Travis Stevens e a alegria de lutar Jiu-Jitsu: “Quase peguei as costas do Miyao”

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Travis Stevens contra Felipe Preguiça, na Copa Pódio. Foto: Vitor Freitas/ GRACIEMAG

De volta aos Estados Unidos depois de lutar o GP dos Médios na Copa Pódio, dia 8 de setembro, no Rio, Travis Stevens analisou sua campanha no evento. Travis admite que, acima de tudo, ele se divertiu.

O judoca olímpico e faixa-marrom de Renzo Gracie conseguiu finalizar Jaime Canuto, derrotar Manuel Diaz em vantagens, e chegar à semifinal antes de perder para o eventual campeão, Felipe Preguiça. O americano fez como tinha anunciado: evitou usar seu judô no torneio, mas acabou tendo um lapso na semifinal, pelo qual se desculpou com seu adversário durante a luta.

Nem todos os atletas têm princípios estritos quando há uma vitória em jogo, mas Travis os leva muito a sério. Mas vamos deixar você ouvir dele mesmo. Das reflexões de Travis, pudemos aprender como pode um judoca entrar num prestigioso torneio de Jiu-Jitsu e duelar de igual para igual com astros do jogo de solo.

GRACIEMAG: Quais foram os seus adversários mais duros, e por quê?

TRAVIS STEVENS: [Renato] Cardoso foi meu adversário mais duro, como deu pra ver pelo resultado (ele foi o único a me finalizar). Ele também era o único cara com quem eu me preocupava. Ele tem chaves de pé incríveis – eu sabia disso antes da Copa, e foi isso que me deixou nervoso. Tive uma grave contusão de tornozelo e operei seis semanas antes do torneio. E não estava convicto de como meu tornozelo ia lidar com aquele tipo de posição. E, três dias antes do evento, estava treinando a guarda 50/50 na academia do Gordo, sabendo que Renato queria entrar nela – uma posição que eu odeio de paixão. Durante o treino, estourei o meu tornozelo bom, de modo que, entrando naquela luta, eu não tinha nenhum tornozelo em perfeito estado. Estava preocupado com que ele pegasse o meu tornozelo e me desse uma chave de pé, pois eu teria de abandonar a competição. Então me poupei um pouco, recuei na luta e isso se refletiu no meu desempenho.

Você quase passou a guarda e pegou as costas do Paulo Miyao, o que teria colocado você num grupo muito seleto. Que conselho você tem para quem enfrenta um prodígio?

De fato quase peguei as costas dele! Acho que eu teria conseguido se os meus instintos de judoca não tivessem intervindo e me feito segurar a posição. Nunca devia ter ido para o estrangulamento direto da pegada das costas; acabou me custando caro. Não consegui evitar dar risada do meu erro. Fiquei sorrindo para o Miyao pelo resto do combate. Pensa bem: o campeão mundial absoluto faixa-marrom quase teve as costas tomadas por um sujeito que só treinava Jiu-Jitsu nove dias por mês antes deste evento…

O garoto prodígio intimidou você?

“Prodígio” é um termo engraçado, do qual se abusa bastante no ramo dos esportes. Realmente acho que não existe prodígio; você ganha o que você merece. Contudo, isso não quer dizer que não posso perder. Só quer dizer que, com bastante tempo e oportunidades, posso finalizar qualquer um. Então, quando você pisa no tatame e olha para o oponente e começa a duvidar de si, e começa a pensar, “Este cara é campeão mundial, este cara é faixa-preta, este cara me finalizou da outra vez”, lembre que ele ainda não ganhou a competição. Ele ainda não derrotou você desta vez. Para mim, cada dia é um novo dia – você ter ganhado o Pan não significa que você vai ganhar o Mundial. Então, todo dia que acordo, vejo todo mundo no mesmo nível. Quero dizer que Paulo, Xande, Galvão, Estima, eu – estamos todos no mesmo nível de todo mundo que treina Jiu-Jitsu. Pois, até que ele me vença, a ideia de que ele é superior é só uma opinião, não um fato. Isso não é ego – é mentalidade.

Muitas vezes, porém, o resultado que ocorre é o esperado.

Mesmo que, digamos, André Galvão visite a academia do Renzo e me use de pano de chão. Eu refletiria sobre o ocorrido, estudaria como ele o fez, e acordaria no dia seguinte no mesmo nível de todo mundo, porque, se ele quiser me trucidar de novo, ele pode, mas sempre temos o dia seguinte. Só porque me ponho no mesmo nível, não quer dizer que eu não tenha coisas a aprender. Tento aprender coisas de todo mundo, seja um faixa-branca ou azul, ou o faixa-preta que está dando a aula. Adoro ir à academia e aprender coisas novas. Quando você põe um atleta num pedestal, você está presumindo que você não pode, ou não vai, vencer. E a única pessoa que decide se você vence ou perde, é você mesmo.

Pedi uma superluta sem tempo, só com finalização. Mas eles acham que não arrumam um adversário para esse tipo de combate”

Numa das suas últimas lutas você usou o recurso de dar queda no seu adversário, algo que você havia evitado antes. O que passou pela sua cabeça?

É, realmente eu não queria fazer aquilo. Mas eu estava perdendo por 7 a 0 e ele passou tão depressa da minha pegada, que me pegou desprevenido. A maioria dos caras estabelece pegadas e depois começa a passar. Ele pontuou rápido, e no meio da luta percebi que ele não queria lutar por baixo. Então, quando nos levantamos, eu pensei “Dane-se”, e comecei a trabalhar meus braços para a queda. Então eu o girei, dei queda; ele se levantou, dei outra queda. Quando o árbitro parou a luta para nos levar ao centro, olhei o meu adversário, balancei a cabeça e disse, “Desculpa, é que estou perdendo”. Ele respondeu, “Sem problema”. Mas quando o árbitro nos levou ao centro, eu já sabia que não poderia mais usar as quedas a meu favor. Ele se recuperou e conseguiu refazer as pegadas e pensar.

Qual é a sua parte preferida de ter participado do evento, e do que você menos gostou?

Minha parte preferida foi quase pegar as costas do Miyao. Porque fiquei tão perto e cometi um erro, mas é um erro fácil de corrigir. A pior parte foi perder a disputa pelo bronze para o mesmo Miyao. Eu me senti lesado. Com algo entre 1min45s para o fim, ele tentou uma chave de pé e fui obrigado a girar para sair. Mas, quando voltamos, o árbitro não deu a vantagem, então ainda estávamos empatados. Pensei, “Me salvei”. Quando terminou o tempo, ainda estávamos empatados. Pensei, “Oba, ganhei. Vai ter prorrogação, vou dar uma queda e vencer”. Aí, do nada, o árbitro lhe dá a vantagem de termos rodado para fora. Eu me senti roubado, pois teria lutado diferente no final se soubesse que ele estava em vantagem.

E quando vamos ver você de novo em competições de Jiu-Jitsu?

Vou competir de novo certamente! Por ora, tenho luta marcada para a divisão de faixas-marrons na World Expo. Também estou conversando com o pessoal da Copa Pódio para lutar no peso pesado. Ou fazer uma superluta. Mas eu disse a eles que, se eu for fazer uma superluta, tem de ser sem limite de tempo, terminando só na finalização. Mas eles acham que não arrumam um adversário para esse tipo de combate. Então vamos ver, mas de qualquer forma vou estar no evento.

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