifinal, sinto que consegui controlar a luta o tempo todo, e obtive bom resultado. Já na final (contra Beth Slavinskas, da escuderia New England United BJJ), quando eu queria muito vencer e tinha boas chances, creio que perdi pela falta de paciência mesmo. Eu estava uma vantagem à frente no placar. Por causa da pressa de buscar os pontos, acabei falhando na raspagem da chave omoplata e depois numa tentativa de raspar da meia-guarda. A um minuto do fim do combate, o jogo virou. Fiquei com a medalha de prata.

Quais os planos para o futuro da equipe, Anna?

Nossa equipe 617 BJJ é praticamente nova. No Rio, nosso QG principal fica em Vila Isabel, sob comando do mestre Alexandre Salgado. Diariamente damos aulas para todos os níveis, adultos, jovens e crianças, e buscamos sempre uma galera de fora da cidade para fazermos seminários. Isso ajuda na evolução de todos que estão ali no tatame, e leva a academia a crescer cada vez mais, com ideais positivos e com bastante qualidade de treino.

Você sempre foi uma entusiasta da yoga para praticantes de Jiu-Jitsu. Como isso funciona?

Pratico hatha yoga desde a faixa-azul, e sempre indico a todos. Eu me profissionalizei como professora de hatha yoga em 2019 e desde então dou aulas coletivas e particulares. Costumo passar alguns asanas no alongamento na academia de Jiu-Jitsu e pratico sempre. As meditações e exercícios respiratórios fazem parte do nosso treino infanto-juvenil, já ensino aos mais novos uma forma de equilíbrio mental emocional e físico que se somam ao Jiu-Jitsu. É muito bom para o praticante, pois ajuda na flexibilidade e na força ao mesmo tempo. Para mim, os pranayamas são técnicas respiratórias ideais pra quem pratica e compete na arte marcial. A ansiedade é uma inimiga do início das lutas e alguns pranayamas ajudam a diminuir-la e a colocar a pessoa no eixo.

Ler matéria completa Read more