Por que o Jiu-Jitsu é perfeito para pais e filhas, por Ricardo Zanelato

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[  Por: Ricardo Zanelato * ]

Um episódio curioso aconteceu comigo enquanto eu ensinava Jiu-Jitsu nos Estados Unidos, em 2008, e me fez ver com mais clareza os benefícios de atrairmos os pais para treinarem juntos com seus filhos ou filhas.

Eu estava dando aulas na Lotus Jiu-Jitsu no Arizona, nos EUA, durante o horário infantil. A turma era muito boa, tanto que naquele ano venceríamos um dos campeonatos organizados pelo professor Gustavo Dantas. Havia dois irmãos que lutavam muito bem, de 8 e 6 anos, e que normalmente eram dominantes em seus combates. Pois lá estava eu, durante a aula, e por acaso os dois garotos estavam por baixo, em seus respectivos treinos, tomando um calor no cem-quilos. Apesar do sufoco por baixo, estavam procurando repor a guarda como sabiam fazer.

Do nada, sem que eu esperasse, olho para o lado e está o pai das ferinhas, de dedo em riste e disparando um arsenal de xingamentos para mim, com os mais cabeludos palavrões. O pai, desarvorado, estava me culpando por ver seus dois garotos levando a pior naquele momento da luta.

Com serenidade, logo percebi que tinha alguma coisa errada com aquela reação. Eu entendi na hora que, naquele ano de crise de 2008, o homem só podia estar passando por problemas financeiros, e não conseguiu conter a explosão, mesmo diante de outros pais, mesmo diante dos filhos, e diante de um faixa-preta de Jiu-Jitsu.

Aquela profusão de sentimentos raivosos me fez, na hora, encerrar a classe que já estava pelo fim, e conversei com o proprietário da escola para que ficasse ciente. Uma semana depois do ocorrido, o pai reapareceu e pediu desculpas, explicando-se. De fato, estava passando por problemas no emprego, sob o temor de ser despedido.

Aceitei as desculpas e contra-ataquei com a sugestão de que ele viesse treinar também. Ou, se não tivesse tempo, que participasse de algumas aulas experimentais para compreender o que era estar por baixo no Jiu-Jitsu, e outros cenários da luta.

E assim foi feito, ele fez uma aula inicial comigo mesmo, gostou muito e seguiu adiante, lembro de sua alegria ao conquistar a faixa-azul por lá. Sua participação na academia aumentou muito, também, o entusiasmo dos filhos.

Os benefícios da arte suave para garotos e garotas são conhecidos amplamente pelos leitores do GRACIEMAG.com, claro. Mas eu não me canso de me surpreender com os dias de alegria que tenho com a minha filha, Yasmin, nos tatames da nossa escola, em Torres, no Rio Grande do Sul.

Desde que ela começou a gostar mesmo de vestir o kimono, sou um pai mais relaxado. Eu sei que agora ela possui um trunfo que anda sempre junto com ela, seja onde ela estiver – a autodefesa e a segurança para lidar com múltiplos problemas. Yasmin é tão dedicada e grata ao Jiu-Jitsu que passou também a fazer parte das aulas de MMA.

Hoje, pai e filha temos não apenas um assunto a mais para conversar e debater, como viajamos juntos para os campeonatos, traçamos estratégias e passamos as noites vendo e analisando o UFC. Já cheguei a me preparar e competir só por causa dela, e ela também viaja para alguns eventos com o objetivo principal de me apoiar.

Se os seus filhos treinam, tente participar também, nem que seja em aulas especiais com pais e filhos, de três em três meses, ou uma por semestre. Um aulão em família aos sábados é sempre um evento especial em toda academia. É uma maneira eficiente, também, para a escola atrair mais alunos entre os pais, pois todos sabemos como é complexo atrair a pessoa para a primeira aula – e que, depois, é só alegria e diversão.

Pergunto, por fim, a Yasmin o que ela mais curte ao treinar com o pai. Ela conclui: “A nossa parceria é o mais legal. Sem falar nos momentos mágicos nos tatames e nas risadas, claro!”

E você, também treina Jiu-Jitsu em família? Oss…

 

* Ricardo Zanelato é professor de Jiu-Jitsu e ensina na Lotus Club em Torres, Rio Grande do Sul. Artigo do baú de GRACIEMAG.

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