O dia em que José encontrou Helio

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Morreu hoje, 18 de junho de 2010, aos 87 anos, o escritor português José Saramago, um dos últimos gênios da língua portuguesa.

Tradutor, jornalista, editor, ateu, crítico voráz da igreja católica e ganhador do prêmio Nobel de literatura em 1998, Saramago não tinha qualquer relação com o Jiu-Jitsu.

Ou tinha?

Diretamente, não, é verdade.

Mas, se examinarmos bem, podemos achar ligações.

A mais óbvia, é claro, é a escolha da terra de Saramago, Portugal, como sede do terceiro mais importante campeonato do calendário da arte suave, o Europeu de Jiu-Jitsu.

A dor da perda do seu maior escritor moderno, que hoje assola Portugal, leva a comunidade do Jiu-Jitsu a lembrar de uma outra dor, também a dor da perda de um gênio.

Foi em 29 de janeiro de 2009, quando a família da arte suave estava reunida em Lisboa, que chegou-nos a notícia do falecimento do Grande Mestre Helio Gracie.

E com certeza existem paralelos entre esses dois grandes homens do século XX.

Hélio, como Saramago, não teve acesso à educação formal.

Saramago, na literatura, revolucionou a prosa, com suas frases longas, a abolição dos parágrafos e o uso de vírgulas para separar frases, em detrimento de pontos.

Helio, no Jiu-Jitsu, revolucionou o uso do corpo, das alavancas e o aproveitamento da força do oponente para o domínio do agressor.

Tanto o intelectual luso quanto o professor brasileiro eram mestres frasistas. Dois exemplos:

“Morte? Por que medo da morte? Não preciso de nada, não tenho nada, não quero nada. Acho besteira o sujeito ter medo de morrer. Devia ter medo de nascer. O inferno é aqui mesmo.” – Helio Gracie

“Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é so um dia mais.” – José Saramago

Os dois, depois de mudar seus mundos, se recolheram. Helio foi morar em Itaipava, onde recebia visitas e de onde, volta e meia, mandava um recado ou, ainda, saia para dizer como as coisas deveriam ser feitas.

Saramago se isolou na ilha de Lanzarote, na Espanha, de onde, quando solicitado, soltava suas sentenças definitivas.

Helio, que tocou os 100 anos, e José, a beira dos 90, venceram o duelo com o significado da morte. Para os dois, o fim foi apenas mais um momento numa existência eterna.

O escritor português estará vivo, e cada vez mais presente, cada vez que um dos seus livros for aberto.

Quanto ao Grande Mestre Helio, esse está vivo em cada aluno de cada academia de Jiu-Jitsu em cada canto do mundo.

Longa vida aos mestres!

Saiba mais sobre Jose Saramago.

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