Lições de Jiu-Jitsu do professor e campeão Leo Gosling

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“Um bom treinador precisa estar sempre se atualizando, estudando e, principalmente, inspirando. Mais do que ensinar técnicas, é preciso fazer com que o aluno se apaixone pelo processo, pela competição, pelo aprendizado e pela evolução pessoal. Quando o atleta descobre o ‘porquê’ dele, tudo muda. O resto é consequência”, ensina o faixa-preta Leo Gosling.

Na entrevista a seguir, o professor recorda como a mentalidade de lutador de Jiu-Jitsu o ajudou a superar um grave acidente de trânsito. Fala também sobre a arte de transformar alunos medianos em grandes campeões, entre outros temas instigantes. Confira! Oss!

A palavra superação tem um significado especial na sua trajetória no Jiu-Jitsu, não é mesmo?
LEO GOSLING: Sim. No dia primeiro de março de 2024, um caminhão bateu na traseira do meu carro, e meu pescoço sofreu um impacto muito forte. Tive que interromper minha sequência de vitórias no Jiu-Jitsu, e isso foi um dos momentos mais difíceis da minha carreira. Na época, eu era o número 1 do ranking mundial da IBJJF, na categoria Master 2 superpesado. Mesmo assim, procurei encarar o desafio com a mesma mentalidade que aprendi no tatame: não desistir. Mantive o foco na reabilitação, seguindo o tratamento com disciplina e fé, com a mesma dedicação que sempre levei para os treinos. No dia 26 de outubro deste ano, voltei a competir e conquistei o título de campeão mundial da PBJJF. Foi uma vitória com um sabor especial, não apenas pelo título, mas pelo que ele representou: uma verdadeira superação!

Você já formou vários campeões de Jiu-Jitsu. Qual é o segredo para transformar um atleta mediano num grande vencedor?
Acredito que o segredo está em entender o lado humano do atleta, cada um tem seu tempo, seu propósito e suas dificuldades. Dentro da Gracie Barra Davie eu tive a felicidade de ver isso acontecer muitas vezes. Alunos como Troy Trocher, 12 anos, campeão Pan-Americano 2023 faixa-cinza; Gavin Flores, 12 anos, campeão no Gi Pan-Americano 2024 faixa-amarela; Camila Estrada, campeã Pan-Americana No-Gi 2005; e também meus filhos Maui e Kauai Gosling, que foram múltiplas vezes pódio no Pan-Americano, são exemplos de dedicação, disciplina e amor pelo esporte. Eu tento ensinar mais do que técnicas, tento passar valores, responsabilidade e confiança. Quando o aluno entende isso, o resultado vem naturalmente.

Quais os benefícios que um professor de Jiu-Jitsu oferece às pessoas e à comunidade onde ele atua?
Como professor e pai de três filhos, acredito que o Jiu-Jitsu vai muito além do tatame. Ele forma cidadãos melhores. Ensina respeito, disciplina, autocontrole e humildade, valores que fazem toda a diferença dentro e fora da academia. Muitos alunos chegam tímidos, inseguros ou até enfrentando problemas pessoais, e, com o tempo, o Jiu-Jitsu transforma essas pessoas. Ver jovens que poderiam estar nas ruas se tornando atletas, professores, pais de família e bons exemplos para a comunidade é o maior prêmio que um professor pode receber.

Quais foram as suas principais conquistas no Jiu-Jitsu e o que elas significam para você?
Eu destacaria a medalha de ouro no Pan e também no Norte-Americano (categoria e absoluto). Múltiplos títulos em Opens (categoria e absoluto). Agora, na PBJJF, fui campeão mundial. Cada conquista tem um significado diferente. Para mim, mais importante do que a medalha é o que ela representa: esforço, fé e constância. São resultados de uma vida inteira dedicada à arte suave e às pessoas que acreditam junto comigo nesse caminho.

Qual é o seu grande objetivo para o futuro da carreira?
Meu objetivo é continuar evoluindo, como atleta, professor e ser humano. Quero conquistar o título mundial da IBJJF na categoria e no absoluto, mas também quero formar campeões dentro e fora dos tatames. Quero que meus alunos se tornem bons exemplos, que inspirem outros e que multipliquem os valores que o Jiu-Jitsu ensina. A vitória mais importante é ver o bem que essa arte pode fazer na vida das pessoas.

Quando alguém hesita em treinar Jiu-Jitsu, o que você costuma dizer para convencer essa pessoa a vestir o kimono e começar a jornada na arte suave?
Costumo dizer que é frustrante não saber proteger a si mesmo, sua família ou alguém que você ama. Mas o Jiu-Jitsu é muito mais do que defesa pessoal. Ele traz saúde, autoconfiança, equilíbrio emocional e até novos amigos. Treinar é uma forma de se conectar com o melhor de você mesmo. E quando você se permite dar o primeiro passo, o resto é transformação.

Quem são os seus grandes ídolos no BJJ?
Renato Ferro, meu mestre desde sempre, campeão mundial na faixa-marrom e um exemplo de caráter, simplicidade e lealdade. Rafael “Gordinho”, meu amigo e mestre atual aqui nos EUA, que me inspira com sua visão moderna e humana do Jiu-Jitsu. Roger Gracie, com quem tive o privilégio de treinar desde a época da marrom e acompanhar de perto diferentes fases da sua carreira, inclusive recentemente, na Start Jiu-Jitsu, do mestre Gordinho, em Pembroke Pines. São referências que moldaram não só meu Jiu-Jitsu, mas também meu modo de viver.

Quais dicas você daria aos jovens que têm o sonho de viver do Jiu-Jitsu?
Nunca abandonem os estudos. Se for preciso, diminuam o ritmo dos treinos, mas não parem de estudar. A educação abre portas que o Jiu-Jitsu sozinho não consegue abrir. Sejam leais aos seus mestres, respeitem a hierarquia e honrem quem acredita em vocês. E lembrem-se: sucesso é consequência de dedicação, paciência e amor pelo que se faz.

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