
“Confie no processo. Encontre um propósito. Para realizar o sonho, você precisa suportar os desafios constantes do processo. Muitas vezes as coisas dão errado agora para dar certo depois, porém nem sempre conseguimos enxergar essa lógica. É algo invisível, por isso é importante ter fé”, ensina o professor Neto Claudino, nosso GMI em Sorriso, no Mato Grosso.
Na entrevista a seguir, Claudino falou sobre os segredos do ensino eficiente do Jiu-Jitsu, revelou as lições que aprendeu ao longo de sua trajetória nos campeonatos da arte suave e ainda faz previsões sobre o futuro de sua carreira. “Formar grandes campeões me parece tão importante quanto ter uma rede de alunos e amigos unidos e prosperando.”
Você costuma dizer que dar aulas de Jiu-Jitsu é o seu grande talento e propósito de vida, certo? Quais os benefícios que um professor de Jiu-Jitsu oferece à comunidade onde ele atua?
NETO CLAUDINO: Ensinar Jiu-Jitsu é um dom, algo que fazemos por amor ao esporte e à comunidade onde atuamos, com um objetivo maior. Vai muito além de ensinar técnicas de eficiência. Esse “algo a mais” está ligado a questões comportamentais e conexões pessoais, como oferecer um ambiente acolhedor e seguro para que os alunos se coloquem em situações de desafio e aprendizagem, e assim se desenvolvam no esporte e na vida. Professores de Jiu-Jitsu também se preocupam em melhorar a autoestima dos alunos, mostrando que eles, com força e determinação, são capazes de se superarem. Isso fortalece muito o laço de confiança entre professor e alunos. Quando somos líderes de equipe vejo que somos uma referência e isso é uma enorme responsabilidade. Outros benefícios que levamos e percebo muito em alunos iniciantes é a melhoria de hábitos saudáveis, a prática de atividade física, a reeducação alimentar. Entendo que a prática do BJJ é a busca por um equilíbrio entre corpo e mente. Você cansa o corpo e descansa a mente em um treino, melhorando aspectos que nos consomem em nossas atribuladas rotinas, como o stress.

Além de professor, você tem uma carreira vitoriosa como competidor. Quais foram as suas principais conquistas e o que você aprendeu com elas?
Em 2022, ainda como faixa-roxa, consegui minha primeira medalha de ouro na IBJJF, no Curitiba Open, e isso me fez sonhar mais alto. Conquistei no mesmo ano títulos como o ouro no Floripa Open, no AJP São José dos Pinhais, no South America da Uaejjf, em Balneário Camboriú. Também lutei o International South América da IBJJF no Rio de Janeiro e fui terceiro colocado, fechando o ano com nova graduação, a faixa-marrom, e a estreia no mundial CBJJE, ficando em segundo lugar. Em 2025, realizei uma temporada ainda mais intensa e obtive um dos títulos mais importantes da carreira, meu segundo lugar no Brasileiro da CBJJ e terceiro lugar no absoluto do mesmo evento. Ao todo em minha trajetória conto com mais de 70 títulos conquistados e a principal lição disso tudo: o resultado de uma competição não é o objetivo final, é apenas para nos mostrar que estamos na direção correta da evolução como atleta e também como pessoas, pois evoluímos na vida e no esporte, é isso que nos faz querer melhorar os pequenos detalhes e tornar pequenas ações em hábitos para continuarmos na caminhada. E muitas vezes as derrotas nos ensinam mais que uma vitória, pois a derrota nos faz refletir mais profundamente sobre os erros cometidos e o que nos levou a ser derrotados, buscando nossa evolução para melhorar nossas falhas.

Voltando ao trabalho à frente do dojô da Checkmat Sorriso, em Mato Grosso, qual é o segredo para transformar um atleta mediano num grande campeão?
É preciso ensinar sobre mentalidade vencedora. Costumo falar: mente blindada, time! Deixar o atleta com plena convicção de sua capacidade, que ele entenda que fez todo o seu possível para estar na sua melhor forma. Entender que nas lutas mais difíceis é que se forma um campeão. Precisa ter o coração na luta, somente a técnica não é suficiente. Ensino que a técnica supera a força mas que o coração supera a técnica. E que um atleta que desenvolve sua força, aprimora sua técnica e tem o coração no que faz, torna-se completo porque a luta não é apenas com o corpo, mas com a alma. É esse equilíbrio que transforma um praticante mediano num verdadeiro campeão. Acredito ser esse o segredo.
Você está sempre treinando com ótima performance contra a garotada da sua equipe. Quais são os macetes para os atletas da divisão Master fazerem bonito contra os atletas adultos?
Acredito ser o ajuste fino, enquanto atletas adultos têm mais disposição, uma recuperação mais rápida, mais explosão e velocidade, os másteres precisam ficar ligados nos ajustes finos, na cereja do bolo. Valorizar muito posições de vantagem, desde uma pegada mais eficiente ou uma estratégia mais ousada, isso que é a magia do esporte. Porém, entre um rola e outro, o tempo de recuperação de um master é diferente de um adulto.
Quais as dicas que você costuma dar a quem tem o sonho de se tornar um professor relevante?
Para ser um bom professor precisamos ter um comportamento de líder, mostrar a direção e ser parte importante da engrenagem, que é o aprendizado e o desenvolvimento do aluno. O bom professor nunca para de aprender, ele se mantém estudando e aprimorando suas formas de ensinar. O ponto-chave, no entanto, é outro: aprender a ensinar a cada aluno de forma personalizada. Tem aluno que aprende mais repetindo, tem aluno que aprende mais escutando e tem aluno que aprende mais vendo, então precisamos explorar as diversas formas de ensino e identificar a forma de aprendizado adequada a cada aluno.

Você também tem experiência como árbitro de competições de Jiu-Jitsu. Quais são os benefícios que isso oferece à sua carreira de uma maneira geral?
A arbitragem foi sempre algo que admirei no esporte, mas por muito tempo parecia muito distante, agora já é uma realidade da minha rotina, conhecer a regra do Jiu-Jitsu é algo que como competidor todos conhecemos, porém interpretar uma luta e saber pontuar e conduzir a regra de maneira justa e equilibrada é algo que desenvolvemos quando começamos a arbitrar. Percebi que minhas estratégias de lutas podem ser melhores entendendo a visão do árbitro. Hoje me sinto um lutador mais completo depois que virei árbitro. E outro ponto importante: percebi que em minhas aulas hoje eu ensino muito sobre erros básicos que vemos os atletas iniciantes cometerem nas lutas, detalhes simples de corrigir mas que muitos só vão se dar conta após anos cometendo esses erros, então após a arbitragem melhorei também como professor.
Qual é o seu grande objetivo para o futuro da carreira?
Sempre me dediquei ao máximo e com amor ao Jiu-Jitsu. Naturalmente muitas portas foram se abrindo e fui conquistando meu espaço. Construí muitas amizades, laços muito fortes, conquistei respeito e seriedade em minha carreira. Mas após me tornar professor eu tenho percebido que quando um aluno meu ganha uma luta e se supera num campeonato, eu tenho a mesma sensação de dever cumprido de quando eu mesmo luto e venço, é tão gratificante quanto. Quero formar um faixa-preta campeão mundial. Formar meu filho e minha filha faixas-pretas e campeões mundiais. Ser campeão mundial na faixa preta. Mas isso é tão importante quanto ter uma rede de alunos e amigos unidos e prosperando.
