Prates faz lembrar noites de espetáculos de McGregor e GSP em Nova York

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O Pesadelo. Foto: Instagram / Reprodução

Desde que o UFC finalmente chegou a Nova York, em 2016, o mundialmente famoso Madison Square Garden foi palco do que houve de mais empolgante nas artes marciais mistas. A comissão atlética de Nova York não permitia a realização de lutas de MMA naquele estado e foi preciso que Dana White gastasse rios de saliva e dinheiro para que, finalmente, a liberação viesse, na década passada.

Desde então, o UFC resolveu transformar a emblemática arena do New York Knicks em sua Broadway. O MSG foi palco de lutas principais tão finas e espetaculares que mereciam até um traje formal.

Foi lá que McGregor mostrou o auge de sua forma para humilhar Eddie Alvarez e conquistar seu duplo campeonato. Em uma mesma noite nova-iorquina de 2017, Rose Namajunas calou a “bully” Joanna Jędrzejczyk e Georges St-Pierre voltou da aposentadoria para finalizar Michael Bisping.

O brasileiro Alex Poatan brilhou por dois anos seguidos no Garden, nocauteando brutalmente Israel Adesanya e Jiri Prochazka para conquistar os cinturões do peso médio e do peso meio-pesado, respectivamente. Não poderia faltar o ídolo local Jon Jones esmagando Stipe Miocic em casa e comemorando com dancinha para o presidente dos Estados Unidos.

Todavia, meus amigos, não há nada que o pragmatismo daguestanês não consiga tornar chato. Na luta principal do UFC 322, no último dia 15 de novembro, Islam Makhachev subiu do peso leve para o meio-médio para disputar o cinturão de Jack Della Maddalena. Islam estava invicto havia 15 lutas, tinha limpado a divisão até 70kg e o UFC esperava que ele mantivesse a tradição de grandes feitos na “Grande Maçã”. Porém, o que se viu foi uma luta técnica e cansativa, na qual Makhachev quedou e dominou o australiano por 25 loooongos minutos.

Tudo, claro, muito técnico, preciso, justo. Cada round foi conquistado sem improvisação, afobação, surpresa ou emoção. Esportivamente, foi uma conquista importante. Como entretenimento, “teria sido melhor ver o filme do Pelé”, como dizia o meme do saudoso Chaves.

Na noite do cansativo Islam Makhachev, a alegria do povo veio pelas mãos faceiras do brasileiro Carlos “The Nightmare” Prates. O Pesadelo parece ser um homem fora de seu tempo. Na geração que se gaba da disciplina saudável, de acordar cinco da manhã para correr 10km antes do café da manhã, Prates é um bastião da vida boêmia.

Um talento fora de série que se recusa a ser privado de comemorar caindo na esbórnia, com direito a fumo e álcool. Seguindo uma longa tradição de craques festeiros do esporte como Romário e o piloto James Hunt, Carlos consegue conciliar sua vida noturna e seus “maus hábitos” com atuações impressionantes e vitórias gloriosas.

Na madrugada de 16 de novembro de 2025, Carlos entrou no octógono relaxado, sorrindo e ostentando um bigodinho canalha, no melhor estilo dos personagens de Nelson Rodrigues.

Nem parecia que ia enfrentar um ex-campeão condecorado como Leon Edwards. Logo no começo do primeiro round, Edwards tentou recorrer ao pragmatismo para quedar, amarrar e anular o brasileiro. Aquele jogo chato de grade e pressão.

Inimigo da monotonia, Prates provocava Leon a lutar e fazia expressões de deboche dos golpes que recebia. Parecia que Carlos ia picar um tabaco em pleno octógono enquanto seu oponente estava agarrado em suas costas.

No segundo round, o talento moleque de Carlos viu uma breve abertura na guarda do inglês e disparou um direto mais potente e certeiro do que um míssil teleguiado. Edwards caiu apagado com os olhos abertos e um sorriso travado no rosto.

Era o triunfo da malemolência cativante de um Vadinho sobre a eficiência chata de um Dr. Teodoro, clássicos personagens de “Dona Flor e seus dois maridos”. Em algum lugar do Céu, Jorge Amado sorri.

**** Mauro é promotor de Justiça, faixa-preta de Jiu-Jitsu e autor do livro “Sangue, suor & letras – Crônicas do MMA”.

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