No mundo do Jiu-Jitsu, tudo é possível

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Por Mohamed Jehad

Hora de arrumar as malas. As férias estão no fim e devo retornar a Abu Dhabi. Há dois anos, desde que fui morar nos Emirados Árabes Unidos, não passava mais de uma semana no Brasil, pátria mãe do Jiu-Jitsu moderno. Este tempo fora do Brasil fez-me vê-lo com outros olhos. Pude analisar meu país com mais profundidade através da ótica de quem tem a responsabilidade de carregar o Brasil consigo. Notei que a brasilidade foi um dos principais, senão o principal, tempero do Jiu-Jitsu “life style”, o estilo de vida de quem luta e respira Jiu-Jitsu em qualquer canto do planeta.

Já na primeira semana aqui em Porto Alegre, sul do país, uma situação aparentemente normal fez que eu meditasse sobre o estilo de vida de nossos praticantes. O faixa-roxa Gabriel Tayeh, após seis meses viajando, reencontra seu colega de treinos Felipe Leal. Biel e Batata, como são conhecidos, abraçam-se efusivamente antes do treino, combinam um açaí e saem rolando. Parecem irmãos se reencontrando na sala de estar da casa onde foram criados.

É assim que se comportam os praticantes de Jiu-Jitsu no Brasil. A academia, ou mais precisamente o dojô, acaba sendo a segunda casa da maioria, e seus colegas de treino, sua família.

O mestre, além de professor, pode ser o amigo para toda hora, o parceiro de surfe, o companheiro de festa e até o goleiro do futebol de sábado”

Isso não é típico de qualquer arte marcial. Isso é típico do povo brasileiro. Esse calor humano, essa receptividade, esta cumplicidade com o próximo foi incutida no Jiu-Jitsu quase sem querer. Aqui os lutadores tatuam os símbolos de suas academias nos seus corpos, muitos atletas nunca pagaram uma mensalidade e têm seus mestres como pais. A descontração durante o treino é a estampa do país. O mestre, além de professor, pode ser o amigo para toda hora, o parceiro de surfe, o companheiro de festa e até o goleiro do futebol de sábado.

O estilo de vida do Jiu-Jitsu e o Brasil se confundem. Provavelmente, se Conde Koma resolvesse fincar raízes em outro país, não teríamos a arte suave como nosso meio de viver a vida. Todos levamos brasilidade para o nosso Jiu-Jitsu. Todos consomem brasilidade nos quatro cantos do mundo, ao absorvê-lo. Exportar o Jiu-Jitsu é exportar o Brasil.

A propósito, Biel é de origem palestina, Batata de família judaica. Na terra sagrada do Jiu-Jitsu, pequenos milagres como esse acontecem todos os dias.

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