Rousimar Toquinho, um anjo ou um demônio no Jiu-Jitsu?

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Rousimar Toquinho, ex-atleta do UFC, durante a pesagem. Foto: Carlos Arthur/GRACIEMAG

Nas últimas semanas, o faixa-preta de Jiu-Jitsu Rousimar “Toquinho” Palhares foi transformado no Anticristo do MMA. Justo ele que, como bom mineiro de Dores do Indaiá, é um católico fervoroso. Depois de segurar uma justa chave de calcanhar, mesmo após seu adversário Mike Pierce ter sinalizado a desistência, Toquinho foi banido do UFC por Dana White. O ex-patrão fez questão de demonizar o brasileiro, taxando-o de antiético, maldoso e perigoso.

A partir daí, Rousimar ficou relegado ao sétimo círculo do inferno, não sendo contratado pelos concorrentes Bellator e WSOF e chegando a ser desconvidado do torneio ADCC, no qual brilhara em 2011. Fica a pergunta: Toquinho é realmente esse capeta maldoso e merece os tormentos a que está submetido?

Acredito que não.

Apesar de eu ser um intenso defensor de que esportes, em especial as artes marciais, devam se pautar por honra e valores mais elevados do que o mero interesse financeiro, não vejo o comportamento do mineiro como uma tentativa antidesportiva de lesionar Pierce.

Não vou apelar aqui para o lugar comum de dizer que Toquinho é “da roça” e que, por isso, não teria maldade. Não comungo da teoria do “bom selvagem” ou da crença dos filósofos JJ Rousseau e John Locke de que o homem é naturalmente bom quando não corrompido pelo convívio em sociedade. Já vi as maiores barbaridades serem cometidas em comunidades rurais.

Se tivesse de escolher, me filiaria à posição de Thomas Hobbes e diria que o ser humano é naturalmente cruel – “o homem é o lobo do homem” – e só se contém pela necessidade de socializar. Por isso mesmo, defendo Rousimar. Não por ele ser naturalmente “bonzinho”, mas porque conheço onde e como ele aprendeu a conviver com a comunidade das lutas.

Tive a honra de treinar alguns anos no dojô onde Toquinho aprendeu Jiu-Jitsu. Trata-se da academia Pantera Negra, do professor Iran Brasileiro, em Divinópolis, interior de Minas Gerais. Dojô no verdadeiro mérito do conceito. Na estrutura anexa à sua residência, vi Iran, com a simplicidade das alterosas terras mineiras, transmitir valores de respeito e hombridade a alunos de todas as idades e condições sociais. É difícil acreditar que um atleta que tenha sua formação ética sobre uma base tão sólida, lutaria de maneira suja e desleal.

Vendo e revendo a peleja contra Pierce, percebo um excesso de ímpeto de Toquinho em garantir a vitória, esperando uma declaração inequívoca e irrevogável de que a luta havia acabado. Reparem, Toquinho ajusta a chave de calcanhar, o adversário dá o sinal de desistência diversas vezes e o atônito árbitro ainda hesita alguns segundos até interromper o martírio. Nesses intermináveis segundos (e, acreditem, para o infeliz Pierce deve ter parecido um século), Rousimar mantém o golpe. Se ele tivesse mesmo a maldade de lesionar, com sua força e técnica, teria praticamente arrancado a perna do americano. Na realidade, o resultado foi pouco mais do que uma dolorosa torção.

Isso faz a atitude de Toquinho ser correta? Claro que não. Ainda mais se considerarmos seu histórico de outras suspensões no UFC. Acho que ele merecia mesmo uma punição. Mas lançá-lo ao lago de fogo eterno, como no apocalipse bíblico, me parece um tanto exagerado. Nem anjo, nem demônio, Rousimar “Toquinho” Palhares merece outra chance de redenção no MMA.

E você, o que pensa?

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