Médico faixa-preta defende MMA mas pede o fim das cotoveladas no UFC

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Rickson Moraes doutor e faixa preta

O carioca Rickson Moraes, faixa-preta de Jiu-Jitsu e médico ortopedista.

Diante da saraivada de críticas recentes ao MMA no Brasil, após as imagens fortes do UFC 155, o médico ortopedista e faixa-preta de Jiu-Jitsu Rickson Moraes*, escreveu um artigo especialmente ao GRACIEMAG.com para tratar do esporte sob o ponto de vista médico.

Confira o artigo na íntegra, e comente conosco seu ponto de vista.

“Recentemente, novas manifestações contrárias ao MMA vieram à tona na imprensa, com opiniões e questionamentos de respeitados jornalistas brasileiros quanto à legitimidade do esporte.

“São opiniões pouco embasadas e carregadas de emoção, em sua maioria, pois o esporte inegavelmente dá oportunidade a diversos atletas e jovens, pais de família exemplares, afastando-os das drogas e formando verdadeiros exemplos de desportistas.

“Afirmar que esportes de combate têm como objetivo final a violência me parece um erro, pois a maioria das técnicas são os pilares centrais de diversas modalidades de lutas milenares, muitas delas esportes olímpicos e como tais respeitadas pelo espírito de competição, e que não sofrem com tamanha reação contrária.

“A popularização recentemente alcançada pelo MMA e pelo UFC no país, aproximou o grande público de imagens fortes, é verdade, que embora possam não ser impactantes para uns, para outros acabam por causar forte apelo visual e emocional, gerando críticas contundentes, como as dirigidas aos combates entre Jim Miller e Joe Lauzon, e em especial Cain Velasquez vs Junior Cigano.

“De um ponto de vista estritamente médico, lembro que os eventos de MMA realizados nos EUA são, desde 2001, supervisionados e fortemente regulados por órgãos estaduais (comissões atléticas) que possuem corpos médicos extremamente atuantes para auxiliar nas questões médicas envolvidas na prática deste esporte.

“A mais atuante de todas elas, a do estado de Nevada, publica constantemente posicionamentos oficiais para orientar as equipes médicas envolvidas nos demais eventos, além de promover e incentivar a realização de estudos que possam orientar a prática segura e minimizar os riscos inerentes ao esporte.

“Um exemplo destes estudos é o trabalho científico realizado pelo Departamento de Emergência Médica da prestigiada Universidade John Hopkins, publicado em 2008 no “British Journal of Sports Medicine”, revista científica de renome internacional, no qual foram avaliados todos os atletas que participaram de eventos regulamentados de MMA no estado de Nevada, entre 2002 e 2007.

“Foram 1270 atletas estudados em 635 lutas profissionais, e constatou-se que no período estudado não houve nenhuma lesão crítica decorrente da prática profissional do MMA, e concluiu-se que os índices de lesões nas competições regulamentadas de MMA são similares aos de outros esportes de combate.

“A prioridade número um é e deve ser sempre a de preservar a integridade física dos lutadores, o que já se traduziu em diversas alterações nas regras unificadas para a prática do MMA. Exames regulares pré e pós a participação são requisitos para qualquer atleta do UFC, além de avaliação clínica pós competitiva com exames complementares necessários e do tempo mínimo de afastamento para que os mesmos possam se recuperar plenamente e estar aptos a retornar com segurança aos treinos e lutas.

“É indiscutível, no entanto, que se trata de um esporte de contato, e que traumas são mais frequentes do que em esportes menos vigorosos, como natação, corrida e ciclismo. Mesmo assim, à  luz do conhecimento médico atual, o MMA é considerado um esporte seguro, quando respeitadas as orientações e regras.

“No caso específico do último evento do UFC em 2012, vale ressaltar que hematomas e cortes superficiais são muito menos danosos são atletas que fraturas, luxações e lesões, pois o potencial para causar contusões definitivas são atletas é praticamente nulo.

“A quantidade de sangue média presente em um adulto é de cinco a seis élitro e sabemos que perdas de até 10% deste volume raramente trazem repercussões clínicas importantes. Sangramentos na face e no couro cabeludo, por serem áreas muito vascularizadas, acabam por fornecer de fato imagens chocantes para o grande público, mas pelo prisma médico, raramente chegam próximos a um volume de sangramento capaz de causar complicações mais sérias.

“No entanto, para o bem do esporte e para que o mesmo continue no caminho do sucesso, vejo como imperativo que golpes como cotoveladas na face sejam proibidos. Deve-se, ainda, orientar árbitros e médicos a interromperem lutas com maiores quantidades de sangramento, para que imagens chocantes sejam minimizadas.”

 

* Dr. Rickson Moraes (CRM-RJ 71152-7) é médico ortopedista pela Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), membro da Sociedade Brasileira de Artroscopia e Medicina Desportiva (SBRATE) e especialista em cirurgia do ombro do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (INTO/MS).

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