Professor JP explica filosofia da PBJJF: “Não organizamos lutas – criamos experiências”

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JP Ferreira, professor e organizador de eventos na PBJJF. Fotos: Divulgação

JP Ferreira, professor e organizador profissional de eventos de Jiu-Jitsu na PBJJF. Fotos: Divulgação

 

Somente no mês de junho, o professor João Paulo Ferreira e sua equipe vão promover torneios abertos na Espanha, nos EUA e em Minas Gerais. O crescimento dos eventos da liga da Professional Brazilian Jiu Jitsu Federation (PBJJF), fundada por João e o campeão Max Gimenis, tem chamado atenção.

Nossa equipe foi conversar com JP sobre sua trajetória até aqui, e o que ele enxerga para o futuro do Jiu-Jitsu profissional, no Brasil e lá fora. Oss!

GRACIEMAG: Quais são as primeiras lembranças que você guarda dos tatames?

JOÃO PAULO FERREIRA: Fui convidado pelo meu irmão para a primeira aula com o mestrão Fernando “Nutri Baby”. Estava bem ansioso e nervoso, era um universo completamente novo para mim. Logo naquela primeira aula, aprendi técnicas de defesa pessoal que me impressionaram profundamente. Mesmo sem ter muitas referências de que o Jiu-Jitsu poderia ser uma profissão de sucesso, algo dentro de mim já sabia: era isso que eu queria fazer para o resto da vida.

Quando você notou que viveria em prol do Jiu-Jitsu?

Naquela minha primeira aula de Jiu-Jitsu, ainda em Patos de Minas, MG, deu para sentir que era aquilo que eu queria para a vida, para minha trajetória pessoal ou profissional. Foi uma conexão imediata. Aos 15 anos, quando meu professor se mudou para o Espírito Santo, assumi as turmas da cidade ainda como faixa-azul.

Sentiu alguma espécie de pressão?

Claro que foi um desafio enorme, mas também um divisor de águas na minha história. Pouco tempo depois, por meio do professor Igor Araújo, me conectei com o Aldo Januário, o “Caveirinha”. Com o professor, comecei a enxergar o Jiu-Jitsu como uma profissão real. Vi faixas-pretas se mudando do Brasil para dar aulas no exterior, construindo suas vidas por meio da arte suave. Naquele momento, eu soube: também precisaria sair do Brasil para viver esse sonho. Em 2009, dei um passo decisivo: me mudei para Uberlândia para treinar com o meu professor Tiago Rocha, de quem recebi minha faixa-preta.

O que aprendeu em Uberlândia?

Com ele, aprendi muito sobre um Jiu-Jitsu técnico, e conquistei diversos títulos. Mas, principalmente, compreendi o que significa ser um profissional de verdade. Tiago sempre foi um grande exemplo dentro e fora dos tatames — nos guiava com liderança, metodologia e propósito. Aprendi com ele que o Jiu-Jitsu é uma ferramenta poderosa de desenvolvimento pessoal, e que nosso papel como professores vai muito além da técnica – nosso papel é transformar vidas. Tiago Rocha é, até hoje, um grande mentor para mim. Alguém que me aconselha, me inspira e continua contribuindo para minha evolução dentro e fora do Jiu-Jitsu.

O cinturão da PBJJF. Fotos: Divulgação

Qual foi a grande lição que o Jiu-Jitsu ensinou ao longo do seu caminho?

Aprendi muitas coisas ao longo da caminhada, mas acredito que a confiança que o Jiu-Jitsu me deu foi a principal ferramenta para que eu pudesse conquistar o sonho de viver da arte suave. Não é só técnica — é sobre como você levanta depois de cada queda, no tatame e na vida. Aprendi a ser mais paciente, mais disciplinado e, principalmente, a não desistir. Mesmo quando morei numa academia nos Estados Unidos, dormindo num colchão no chão, o Jiu-Jitsu continuava sendo meu abrigo e meu propósito. Foi essa confiança silenciosa que me manteve firme em cada etapa da jornada.

Qual foi o primeiro campeonato que marcou você?

O primeiro campeonato que eu vi foi também o primeiro de que participei — há 20 anos, na cidade de Patrocínio, MG. Eu tinha apenas uma semana de aulas. Lembro que chegamos ao ginásio e estava acontecendo um jogo de vôlei. Tivemos que esperar o jogo acabar e ainda ajudamos a montar todo o evento. O clima era de empolgação total, e quando perguntaram se eu queria competir, aceitei na hora.

E como foi sua “estreia” como competidor?

Lutei contra um atleta faixa-amarela e, mesmo com quase nenhuma técnica, ganhei na raça. Foi ali que a chama da competição acendeu dentro de mim.

Como começou sua história com a PBJJF?

Fui morar nos Estados Unidos e queria empreender no Jiu-Jitsu. Foi quando conheci o Max Gimenis, grande atleta da história da arte suave, com uma trajetória marcada por conquistas e respeito dentro do cenário mundial. Desde o início, compartilhamos a mesma visão: o Jiu-Jitsu nos Estados Unidos precisava de uma nova era, mais estruturada e com profundo respeito por atletas, professores e academias. Foi assim que nasceu a PBJJF, não apenas de um sonho, mas de uma convicção. Queríamos fazer diferente. Mais do que organizar campeonatos, queríamos elevar o padrão e criar um legado de profissionalismo.

E o pontapé inicial?

Nosso primeiro evento aconteceu dentro de uma academia, sem estrutura, sem dinheiro, sem fornecedores e sem uma equipe. Tínhamos apenas vontade, coragem e o compromisso de fazer o melhor possível com os recursos disponíveis. Foi um verdadeiro teste de resiliência. Mas mesmo naquele primeiro dia, entre erros e improvisos, sabíamos: se fôssemos consistentes, ousados, e melhorássemos um pouco a cada evento, chegaríamos longe. E assim tem sido, passo a passo, tatame por tatame, construindo uma das organizações mais respeitadas do Jiu-Jitsu mundial.

Onde você vê seus eventos daqui a dez anos?

Vejo a PBJJF realizando campeonatos em todos os continentes, com centenas de eventos por ano. Mais do que quantidade, vejo qualidade: o nosso selo sendo reconhecido como um símbolo de excelência no cenário mundial. Nosso foco não é apenas melhorar os eventos e o Jiu-Jitsu esportivo, mas qualificar todo o ecossistema da arte suave, desde gestores, professores e academias até organizadores, árbitros e staffs. O que construímos vai além de medalha e do pódio. Daqui a cinco, dez anos, vejo nossos eventos continuando a emocionar, transformar vidas, inspirar crianças e honrar o verdadeiro espírito do Jiu-Jitsu. A PBJJF será uma força global de evolução e conexão dentro da nossa comunidade.

 

Qual é o diferencial do evento de vocês para outros torneios de Jiu-Jitsu no Brasil e lá fora?

A gente não organiza lutas – a gente cria experiências. Somos uma organização que fomenta o Jiu-Jitsu globalmente, levando profissionalização, impacto e desenvolvimento para todos os envolvidos. Nosso foco vai muito além do cronograma: cuidamos do visual, da narrativa, da atmosfera do evento. Temos uma equipe comprometida, rankings que valorizam o trabalho de academias e atletas, e um cuidado especial para que todos atletas, professores e fãs do esporte vivam algo inesquecível. O nosso propósito é transformar cada evento em um momento marcante na jornada de quem ama o Jiu-Jitsu.

E qual foi o momento mais emocionante que você viveu como organizador, até agora?

Um dos momentos mais emocionantes foi parar para olhar a trajetória, ver de onde saímos e onde estamos chegando. Lembro que no começo foi muito marcante, e eu disse à nossa equipe: um dia estaremos reunidos com diretores da PBJJF de cada continente. Parecia um sonho distante, mas seguimos firmes, juntos, acreditando. Hoje, ver isso acontecendo, com reuniões internacionais, com os melhores profissionais do mercado, diretores liderando projetos em várias partes do mundo, e a PBJJF se tornando uma referência global, é emocionante demais. Não é só sobre campeonatos, é sobre visão, união e realização de um propósito coletivo.

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