Gustavo Batista e a arte de otimizar os treinos para não desperdiçar tempo no Jiu-Jitsu

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Gustavo Batista venceu Lucas Lepri na final do absoluto. Foto: Reprodução

* Artigo publicado originalmente nas páginas da GRACIEMAG #264. Para mais conteúdos exclusivos com o melhor do Jiu-Jitsu mundial, assine a revista mais tradicional do esporte em formato digital *

O faixa-preta Gustavo Batista não parece ter tempo a perder. Um sinal disso foi ao responder nossa entrevista, feita após o ouro absoluto no Europeu de Jiu-Jitsu de 2019, no fim de janeiro. O craque da Atos leu as perguntas cabulosas enviadas pelo celular, refletiu e respondeu bonito, em pouco mais de uma hora. Como atleta, Batista tampouco perde tempo. Foi campeão mundial absoluto como faixa-azul em 2015 – e em 2018 já repetia o feito com a faixa-preta na cintura.

No Europeu, ele costuma dar ainda mais “sorte”, palavra que pode significar competência para aproveitar as oportunidades: Gustavo venceu todas as vezes em que lutou em Portugal. Foi ouro no peso e absoluto na azul (2015), roxa (2016), marrom (2017) e, agora, na faixa-preta. De quebra, tornou-se um dos mais jovens lutadores a conquistar o absoluto faixa-preta no Europeu – só perde, por poucos meses, para Rodolfo Vieira, campeão com 22 anos e 4 meses, no ano de 2012. Batista, contudo, ficou à frente de Roger Gracie, campeão absoluto com 24 anos, em 2004. GRACIEMAG bateu um papo com o catarinense para tentar arrancar sua receita para ser um lutador vitorioso. Confira!

GRACIEMAG: Você saiu de Palhoça para São Paulo, e agora se mudou para San Diego, na Califa: valeu a pena? Passou por muita coisa?

GUSTAVO BATISTA: Sempre busquei atingir um próximo nível, e no Jiu-Jitsu essa evolução exige que a gente não perca tempo se quer evoluir como competidor. Treinei na minha cidade até a faixa-azul, e lá percebi que precisava de um treino mais voltado para as competições. Foi quando fui para São Paulo, onde evoluí bastante e me tornei faixa-preta. Depois, chegou a hora de dar mais um passo na carreira, em busca de maior profissionalização. As dificuldades foram diversas: críticas, dificuldade financeira, más condições de moradia, falta de patrocinadores. Mas eu sabia que todas essas complicações seriam temporárias. Graças a Deus, tudo correu como o esperado, a vida melhorou e os títulos estão vindo. Valeu muito a pena.

O que você buscava exatamente ao se mudar da NS Brotherhood para a Atos? Encontrou?

Buscava mais trabalho em equipe, apoio para a minha carreira e a visão de um professor como o André Galvão, que é um atleta muito experiente, renomado e um exemplo de líder. Buscava em resumo uma profissionalização maior. E encontrei, sim.

Você se inspira em quem ao lutar?

Desde o meu início sempre me inspirei no Rodolfo Vieira (GFTeam). Também gosto muito do Jiu-Jitsu do meu professor André Galvão e do Lucas Lepri (Alliance) – são os três caras a que mais assistia em vídeos. Eu acho o meu jogo por cima um pouco parecido com do Lucas, inclusive. Então você estava com tudo mapeado antes da final do absoluto no Europeu… (Risos) Sim, graças a isso eu conhecia o jogo dele a fundo, o que me ajudou.

Você venceu o Lepri por 10 a 0. Qual foi o lance decisivo da luta?

Acredito que foi mesmo o início, quando eu chamei para a guarda já conseguindo efetuar a raspagem. Foi um fator decisivo para a luta, afinal eu consegui abrir logo 2 a 0 contra um cara experiente e técnico, e ainda ficando por cima. Foi uma vitória importante contra um grande atleta, mas já passou. Agora é continuar o trabalho e pensar nos próximos objetivos.

Gustavo vibra com a conquista no absoluto do Europeu 2019. Foto: Marco Aurélio Ferreira/Arena Jiu-Jitsu

Você venceu todos os Europeus que disputou, da azul à preta. Existe uma receita para isso?

Não sei. O que procuro é me manter treinando o ano todo. Mantenho a constância nos treinos em toda a temporada, inclusive no fim do ano, afinal o Europeu já é em janeiro. Uma receita que tem dado certo para mim é recarregar as baterias na minha cidade natal em dezembro. Viajo sempre para lá e conto com a ajuda dos meus velhos amigos nos treinos, e com a comida da minha mãe, que faz mágica (risos). Minha cabeça procura sempre evoluir e aprender coisas novas para melhorar meu Jiu-Jitsu – acho que a receita para um Jiu-Jitsu eficiente é a evolução constante. Não podemos parar de aprender.

Quando vimos você vencer o Mundial 2015 em Long Beach, ainda como faixa-azul, sua pressão era de impressionar. Acha que seu estilo de jogo mudou muito de lá para cá?

Mudou um pouco. Creio que eu já tinha um jogo sólido para a faixa-azul, pois sempre busquei extrair o máximo de aprendizado dos meus companheiros graduados à minha volta.

Conte uma história boa que você viveu na época em que treinava com os Miyao, que este ano também varreram a concorrência no Europeu…

Não sei se tenho uma boa história, mas tenho boas lembranças. Teve uma vez em que treinamos tanto que ficamos até doentes (risos). Eles realmente treinam muito e são muito regrados. Aprendi muita coisa com o Paulo e o João, dois caras que me ajudaram a evoluir bastante nessa época. São exemplos de atletas e pessoas.

Suas raspagens e sua pressão por cima parecem bem niveladas. Como treinar para alcançar isso?

Tento me desafiar nos treinos. Por exemplo, se você se sente melhor por cima, tem de se desafiar e fazer guarda. E vice-versa. Sem medo de sufoco. É importante treinar a sua dificuldade porque isso pode e vai acontecer nos campeonatos. E tem um ponto interessante nisso: quando o objetivo do seu treino é melhorar suas dificuldades, você consequentemente ganha em motivação, pois passa a treinar com mais vontade de solucionar aquele problema, corrigir a falha.

Como são seus treinos hoje?

Os treinos com o professor Galvão são bem variados: faço alguns drill, treinos específicos e bastante rola também. O treino tem sempre um formato diferente e bem desafiador. Três vezes na semana, faço preparação física bem específica para o Jiu-Jitsu. Em média eu treino quatro a cinco horas diárias, depende do dia.

O que você aprendeu sobre campeonatos com a Luiza, sua namorada?

Aprendi muito. A Luiza é mais experiente do que eu na faixa-preta e me passa bastante o que viveu de bom e ruim nos tatames, tudo o que ela já passou em treinos e competições. Isso me ajuda bastante.

Você deu uma tropeçada em Mundiais, na roxa e marrom, certo? O que aprendeu ali?

Sim, as derrotas são ruins, mas ajudaram a manter a minha sede de querer melhorar cada vez mais até conquistar a faixa-preta. Desde a azul eu sempre treinei pensando em evoluir ao máximo, e aprendi que as faixas coloridas são importantes para adquirir experiências, boas e más, para a hora da verdade. A lição é que não podemos nos abalar com as derrotas no início da carreira, porque é quando chegamos à faixa-preta que tudo realmente importa.

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