Alberto Bremgartner e a arte de lidar com a pressão no Jiu-Jitsu

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Alberto mostra ouro duplo. Foto: Reprodução

“Mesmo com todas as dificuldades que passei, vivo exclusivamente do Jiu-Jitsu desde 2006” orgulha-se Alberto Bremgartner, professor GMI da Bremgartner BJJ e da Equipe Fusion BJJ em Saragoça, na Espanha. Através da experiência acumulada em seus muitos anos na arte suave, Alberto entende a pressão que precede um torneio e prepara o psicológico de seus atletas para o sucesso.

Em papo com GRACIEMAG, Alberto fala sobre a importância de se divertir nos campeonatos, além de relembrar sua graduação à faixa-preta pelas mãos do mestre Ricardo De La Riva e comentar suas expectativas para a Equipe Fusion. Confira nas linhas abaixo!

* Entre para o time GMI! *

GRACIEMAG: Como conheceu o Jiu-Jitsu?

ALBERTO BREMGARTNER: Meu primeiro contato com a arte suave foi na infância. Em 1991, com mais ou menos 12 anos, treinava e competia no judô, junto a minha irmã. Pouco tempo depois, mudei de escola e acabei perdendo o contato com o esporte, fato que me levou a conhecer o Jiu-Jitsu, esporte já praticado pelos meus amigos do colégio novo. Fui convidado algumas vezes para assistir às aulas, mas como ainda era um esporte elitizado, não tive condições financeiras para me matricular. Voltei a ter contato com o Jiu-Jitsu em 1996, quando comecei a trabalhar e me matriculei em uma academia, mas como morava sozinho e recebia pouco, não conseguia arcar com meus gastos diários e me manter treinando.

Supervisionando um dos treinos da Equipe Fusion. Foto: Reprodução

E como reencontrou o Jiu-Jitsu para iniciar sua carreira?

Retornei ao esporte graças ao Rodrigo Cabral, mais conhecido como “Brucutu”. Ele era um faixa-azul que treinava com o Marcus Norat e passou a dar aulas para mim e uns amigos numa garagem. Tudo que ele aprendia com o Marcus era replicado no nosso treino, então eu aprendi muito nessa época. Eventualmente, comecei a treinar também no Sesi, que é um clube que oferecia aulas de Jiu-Jitsu por um preço acessível, e lá rapidamente foi promovido à faixa-azul, por conta dos ensinamentos do Brucutu e do Marcus, que viria a me treinar mais para a frente. Apesar de ter passado muito tempo desde essa época, sempre terei muito carinho e admiração por ambos.

Assim que começou a praticar, teve interesse por competir?

Na faixa-branca, como treinava mais com os meus amigos, eu não tive muito interesse por competições e lutei apenas em dois campeonatos pequenos. Quando alcancei a azul, quatro anos após o meu início no esporte, eu desenvolvi o gosto pelos campeonatos. Passei um ano como faixa-azul, competindo e ganhando tudo, até que fui promovido no ano seguinte. Quando alcancei a roxa, me interessei por competir no Campeonato Brasileiro, mas como meu professor do Sesi não era registrado na CBJJ, eu não conseguiria fazer o meu cadastro. Foi então que o Brucutu, às vésperas de se mudar para São Paulo, me levou na academia do Marcus Norat, que me auxiliou na confecção do meu cadastro e me ajudou a conseguir a carteirinha, em 2002. Nesse mesmo ano, ele foi campeão mundial e eu passei a treinar com ele na Gracie Humaitá, onde fiquei até ele ir embora de Belém, no início de 2007.

Em que ano você pegou a faixa-preta e das mãos de quem?

Fui graduado à faixa-preta em 2008 pelas mãos do mestre Ricardo De La Riva. Depois que o Marcus Norat se mudou para São Paulo, em 2007, passei a treinar com um amigo que conheci durante as aulas de MMA que fazia na época. Nesse mesmo ano, esse amigo me levou até a academia do Lyoto Machida, local onde o mestre De La Riva daria uma palestra. Lá eu conheci o mestre e acabei ingressando na equipe De La Riva, ainda como faixa-marrom. Fui vice-campeão brasileiro absoluto pela equipe e, no ano seguinte, encontrei novamente com o mestre no Rio Open. Ele brincou comigo sobre ainda estar com a marrom e uma colega de equipe disse que eu estava esperando ele me graduar. Assim, no pódio do Rio Open 2008, no Tijuca Tênis Clube, eu recebi a preta pelas mãos do mestre De La Riva. Foi um momento único que deixou uma lembrança inesquecível.

Junto ao mestre De La Riva. Foto: Reprodução

Em meio a tantas dificuldades que enfrentou no início de sua carreira, qual foi o motivo que te levou a buscar o Jiu-Jitsu como profissão?

Além da paixão que sentia e ainda sinto pelo esporte, devo tudo à minha esposa. Me casei ainda jovem, aos 21 anos de idade, mas ela foi o pilar que me manteve firme na busca pelo meu sonho. Na época, eu havia parado de dar aulas por conta do trabalho, mas ela me incentivou a voltar aos tatames para ensinar os meus alunos. Graças a Deus e a ela, me mantive vivendo exclusivamente do Jiu-Jitsu e não atuo com outra profissão desde 2006. Se hoje tenho orgulho de dizer que sou professor de Jiu-Jitsu, é graças ao apoio que recebi dela quando mais precisei.

Como separar a cabeça de atleta/competidor para se tornar um grande professor?

Por conta das circunstâncias da minha vida pessoal, nunca me vi como um grande competidor. Comecei no Jiu-Jitsu aos 18 anos, idade já considerada avançada para tentar uma carreira competitiva, e não tive muito incentivo para perseguir essa meta. Já morava sozinho e tinha que trabalhar, então tinham muitas coisas na minha cabeça para me dedicar da forma necessária para ser um grande competidor. Meu interesse mesmo era em dar aulas, algo que carrego desde a minha época como faixa-branca. Sempre achei a ideia de ser professor algo mais interessante, então, mesmo quando estou competindo, a prioridade é ensinar os meus alunos. Por isso, não separo a cabeça de atleta e a de professor, mas participo de competições porque isso me ajuda a dar um bom exemplo e incentivar os meus alunos.

Qual é o melhor ensinamento que você passa aos seus alunos?

Uma das coisas mais importantes que eu aprendi ao longo de todos esses anos treinando e competindo é que não devemos sucumbir à pressão. Como ainda participo de competições, eu sempre reforço a eles que o importante é se divertir nos campeonatos. O que ele vai fazer lá como atleta é a mesma coisa que esteve treinando na academia como aluno, então não faz sentido se pressionar para obter os melhores resultados e ser campeão. Tem que ir solto, deixar o jogo fluir e, caso não seja suficiente, voltar pra academia e corrigir os erros. Mas acima de tudo, tem que se divertir.

Comemorando um ano junto a seus alunos da Equipe Fusion. Foto: Reprodução

Quais são as metas do professor para formar uma equipe campeã?

Acho que o mais importante é uma academia que siga uma boa metodologia, tanto para os alunos quanto para os instrutores. Venho trabalhando na minha metodologia desde que comecei a lecionar, lá em Belém do Pará. Sigo aprendendo com os grandes mestres e me inspiro em grandes escolas como a Alliance ou a Gracie Barra, mas prefiro criar e aperfeiçoar a minha própria metodologia junto aos professores que fazem parte da minha equipe. Esses quatro anos que passei aqui na Espanha, e em especial o último ano que passei junto a Equipe Fusion, me ajudaram a amadurecer bastante neste sentido. Meu objetivo é padronizar um sistema de ensino para que possamos trabalhar de forma uniforme dentro do nosso time.

E quais são os planos para o futuro do professor Alberto Bremgartner no Jiu-Jitsu?

Estou a ponto de conseguir trabalhar com uma equipe de competição. Em todos os meus anos de ensino, sempre que começo a formar um time forte para participar de competições, acabo tendo que me mudar e começo do zero. Foi desta forma em Belém e no Rio de Janeiro. Hoje, vivo em Saragoça, que é onde as competições acontecem aqui na Espanha, então pretendo aproveitar e fazer um bom trabalho de base para formar uma boa equipe e levar atletas para as grandes competições do esporte. A Equipe Fusion já começou a ser conhecida na Espanha, mas em breve ela entrará com tudo no cenário mundial.

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