
“O Jiu-Jitsu transforma e conecta, e eu me sinto abençoado por ser esse elo entre a arte suave e a comunidade”, diz o faixa-coral Denys Darzi, nosso GMI à frente da Denys Darzi BJJ, em Boca Raton, Flórida, Estados Unidos. “Para quem sonha em ser um professor relevante, mais importante que o domínio técnico ou didático, a minha dica é clara: ensine com o coração. Estude. Escute. Respeite. Individualize. E, principalmente, seja humilde. O tatame não é palco para vaidade, é altar de aprendizado.” Especializado em aulas de BJJ para crianças neurodivergentes, Darzi conversou com a equipe da GRACIEMAG e revelou dicas inspiradoras. Não pare, não retroceda, não desista. Mesmo que tudo diga para parar, mesmo que o corpo reclame, vista o kimono e treine mais um dia. A jornada é fantástica e vale a pena.” Confira a entrevista completa a seguir. Oss!
Quais os benefícios que um professor de Jiu-Jitsu oferece à comunidade onde atua?
DENYS DARZI: Ensinar Jiu-Jitsu vai muito além de quedas, finalizações ou defesa pessoal. É formar pessoas, prepará-las para enfrentar a vida com confiança e determinação. É construir pontes e oferecer um caminho baseado em disciplina e autoconhecimento. Ao fazermos bem esse trabalho, contribuímos para que crianças, jovens e adultos enfrentem melhor os desafios e vivam com mais plenitude. Aqui, no sul da Flórida, Estados Unidos, onde há tanta diversidade cultural e social, meu objetivo é criar um ambiente seguro e acolhedor, onde os alunos aprendam técnicas eficazes e desenvolvam valores como disciplina, respeito, autocontrole, autoconfiança e foco. Adultos recuperam a saúde e a autoestima, criam laços de amizade, e todos aprendem o valor da superação. O Jiu-Jitsu transforma e conecta, e eu me sinto abençoado por ser esse elo entre a arte suave e a comunidade.
Um dos destaques da sua academia é o trabalho excepcional com crianças neurodivergentes. Como você se especializou nesse tipo de trabalho?
Esse trabalho nasceu da observação e da escuta. Percebi que algumas crianças não se adaptavam aos modelos tradicionais de aula. Comecei a observar mais de perto, estudar e me aproximar de profissionais da área da saúde (terapeutas, fonoaudiólogas) para compreender melhor esse universo. Adaptei meu método, respeitando os ritmos, o tempo e os limites de cada um. O resultado é impressionante: o Jiu-Jitsu contribui para o foco, a coordenação motora, a comunicação, a socialização e, principalmente, para a autoestima. Muitas dessas crianças encontram no tatame um lugar onde são aceitas e valorizadas. Procuramos entender suas necessidades e ajustamos a abordagem para atender cada uma de forma única.

Outro destaque da sua escola é o curso de defesa pessoal. A que você atribui tanto sucesso nesse segmento?
Eu não consigo imaginar o BJJ sem a defesa pessoal. Essa é a essência da nossa arte. Muitas academias e professores acabam focando apenas em competição, que é algo completamente diferente. A defesa pessoal precisa ser realista, simples e aplicável. A maioria das pessoas não quer se tornar lutadora, apenas deseja se sentir segura, e é isso que entregamos aqui na academia. Meu curso é adaptado para todas as idades: crianças, mulheres, adultos e idosos. O foco está sempre na prevenção, em capacitar cada aluno com técnicas condizentes com sua realidade. E, mais importante ainda, em despertar o “brain response” certo diante de uma situação de risco. Ensinamos que a melhor luta é aquela que conseguimos evitar, mas, se for inevitável, que estejamos prontos para agir com segurança. O sucesso desse trabalho vem do respeito, do cuidado com cada aluno e do comprometimento com que visto meu kimono todos os dias.

Em relação ao Jiu-Jitsu de competição, qual é o segredo para transformar um atleta mediano em um grande campeão?
Com muitos anos de estrada, posso afirmar que três pilares são fundamentais: consistência, disciplina e mentalidade. Muita gente foca no talento, mas o verdadeiro diferencial está na mente. Um atleta mediano se torna campeão quando aprende a perder, a se levantar e a seguir em frente. Eu trabalho o lado emocional com o mesmo empenho que dedico à técnica. Ajudo meus alunos a entenderem que a maior luta é contra os próprios medos, contra a preguiça e o desânimo. Quando vencem essa batalha interna, o resultado no pódio é apenas consequência.
Como você se define como professor de Jiu-Jitsu? Qual é a filosofia por trás da sua escola?
Sou, acima de tudo, um educador. Uso o Jiu-Jitsu como ferramenta de transformação. A filosofia da minha escola se baseia em acolhimento, respeito, inclusão e propósito. Aqui, todos são bem-vindos, do competidor ao aluno com necessidades especiais, do iniciante ao idoso, homens e mulheres.

Quando alguém hesita em treinar Jiu-Jitsu, o que você costuma dizer para incentivar essa pessoa a vestir o kimono e começar a jornada na arte suave?
Academias de arte marcial podem parecer intimidadoras para muita gente. Dar o primeiro passo, cruzar a porta, não é fácil. Por isso, sempre digo ao novo aluno: “Você não precisa estar pronto. Precisa apenas começar.” Aqui, ninguém inicia lutando. Os alunos têm, em média, dois meses de adaptação, com uma atenção quase individual mesmo nas aulas em grupo. Nesse período, eles aprendem os fundamentos básicos, ganham confiança e se sentem preparados para seguir. Ninguém começa sabendo aplicar armlocks voadores. O Jiu-Jitsu não exige perfeição, ele constrói. No tatame, todos começam do zero. Vista o kimono e permita-se. A transformação acontece passo a passo.
Quem é o seu grande ídolo na carreira, aquela pessoa que serve como guia nas suas decisões mais importantes?
Tenho profunda admiração por Carlos e Hélio Gracie, pelo legado que deixaram e pelas oportunidades que criaram para tantos brasileiros mundo afora. Eles tiveram coragem de romper padrões e não desistiram. Também tenho grande respeito e admiração pelo meu Mestre, Francisco Mansor, por todos os ensinamentos que recebi e pela incrível família que construiu nos tatames, um espaço onde tenho amigos de uma vida inteira. Mas, acima de tudo, meu maior guia é a consciência de que meus filhos e meus alunos me observam. Minhas decisões precisam honrar essa responsabilidade. Não tomo decisões pensando só em mim, mas no exemplo que deixo.
Quais são suas metas para o futuro?
Quero expandir meu trabalho com crianças neurodivergentes, abrir mais turmas para idosos e, quem sabe, escrever um livro. Um livro que mostre como sair da zona de conforto, como transformar quedas e derrotas em aprendizado, e como, com um bom mestre e a fé em Deus, é possível superar os próprios limites. Meu maior sonho é que meus filhos, netos e alunos levem adiante os valores que transmiti em cada aula. Legado é isso: fazer a diferença mesmo quando já não estivermos mais aqui.
