Gabi Garcia em exclusiva: “Eu não seria burra de tomar isso e jogar meu nome no lixo”

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Gabi Garcia entre uma turma de fãs: "Alcancei o mais importante: provar minha inocência para a minha família, para os meus fãs e para meu mestre". Foto: DIvulgação

Gabi Garcia entre jovens alunas: “Alcancei o mais importante: provar minha inocência para a minha família, para os meus fãs e para meu mestre”. Foto: DIvulgação

Na primeira ligação de GRACIEMAG, a faixa-preta Gabrielle Garcia, 28 anos (quase 20 de luta), não pôde nos atender: estava fazendo uma nova tatuagem, pagando uma espécie de promessa após oito meses de um vendaval jurídico.

Em junho, a peso pesado recebeu, da Agência Anti-Doping dos Estados Unidos (USADA), uma notificação de que uma substância ilícita, o clomifeno, constara em seus exames no Mundial de Jiu-Jitsu de 2013. A atleta mandou todos os remédios e suplementos que tomara para novas análises em laboratórios, procurou os maiores especialistas em antidoping no Brasil, contratou bons advogados e, hoje, passou a respirar aliviada.

Em nosso segundo telefonema, Gabi atendeu e contou o que passou, do Mundial até agora, fim de março. Ela queria apenas se concentrar na estreia no MMA, modalidade em que deve debutar em agosto, no Brasil ou no Japão. Em vez disso, ficou deprimida, sem dormir e pensou em largar o esporte. “Foi quando um anjo apareceu na minha vida, um especialista em antidoping no Brasil. Através dele contratei os melhores advogados nessa área, tirei do bolso o que eu nem tinha e agora fui inocentada: recebi da USADA a carta atestando que tomei um medicamento contaminado, e que eu não tive culpa alguma. Nem advertência eu tomei, e o caso nem foi para a corte. Eu não seria burra de tomar isso e jogar meu nome no lixo”.

Hoje, a lutadora da Alliance parece com vontade renovada: “Se eu pensava em deixar o Jiu-Jitsu, agora tudo mudou. Quero lutar MMA e Jiu-Jitsu juntos, e pelo menos nos próximos cinco Mundiais vou estar lá para tentar ganhar tudo de novo”.

Confira a entrevista completa com a campeã, e confira o que ela aprendeu com o vendaval, e com as pedradas que levou.

GRACIEMAG: O resultado do exame chegou para você em junho e foi detectada essa substância, certo? Oito meses depois, a sua inocência ficou provada? Você não teve culpa na ingestão do tal clomifeno, foi isso?

GABI GARCIA: Exato. O que há é que tenho um problema hereditário no útero, coisa que minha mãe também tem, e tomei um remédio, uma pequena pílula para isso. Conseguimos provar que esse medicamento estava contaminado com aquela substância, o clomifeno. No exame apareceu 0,2 mg disso. Após um processo caríssimo, em que gastei quase o preço de um apartamento, provei que não tive culpa nenhuma. Se essa substância servisse para melhorar o desempenho de mulheres, ou servisse para mascarar alguma coisa, ficaria difícil provar minha inocência, mas não é o caso. Fiquei deprimida e sem dormir por meses, mas consegui provar, com muito custo e em francos suíços!, que sou inocente. Não fui sequer advertida pela USADA, o que é raro. Em outros esportes olímpicos, meus advogados só viram isso acontecer outra vez, com um atleta alemão. No fim foi uma luta, mais uma fase, e um aprendizado.

E também não teve suspensão. Mas as medalhas serão perdidas?

Mesmo que não haja dolo ou intenção do atleta, a presença de qualquer substância invalida o título. Mas, no fim do julgamento, não ganhei nem uma advertência da USADA. A coisa não avançou, o caso nem foi para a corte. Recebi uma carta dos meus advogados dizendo que eu estou totalmente absolvida. Quando há a leve suspeita de doping, há um gancho, suspensão, como o Brasil viu em diversos casos, como o nadador Cesar Cielo e outros que continuam aí. Foi então mais uma vitória sofrida na minha vida, entre tantas outras.

Gabi Garcia durante o Mundial de 2013. Foto: Dan Rod

Gabi Garcia durante o Mundial 2013: a atleta deve fazer sua estreia no MMA em agosto, no Brasil ou no Japão. Foto: Dan Rod

O que aprendeu com este vendaval de suspeitas?

O Jiu-Jitsu nos ensina que se hoje a gente perde, amanhã a gente vence. Conquistei tudo com muito sacrifício. As pessoas precisam parar de pré-julgar os outros e condenar quem quer que seja por preconceito. Sou uma lutadora grande, mas não tenho culpa disso. Como eu gostaria de ter 60kg, para poder lutar no UFC hoje! Fui uma gordinha que sofria bullying na escola, e construí minha carreira graças ao Jiu-Jitsu. O Jiu-Jitsu feminino ganhou muito mais atenção depois que apareci, pois a torcida quer ver quem pode me vencer, e como. Sou alta, mas não é por isso que venço campeonatos. Venço porque treino machucada, cruzo a cidade para treinar. Decidi largar emprego e faculdade para viver do Jiu-Jitsu. Sabia que viria pedrada, mas hoje sou uma lutadora que vive só do Jiu-Jitsu, e sou bem-sucedida. Eu nunca faria nada para arruinar minha fama. Não quero que tenham pena, só quero que sejam justos e respeitosos comigo. Meu nome é tudo que tenho. Não vou medir esforços para manter meu nome limpo.

Sua imagem de atleta agora é o mais importante. Quando essa novela acaba de vez?

Com a USADA já está tudo resolvido, fui 100% absolvida e já está tudo certo. Mas vou seguir lutando pela minha imagem em outras instâncias. Vou deixar tudo esclarecido agora, inclusive na justiça. Tudo tem de ficar mais claro para nós lutadores, e quero batalhar pelo profissionalismo para que isso não ocorra de novo, comigo ou outros atletas. Vou levar meu caso de sucesso adiante para lutar pelos meus direitos como atleta. Fomos mal instruídos. Como no site da USADA ainda não constava o Jiu-Jitsu, os atletas ficaram sem respaldo nesses primeiros exames.

O que poucos sabem é que seu professor, Fabio Gurgel, é um dos caras no Jiu-Jitsu que mais condena o uso de qualquer anabolizante, certo?

O Fabio sempre nos disse, na academia, que quem fosse pego por substâncias ilícitas nos exames nem precisaria se preocupar com a punição oficial, porque a dele seria pelo menos três vezes maior. Eu então alcancei o mais importante: provar minha inocência para a minha família, para os meus fãs e para meu mestre. Eu não poderia nem olhar para a cara do Fabio se tivesse feito algo errado Eu precisava provar para ele que eu não era aquilo que todos estavam me apontando. E ele entendeu e se pôs do meu lado.

Qual é o seu sentimento ao perder o ouro absoluto de 2013?

Tranquilo, não me abate. Se eu pensava em deixar o Jiu-Jitsu, agora tudo mudou. Quero lutar MMA e Jiu-Jitsu juntos, e pelo menos nos próximos cinco Mundiais vou estar lá para tentar ganhar tudo. O mais complicado foi lutar o ADCC na China com a cabeça ruim, pois o processo estava rolando, mas venci lá também. Agora a minha ideia é lutar de pano e nos ringues também. Estou amando os treinos de MMA.

Quem fica com a medalha que era sua?

A medalha deve ficar vaga, porque quem ficou como vice não foi testada. Mas minha preocupação é outra, é em relação aos fãs que me seguem todos os dias, que se inspiram e me mandam mensagens que perderam dezenas de quilos porque começaram a treinar. E houve um lado legal nisso tudo: recebi centenas de mensagens de carinho de muitos astros do Jiu-Jitsu e do MMA, companheiros da Atos, Gracie Barra, Lloyd Irvin, de todas as academias. Isso eu não esperava e me deixou realmente emocionada e feliz.

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