Do baú: Quando Sakuraba esteve no Brasil

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Em setembro de 2005, enfim uma dupla de reportagem de GRACIEMAG fazia o herói japonês amolecer e falar pela primeira vez a um veículo de imprensa ocidental. Tão gaiato quanto genial, Saku animou os treinos na Chute Boxe ao passar por situações inusitadas como o causo da tanguinha asa delta e do DVD para maiores, como você confere nesta reportagem tirada do baú.

Sakuraba treinando com os ex-rivais da Chute Boxe. Fotos: Gustavo Aragão.

Tudo levava a crer que a vinda de Kazushi Sakuraba ao Brasil para treinar na mesma academia do histórico rival Wanderlei Silva não passava de uma lenda sem pé nem cabeça. Pois o improvável aconteceu. No dia 19 de agosto de 2005 o craque nipônico chegou à Chute Boxe um tanto cabreiro, cumprimentando a todos com breves cabeçadas ao ar, aquele tipo de reverência bem cerimoniosa e comum no Japão. Bastaram, no entanto, algumas semanas de convivência com os chuteboxers para que Sak se soltasse, aderindo a saudações mais despojadas (do tipo soquinhos na mão e tapinhas nas costas) e deixando aflorar o seu lado mais fanfarrão.

O lutador Marlon Mathias sabe bem disso. Corre um boato em Curitiba de que Sak, junto do fiel escudeiro e dublê de tradutor Wataru Takahashi, entraram numa banca de revistas na capital paranaense e deram de cara com um desses vídeos para maiores de 18 anos. Os dois se encantaram com as beldades na capa de um DVD pornô e, como não sabem ler em português, nem deram atenção para o aviso que alertava: “Sexo de travestis”.

Refeitos do susto que tomaram ao ver as tais beldades despidas na tela da TV, Sak e Takahashi resolveram dar um presentinho para o companheiro de treino. “Rapaz, o Sakuraba não é fácil. Depois de querer me enganar, ele agora quer levar o DVD para o Takada”, conta Mathias, referindo-se a Nobuhiko Takada, não só o chefão da academia em que Sak e Takahashi treinam no Japão (Takada Dojo), como também um dos homens mais influentes do Pride.

Sorte ou revés?

Já que o clima era de descontração, aproveitamos para fazer uma provocaçãozinha e perguntamos a Sakuraba sobre o boné que o craque de olhos puxados deu para Wanderlei Silva subir ao ringue do Pride GP na noite do combate contra Ricardo Arona, dia 26 de agosto. Como Wand perdeu o confronto, o boné não teria dado azar ao curitibano?

“Azar? Mas o Shogun se tornou campeão do GP… O boné deu sorte, tanto é que a Chute Boxe venceu o torneio”, esquiva-se Sak. Alguém duvida que essa temporada no Brasil está fazendo bem ao jogo de cintura do japonês?

Perguntamos também sobre a melhor e a pior luta da carreira de Sakuraba mas ele não quis falar sobre o assunto. O mesmo aconteceu quando o cutucamos a respeito da rivalidade que ele tem com os lutadores da família Gracie. A disposição para responder nossas perguntas só voltou quando o tema foi aposentadoria: “Não há limite de tempo para lutar, nunca pensei em abandonar os ringues”, garantiu o craque de 37 anos.

Vocabulário miúdo

O que Sakuraba consegue falar em português não vai muito além de expressões como “Bora, time!”, e o mais recorrente: “Tô cansado”. Aliás, Sak não tem dúvidas de que o treino na Chute Boxe é muito mais puxado que os que ele costuma fazer na Terra do Sol Nascente. “Outro dia ele me perguntou como se escreve ‘não estou cansado’. Acho que o Sakuraba quer fazer uma camiseta com esses dizeres para subir ao ringue em sua próxima luta no Pride”, desconfia o mestrão da Chute Boxe, Rudimar Fedrigo.

A performance do ídolo durante os treinos na CB lembra muito o estilo teatralizado de um lutador de pro-wrestling, cheio de caras e bocas, movimentos espalhafatosos e gritos engraçados. “Ele também gosta de se fazer de morto para de repente dar um bote”, diz mestre Rafael Cordeiro. “O Sakuraba é muito malandro”, avalia.

Sak diz que foi na Chute Boxe que ele deu o primeiro treino de Jiu-Jitsu. “Emprestei a ele uma faixa-preta simbólica só para tirar foto”, conta Cristiano Marcello, que considera Sakuraba um faixa-preta mesmo é de vale-tudo. É provável que o(a) leitor(a) concorde com a opinião de Marcello, tendo em vista todas as exibições de gala que Sak já fez no Pride. Se contarmos só as vítimas brasileiras, o oriental venceu em matéria de MMA: Nino Schembri; Ryan, Renzo, Royce e Royler Gracie; Ebenézer Braga, Vitor Belfort e Marcus “Conan” Silveira.

Rafael Cordeiro não alivia o astro do Pride.

Marlboro e skol

As conquistas de Sak se tornam ainda mais impressionantes quando o ídolo do Pride reconhece que consome bebidas alcóolicas e ainda fuma cigarros. “Just a little, just a little”, justifica Sakuraba, recorrendo a algumas das poucas palavras que conhece em inglês. Em português “just a little” significa “só um pouquinho”, mas a turma da Chute Boxe garante que não é bem assim…

“O Sakuraba já pagou uma conta de R$ 2 mil numa casa noturna aqui de Curitiba”, garante um chuteboxer que preferiu não se identificar. “Um chopinho numa festa de fim de semana eu até tolero, mas se eu pegá-lo fumando vou dar muito pescoção no Sakuraba”, promete Rafael Cordeiro.

Fã de churrasco e canja de galinha, acostumado a andar com uma compressa de gelo presa ao notório joelho bichado, rosto totalmente recuperado do castigo que sofreu de Ricardo Arona nas quartas-de-finais do Pride GP (no dia 26 de junho), Sak diz ainda que está morrendo de saudade da família que ficou no Japão.

Pois quando o intensivão de treinos na Chute Boxe acabar e o forasteiro tiver que voltar ao país dele, é capaz de a equipe da estrela solitária sentir saudades do guerreiro de olhos puxados, um tanto estrábico, diga-se de passagem. Cada um pelo menos vai ter uma histórica engraçada vivida com o carismático lutador japonês.

Daniel Acácio, por exemplo, já tem a sua: “Jamais vou esquecer o dia em que levei o Sakuraba para fazer natação numa academia aqui de Curitiba. Chegando lá, ele vestiu uma sunga que na minha definição não passa de uma tanguinha em formato asa delta. A peça deve até ser comum lá no Japão, mas no Brasil é algo meio constrangedor. O pessoal da academia me pediu para convencê-lo a colocar um sungão, mas o Sakuraba bateu o pé e não tirou a tanguinha de jeito nenhum”.  Se a moda pega…

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