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Barcelona, NFL, UFC: o que há por trás das viradas históricas no esporte?

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Anderson Silva, autor da finalização do ano de 2010, contra Chael Sonnen. Foto: UFC.

Anderson Silva precisou virar luta épica em 2010, contra o falastrão Chael Sonnen. Foto: UFC

(Por Jiuliano Leon*)

Depois do Super Bowl e da bizarrice vista na cerimônia do Oscar, e agora com o Barcelona, o ano de 2017 está ficando marcado por viradas históricas, memoráveis.

No sábado passado, no UFC 209, o MMA também colheu alguns resultados que surpreenderam e mexeram com os torcedores, pela improbabilidade do feito. Em especial, como o leitor do GRACIEMAG.com já leu aqui, a finalização improvável de Iuri Marajó depois de um calor do americano Luke Sanders, que por sinal estava invicto com 11 lutas. Houve outra virada na mesma noite, quando Darren Elkins nocauteou Mirsad Bektic no fim do combate em Nevada.

Mas quais são os ingredientes que possibilitam viradas esportivas como essas? O primeiro ponto, que acredito ser a base de uma vitória improvável, é a resistência mental. Trata-se de um aspecto encontrado não somente no MMA ou no Jiu-Jitsu, mas em qualquer esporte.

O vôlei, o basquete, o tênis, o judô e o automobilismo são marcados por feitos similares, levados a cabo pelas mãos e pés de grandes gênios da tal resistência mental – casos de Pete Sampras, Michael Jordan, Ayrton Senna e tantos exemplos. Resistir mentalmente durante uma prova esportiva ou um desafio qualquer requer uma habilidade ímpar de lidar bem com a frustração. Foi o que Neymar mostrou no jogo com o PSG, ao jamais aceitar a derrota.

Cada competidor tem uma tática. Ele tenta implementá-la durante o primeiro tempo de uma partida, ou durante o round, e muitas vezes esbarra na atuação sem falhas do oponente. Uns se frustram, se cansam, desistem, esquecem os planos iniciais, e acabam por falhar. Outros persistem e são recompensados no finzinho, quando a plateia já não acredita mais. Caso de Anderson Silva contra Chael Sonnen em 2010, no UFC 117, e de tantas lutas nos Mundiais de Jiu-Jitsu desde 1996.

Vira um jogo ou uma luta normalmente o competidor que mantém o mesmo foco sem vacilar, que confia em si e no seu jogo e que não se frustra – seja a disputa uma corrida de 80 voltas, um jogo de cinco sets ou uma partida de três horas. Mas, claro, há uma grande diferença do MMA para outras modalidades.

A grande diferença é que, no UFC, o fato de perder alguns míseros segundos de concentração durante a luta resulta num prejuízo e tanto: um corte, uma queda desmoralizante, uma finalização ou um nocaute avassalador no queixo.

Há, no MMA, outro aspecto interessante: a necessidade de se manter a concentração após uma exibição tranquila nos dois primeiros assaltos. É o que poderíamos chamar de “a síndrome do terceiro round”, que vemos muito no vôlei também, quando um time vence por 2 sets a 0 e relaxa excessivamente. No Brasil, os fãs e telespectadores adoram a expressão “amarelar”, mas o processo é bem mais complexo. Há seguramente um relaxamento natural após dois sets ou dois rounds vencidos facilmente – ainda mais quando o estresse pré-jogo ou pré-luta é quase transbordante. Os competidores tendem a se acalmar, a adrenalina baixa, mas isso pode levá-los a ficar manso demais.

Eis então os ingredientes principais de uma grande virada: o relaxamento natural do atleta que vinha melhor, somado a uma queda na resistência mental deste e um pequeno revés, somado a um adversário frio. Ponha tudo isso num caldeirão e bum, temos a receita perfeita para uma virada épica.

Seja como for, a cada grande reviravolta fica claro que os resultados improváveis são próprios do ser humano, e nos inspiram no dia a dia para lutarmos por glórias aparentemente inalcançáveis.

No fundo mesmo, é preciso ter raça, sorte, queixo duro, um bom Jiu-Jitsu e contar com o famoso imponderável, aquela entidade que nos faz cada vez mais apaixonados pelo mundo dos esportes.

 

* Jiuliano Leon é faixa-preta de judô e Jiu-Jitsu, e ensina na AABB Lagoa, no Rio de Janeiro.

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