Do baú: Por que tão sério? É o que se pergunta Anderson Silva

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Que Anderson Silva, quase 35 anos, adora fazer lutas bonitas, isso o GRACIEMAG.com (e nosso leitor) já sabe desde 2004 pelo menos, após sua vitória em cima de Jeremy Horn, na Coreia do Sul. Mas no UFC 101, o “Aranha” exagerou, deixando Forrest Griffin e o mundo do MMA de boca aberta. Nossa equipe estava lá mais uma vez, para cobrir o evento para a Revista NOCAUTE, e desvendou talvez o maior segredo do sucesso do campeão: levar o vale-tudo na brincadeira.

O mistério de Anderson "The Joker" Silva pode ser algo simples. Arte de Victor Gruzman, sobre foto de Gustavo Aragão.

Anderson Silva e sua equipe caminham pelos corredores internos do ginásio Wachovia Center, no sul da Filadélfia, após a pesagem para o UFC 101 – “Declaration”.

Ele então avista uma tampa de uma caixa grande de papelão e imediatamente se agacha e senta nela. “Feijão, empurra aí”, grita o campeão dos médios, que dali a um dia vai se aventurar mais uma vez entre os meio-pesados ao enfrentar o ex-campeão da categoria Forrest Griffin no peso de cima. O parceiro de fé dos treinos Rafael Cavalcante entra no clima infantil e leva Silva para dar uma volta no carrinho de rolimã improvisado.

É com esse espírito – o da brincadeira – que Anderson encara a profissão tão sisuda de lutador, em que os atletas estão sempre completamente adrenalizados, principalmente quando estão prestes às vias de fato.

E talvez esse seja o ingrediente principal para o desempenho do “Aranha” ser tão diferenciado. Afinal, enquanto boa parte da energia dos seus colegas de trabalho se esvai por sofrerem por antecipação, Silva é capaz de relaxar não só antes, mas também durante a luta, a ponto de abaixar as mãos e expor o rosto para Griffin tentar a sorte, como fez no dia seguinte.

Fotos: Josh Hedges.

O raçudo ex-campeão dos meio-pesados entrou no octagon para suar sangue, mas… “Why So Serious?” parecia perguntar o “Coringa” à sua frente, que dançava balé, media a distância dos golpes, fazia firula, e acertava com veemência. Antes de ser desligado, em apenas 3min23s de luta, Forrest ainda caiu duas vezes. E quando finalmente se levantou, ficou tão revoltado que saiu correndo para o vestiário, sem falar com ninguém, sem aparecer para a coletiva de imprensa.

“Welcome to Comcast Country”, dizia o grande letreiro dentro do estádio, em referência a distribuidora de canais a cabo, local da cidade. “Bem-vindo ao show business”, mostrava dentro das oito linhas Silva, marcando com muita técnica e alegria a estréia do UFC na terra de Rocky Balboa, “talvez a maior cidade de luta dos Estados Unidos”, nas palavras do presidente do UFC, Dana White.

O evento do dia 8 de agosto teve ainda, para disputar com Anderson, o grande desempenho de BJ Penn, que defendeu o cinturão dos leves, contra Kenny Florian, além das lutas de interesse brasileiro de Ricardo Cachorrão, que venceu Kendall Grove, Thales Leites, que foi derrotado numa pirraça incrível das papeletas dos jurados, e Danillo Índio, que dominava o confronto com Jesse Lennox, até um corte o levar à derrota, a exemplo de Thales, a infeliz dispensa do maior evento do mundo – pelo menos por enquanto.

Mas, novamente, tudo isso foi muito, muito sério. E Anderson, além de bom, é brincalhão. Dana White nem pestanejou e anunciou já na conferência, que além do óbvio prêmio de nocaute da noite, Silva levaria também o bônus de melhor luta. Alguma coisa boa restou então para Griffin, que foi coadjuvante mas embolsou os mesmos 60 mil dólares.

Lotada e com Dana passando o lenço no rosto o tempo todo, para em vão tentar afugentar a sensação de calor, a coletiva foi longa. Nela, os vencedores BJ, Anderson, Cachorrão e o americano Kurt Pellegrino, e nenhum perdedor. Nos lugares mais à frente, a grande mídia: duas cadeiras para a ESPN, quatro para Yahoo.com; AP, Canadian Press, “Inquirer”, “Washington Times”, “Honolulu Advertiser”, “Las Vegas Review”, “Las Vegas Sun”, “Daily News”. Mídia especializada em peso, e, do Brasil, a NOCAUTE.

A maior parte das perguntas foi para o brasileiro, ou sobre o brasileiro. Anderson não fala inglês, mas temperamento não tem língua, e ele já brincava com o perguntador antes de ter a questão traduzida. Apontava com a garrafa d’água, gesticulava, sorria. Até que o clima de comédia chegou ao clímax quando alguém levantou a bola da possibilidade de lutar com Lyoto Machida.

“Olha, eu não me importo se eles são amigos. Isso é como basquete, futebol. Se a luta for interessante para os fãs, eu faço ela acontecer”, disparou Dana White. Anderson nem quis saber o que o chefão tinha dito e deu sua própria resposta, atropelando Dana: “Olha, somos irmãos, e essa luta não acontece em hipótese alguma”. A gargalhada geral só não foi imediata porque as palavras do campeão precisaram ir para o inglês por intermédio do tradutor e manager Ed Soares.

NOCAUTE preferiu fazer a pergunta em papo privado, quando o grupo de Anderson estava jantando numa churrascaria brasileira ao lado do hotel, em pleno coração da Filadélfia:

“O (Rafael) Feijão não podia ter te arrastado com mais velocidade naquele papelão, não?”

“Pois é, ele não sabe brincar!”, respondeu Anderson, zoando com o companheiro.

Não fique triste, Feijão. Nesse meio, a regra geral é ser sério.

UFC 101 – Declaration
Wachovia Center, Filadélfia, EUA
8 de agosto de 2009

BJ Penn finalizou Kenny Florian com um mata-leão aos 3min54s do 4R

Anderson Silva nocauteou Forrest Griffin aos 3min23s do 1R

Johny Hendricks venceu Amir Sadollah por TKO aos 29s do 1R

Ricardo Cachorrão venceu Kendall Grove por decisão unânime dos jurados

Kurt Pellegrino venceu Josh Neer por decisão unânime

Aaron Riley venceu Shane Nelson por decisão unânime

Tamdan McCrory venceu John Howard por decisão dividida

Alessio Sakara venceu Thales Leites por decisão dividida

Matthew Riddle venceu Dan Cramer por decisão unânime

George Sotiropoulos finalizou Rob Emerson na chave kimura aos 1min59s do 2R

Jesse Lennox venceu Danillo “Índio” Villefort por TKO aos 3min37s do 3R

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