
Poatan com o cinturão do UFC. Foto de Marcelo Woo/ GRACIEMAG
No fatídico dia 9 de março de 2025, o universo do MMA foi terrivelmente desalinhado. Os Deuses da Luta se regozijam com grandes nocautes, finalizações emocionantes, batalhas acirradas. No momento em que seu atual filho favorito, Alex “Poatan” Pereira, foi destronado em uma luta atípica, tudo saiu do eixo.
Desde que ascendera no MMA, Poatan sempre entregara grandes combates, muitas vezes coroados com nocautes avassaladores. O guerreiro brasileiro não cansava de maravilhar a todos, ganhando quatro disputas de cinturão em menos de um ano e conquistando uma legião de fãs no mundo inteiro.
Estava programado que Alex seria o primeiro lutador brasileiro a fazer a luta principal de um UFC numerado de 2025. Um desígnio inusitado determinou que Renato Moicano substituísse o lesionado Tsarukyan na luta contra Islam Makhachev no UFC 311, na véspera do evento, mas um revés nessas condições era aceitável. Os olhos do universo estavam mesmo voltados para o UFC 313.
Perder para o duro Magomed Ankalaev era visto como um resultado possível. Muitos consideravam que o wrestling do russo poderia ser o antídoto às mãos de pedra do brasileiro.
Todavia, ver Poatan perder o cinturão em uma luta morna, na qual esteve apático e não conseguiu soltar seu jogo devastador (mesmo a luta tendo se desenvolvido inteiramente em pé), era algo completamente antinatural. Uma ocorrência cataclísmica, no nível do “Flahspoint” dos quadrinhos da DC Comics ou do “Efeito Borboleta” do filme estrelado por Ashton Kutcher.
O “cara de coruja” Ankalaev, tal qual o corvo do conto de Edgar Alan Poe, lançou sua asa negra sobre o MMA brasileiro, afundando nossos lutadores em um abismo de depressão e imprevisibilidade.
Os então invictos Fighting Nerds foram todos superados, o favoritíssimo Talisson Teixeira foi nocauteado por Derrick Lewis, Charles do Bronx foi apagado pela primeira vez no octógono. Nossa única vitória em eventos principais veio pelas mãos de Johnny Walker, em uma situação na qual era um completo azarão. Algo precisava ser feito ou, melhor, desfeito!
No UFC 320, coube ao próprio Poatan devolver o mundo à ordem natural, antes que os porcos começassem a voar ou os postes urinassem nos cachorros. Na madrugada de 05 de maio, Alex veio determinado a corrigir erros e provar porque deveria voltar a ser temido como o striker mais letal do MMA. Logo que soou o gongo, o brasileiro partiu para cima do russo com uma estratégia completamente diferente. Chutou a perna do oponente por dentro, ao invés dos chutes por fora que se mostraram ineficientes na primeira luta. Abafou o oponente para impedir que ele avançasse com espaço para tentar quedas. Entendendo que seu famoso cruzado de esquerda não havia acertado o alvo do rival canhoto no embate anterior, disparou um brutal overhand de direita que atordoou Ankalaev.
Daí se seguiram marretadas no solo até o juiz determinar a vitória por nocaute técnico. Tudo isso em meros 80 segundos de luta.
Com o nocaute histórico e a retomada do cinturão por Poatan, os Deuses da Luta estão novamente satisfeitos. Tudo agora deve voltar ao normal.
É a vez de Ankalaev e de todos os afobados detratores de Poatan escutarem o angustiante lamento do corvo de Poe, ressoando em seus ouvidos: “nunca mais”.
*** Mauro Ellovitch é promotor de Justiça, faixa-preta de Jiu-Jitsu e autor do livro “Sangue, Suor & Letras – Crônicas do MMA”
