Como o estresse físico e mental afeta o lutador? Dr. André responde

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Dr. André Lopes é PhD em Ciências do Movimento Humano pela UFRGS e faixa-marrom de Jiu-Jitsu

Texto: Dr André Lopes*

 Preparadores físicos ou treinadores usam com frequência a palavra recuperação. Mas você sabe o que é recuperação? Para mim, é o processo de controle da velocidade do restabelecimento dos danos causados pelo estresse. Já que o tema é treinamento físico, é claro que me refiro ao estresse proporcionado pelo treinamento físico. 

Agora faço outra pergunta: em vez de existir uma preocupação com a recuperação, o que é muito importante, por que não cuidarmos de dosar o estresse? 

A resposta é fácil se entendermos tudo o que nos leva a cargas altas de estresse físico e mental. Os atletas têm experimentado taxas de estresse jamais antes vistas. Treinos com altos volumes e cargas que geram significativas taxas de intensidade. Um dos meus atletas realiza tantas atividades durante o dia e mais dois treinos diários (técnico e físico) que hoje a minha preocupação com ele é como reduzir o estresse físico para que ele possa suportar tal rotina. Esse é um dos pontos mais importantes: como ajustarmos a rotina de planejamento dos treinos para que possam ser factíveis e recuperáveis. 

Nessa discussão entra a importância da verificação da prontidão física diária dos atletas. Como programar e periodizar o treinamento físico sem saber como se apresenta o estado fisiológico do atleta? 

Temos que rever alguns pontos históricos. Quando treinadores russos estudaram o treinamento físico entre 1960 e 1980, eles tinham em suas mãos atletas patrocinados pelo estado. Havia uma sociedade que trabalhava numa rotação mais lenta que a atual. 

Prilepin, um grande nome do treinamento, escreveu sobre a utopia de um atleta em sua obra “Prilepin’s Chart.”

Eu trabalho com atletas que vivenciam uma rotina estressante. Estamos na época das telas azuis (luz emitida por aparelhos eletrônicos). Além disso, as informações estão acessíveis a todo momento e causam uma sobrecarga gigantesca sobre o estresse físico e mental dos atletas. A mídia social entrou como o oitavo passageiro de uma nave que já estava lotada de fatores intervenientes.  Esses são os novos problemas para jovens atletas nas formas de medo de perder, bullying, fadiga, perseguição e comparação social online. 

Já sabemos mais sobre os efeitos da exposição do organismo humano à luz azul crônica de baixa intensidade. Tal luz emitida por equipamentos eletrônicos pode interferir na qualidade do sono, no ciclo circadiano e na duração das fases de sono.  Agora inclua o estresse de escola, relacionamento, falta de recursos e, claro, um treinamento físico baseado no “quanto mais melhor”.

O uso problemático do celular foi comprovado em recente pesquisa de Tugtekin, U., Barut Tugtekin, E., Kurt, AA e Demir, K., em 2020. A quantidade de tempo gasto num celular está diretamente relacionada aos negócios e ao estresse mental dos sujeitos que pode afetar claramente o estado físico do atleta. Dessa forma, quem sabe devemos medir esse nível de estresse físico por meio de análise de prontidão muscular. Testes musculares, recordatório de percepção de recuperação, valores pressóricos e de frequência cardíaca podem ajudar os treinadores a dosar melhor os treinamentos.

Tandon, Dhir, Talwar, Kaur, Mäntymäki (2021) analisaram o medo de perder, perseguição na mídia social, comparação social online, fadiga da mídia social, inveja e a ansiedade de verificar publicações. Foi identificada uma grande apreensão e preocupação sentida por alguns usuários de mídia social de que eles possam perder alguma notícia importante ou evento mundial vivenciado por um membro da família, amigos ou colegas. O Twitter e o Facebook passaram a ser meios de atualização geral e não têm horário específico, emitem informação aos usuários continuamente.

O medo de perseguição social tem crescido e assombrado diversos atletas. O processo de comparação nas redes sociais pode causar grandes danos se o usuário for curioso. Tal situação pode afetar a vida pessoal e profissional dessa pessoa.

Eu deixo portanto algumas perguntas. O quão importante é treinar sempre no volume alto e com cargas altas? 

Como melhoramos o desempenho de um se entendermos que o importante é a resposta que ele nos apresenta diariamente para montarmos os treinos sessão por sessão? 

Está na hora de profissionalizarmos o treinamento. Isto é, com monitoramento constante das variáveis musculares, a tal prontidão muscular diária.

*Dr. André Lopes, PhD em Ciências do Movimento Humano pela UFRGS e faixa-marrom de Jiu-Jitsu

 

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