Spyder King of Kings: Os bastidores e as lições de Jiu-Jitsu na Coreia do Sul

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Kaynan faz sua movimentação para passar a guarda de Leandro Lo. Foto: Carlos Arthur Jr.

“Eu trabalhava cuidando de uma sala de informática por 400 reais, e lá via os vídeos do Rodolfo Vieira e Leandro Lo”, disse Kaynan Duarte em conversa com GRACIEMAG em Seul, na Coreia do Sul, após vencer o Spyder Championship Final: King of Kings, passando pelos ídolos que costumava ver apenas pela internet, antes de encarar Nicholas Meregali pelo título do GP até 100kg.

No mesmo sábado, dia 23 de novembro, outro jovem casca-grossa se tornaria “rei dos reis” na competição. Levi Jones-Leary, australiano também conhecido pelo apelido brasileiro de “Levizão”, passou por dois campeões mundiais para garantir o elmo banhado a ouro feito sob encomenda para o evento, além do belo prêmio de 100 mil dólares do Spyder.

O time de GRACIEMAG ficou uma semana na capital coreana, e pode ver de perto os bastidores do torneio galáctico, no qual a gélida temperatura local, que chegou a menos 5 graus, era driblada pelos brasileiros da maneira que cada um pode. Várias camadas de casacos eram a pedida mais comum, ou até um chimarrão bem quente, como o que Nicholas Meregali dividia com o coach Gabriel Oliveira. Rodolfo Vieira, por sua vez, esqueceu sua roupa de frio e teve que se virar com um moletom vindo de empréstimo amistoso, por alguns dias.

Assuntos sobre Jiu-Jitsu não faltaram. Além da tradicional resenha no café da manhã, alguns estudos profundos do Jiu-Jitsu rolaram nos bastidores, como o treino reservado de Bruno Malfacine, Murilo Santana e os atletas Rodolfo Vieira, Leandro Lo e Levizão, que em certo ponto se transformou num debate profundo sobre o uso das lapelas em diversas posições diferentes. Uma aula impagável.

No dia da sessão de treinos, uma surpresa: Demian Maia, ex-desafiante ao cinturão do UFC e 6° no ranking dos meio-médios, chegou de forma inesperada na Coreia. “Sou amigo do Ernie, presidente do Spyder, e já estive aqui em 2017 para promover uns dos primeiros eventos, que contou apenas com faixas-roxas locais”, disse o professor após treinar com Ernie, que é faixa-marrom, e depois mostrar toda sua técnica e classe contra outro atleta coreano, para logo em seguida mergulhar num soltinho com Johnatha Alves.

Antes do evento, porém, a pesagem assustou os atletas. No cronograma do evento, um dia antes das lutas, os competidores deveriam se encontrar as 10h da manhã para uma série de compromissos, como coletiva de imprensa e ensaio para a entrada no show, com a pesagem apenas as 19h. Matheus Lutes, faixa-marrom da divisão até 76kg e um dos mais fortes fisicamente na chave, traçou uma minuciosa estratégia para cravar o peso sem sustos. Gabriel Arges, apesar de bater o peso, teve que checar sua situação num hospital próximo horas antes, mas liberado pôde continuar no páreo.

No dia do torneio, as vans do evento pegaram os atletas para o trajeto de aproximadamente uma hora até a KBS Arena. Sem lugares marcados, cada atleta e sua equipe se alocava nos carros com vagas. Nicholas Meregali, Erberth Santos e seus coachs foram juntos, sem alterações no trajeto, diferente da hora da luta. Após Nicholas e Erberth passarem por Tim Spriggs e Claudio Calasans, respectivamente, os desafetos da internet se encontraram no tatame, e um lance curioso encerrou a disputa prematuramente.

“Eu achei que o Nicholas tinha me acertado com o joelho de forma intencional”, disse Erberth. “Falei com Nicholas ali mesmo e ele disse que não tinha sido. Olhei para o árbitro, pois fiquei um pouco tonto com o lance, mas ele puniu a mim e ao Nicholas porque estávamos parados, esperando a intervenção dele. Depois da luta, o árbitro me disse que, do ângulo que ele estava, não deu para ver a joelhada.” Após o ocorrido, Nicholas, que já estava no controle lateral, montou e atacou na americana.

Kaynan com o braço erguido após o duelo com Meregali. Foto: Carlos Arthur Jr

Com a segunda vitória, Nicholas chegou embalado para a final. Porém, do outro lado da chave, Kaynan vinha no mesmo embalo, tendo vencido os mais badalados atletas do torneio: Leandro Lo e Rodolfo Vieira. O duelo final foi apertado, com chances para os dois lados, mas na decisão, definida pelos árbitros, Kaynan ficou com o título.

“Quando terminou a luta eu não sabia se tinha ganho, mas analisando depois eu concordei com a decisão. O Nicholas quase me raspou e eu quase passei a guarda dele. A diferença eu acho que ficou no ataque de guilhotina no início da luta. Acho que isso pode ter pesado na decisão.”

Na divisão até 76kg, também recheada de craques, Levizão encarou o campeão mundial Matheus Gabriel na finalíssima. Para chegar na disputa de título, Matheus passou por Edwin Najmi primeiro, e na segunda rodada conseguiu bater o duríssimo Johnatha Alves com uma vantagem conquistada um segundo antes do apito final. Johnatha, inclusive, havia protagonizado, minutos atrás, o melhor lance do torneio, ao berimbolar e pegar as costas de Shane Jamil Hill-Taylor, campeão mundial peso-pena, para finalizar num mata-leão rápido e preciso.

Levi após subir pelos dois pontos da vitória sobre Matheus Gabriel. Foto: Carlos Arthur Jr

A final entre Levi e Matheus foi equilibrada como era de se esperar. Com três punições para cada lado por conta da dupla puxada, Levi atacou no pé com força total. Matando a manga oposta, Matheus evitou que Levi colocasse toda a pressão possível na chave, o que fez Levi pensar rápido e explodir para subir, garantindo os dois pontos para marcar 4 a 2 no placar. O tímido Levizão vibrou muito com o título e prometeu usar o prêmio para comprar um apartamento para a mãe, e talvez morar próximo da Unity Jiu-Jitsu, sua equipe em Nova York.

Após as lutas e a premiação, os atletas se reuniram para um jantar de confraternização. Muitas risadas e brindes para os jovens campeões. Kaynan, de 21 anos, e Levi, de 22, receberam abraços e os parabéns de Rodolfo Vieira e Leandro Lo, os mais condecorados da mesa. A nova geração está garantida para as próximas temporadas.

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