Jiu-Jitsu se despede de grande mestre Robson Gracie

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Grande mestre Robson Gracie durante homenagem no Rio. Foto: Carlos Arthur Jr.

“Se eu cair duro na rua amanhã e for levado para o Instituto Médico Legal, o legista vai ter uma surpresa muito grande. Gente, o cadáver sorria!”, disparou certa vez o grande mestre Robson Gracie, cheio de sabedoria. “Eu morreria satisfeito, feliz da vida por tudo que vi e vivi.”

Nesta sexta-feira, 28 de abril, o faixa-vermelha cumpriu sua missão e morreu, deixando a família Gracie consternada. O patriarca havia sido internado e faleceu após uma disfunção no coração.

Nascido em 16 de janeiro de 1935, Carlos Robson Gracie foi o segundo filho de grande mestre Carlos. Foi um espevitado garoto que escalava as cortinas da casa dos Gracie, para desespero do tio Helio, considerado seu segundo pai. Sinônimo de bravura nos ringues, como professor tampouco media esforços para fazer as crianças aprenderem a essência do Jiu-Jitsu. “Bastou apenas uma aula básica de defesa de tapa na cara com Robson”, conta o sobrinho Marco Gracie Imperial, “e nunca mais tomei um tapa na vida. Um dos grandes professores da família, suas lições eram inesquecíveis.”

A estreia de Robson Gracie no vale-tudo deu-se em abril de 1957, contra Artur Emídio, com vitória fulminante por finalização. Ele enfrentou ainda Valdo Santana, irmão mais leve de Valdemar Santana – notório arquirrival de seu tio Helio e de seu irmão Carlson.

A notoriedade como especialista em Jiu-Jitsu o levou, na década de 1960, a ser contratado como guarda-costas do governador Leonel Brizola. Tornou-se presidente da FJJ-Rio, a federação de Jiu-Jitsu do Rio, na década de 1980.

Em 1999, o faixa-vermelha resgatou o velho programa de TV “Heróis do Ringue”, de 1959, e passou a comandá-lo no canal CNT. Como apresentador, popularizou diversos bordões, como o famoso “Quem tem garrafas para vender?”.

Outras frases do mestre ficaram eternas, como:

“Quando chegava um valente na academia duvidando do Jiu-Jitsu, o professor pedia que o visitante escolhesse um de seus instrutores para se testar. Como eu era um galinho, o menor de todos, sobrava para mim sempre.”

“Fui preso pela ditadura militar, amarrado em casa com a faixa-amarela do meu filho Renzo. Fui torturado, e vi coisas impensáveis. Ali dentro, ninguém respeitava autoridade, vi general tomando tapa de sargento. Helio Gracie foi quem interveio, com Figueiredo e o general Sylvio Frota, e me salvou. Me largaram numa estrada. Dos 50 que estavam presos comigo, 49 morreram. Só Robson Gracie saiu vivo.”

“Uma pegada no kimono ou um estrangulamento tem um poder extrassensorial tão grande que até um senhor magrinho consegue fazer. Não importa se o oponente for mais forte, vai funcionar.”

“O Jiu-Jitsu faz do covarde um valente e transforma o fracassado. Certa vez encontrei um velho amigo, e ele me disse que eu era responsável pela vida dele: após tantos sufocos no treino, ele acabou sufocado pela vida e pensou em se matar. Então lembrou-se das lições do Jiu-Jitsu, manteve a calma e se ergueu novamente.”

“Não fossem os milhares de seguidores de Carlos e Helio Gracie, nossa família e nossa arte seriam uma lenda hoje, uma lenda como o boitatá, as sereias da Amazônia e aquela ferrovia norte-sul.”

Vá em paz, grande mestre Robson.

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