Os benefícios de viajar e competir no Jiu-Jitsu, com Marcio Lima (GB Santa Maria)

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Marcio Lima com sua coleção de medalhas na temporada. Foto: Arquivo Pessoal

Competir e viajar para se testar nos campeonatos de Jiu-Jitsu é uma das etapas que todo o grande atleta deve passar em algum momento da carreira. É o que ensina o professor Marcio Lima, nosso GMI à frente da Gracie Barra Santa Maria, que acaba de conquistar a medalha de ouro no Roma Open 2017. Confira abaixo as dicas da fera:

“Competir é muito importante para a evolução dos praticantes de Jiu-Jitsu. Recomendo aos meus alunos que experimentem a adrenalina de combates à vera, tanto em eventos locais, como também em torneios fora da nossa cidade (vivemos em Santa Maria, uma cidade satélite de Brasília). Acabo de voltar da Itália, onde fui campeão do Roma Open (no Master 2, categoria leve), e é impressionante como, a cada fight trip, volto para casa me sentindo uma pessoa melhor, um lutador melhor”.

“Com a competição a gente aprende a se controlar, a entender melhor o corpo e a mente. É acima de tudo um catalisador para o nosso autoconhecimento. Você percebe os seus limites e o quanto estava equivocado em achar que ‘só dava para chegar até ali’. No fundo, os limites são uma fantasia, você acha preliminarmente que só dá para chegar até um ponto, mas quando compete descobre que aquele ponto era uma marca totalmente mal calculada, você pode ir muito além do que imagina, e disputar um campeonato de Jiu-Jitsu faz você entender isso e se redimensionar. Mesmo perdendo você cresce. Ou melhor, talvez até cresça muito mais do que na vitória”.

“A competição também faz você se alimentar melhor e perceber quais alimentos combinam melhor com o desempenho do seu corpo. A forma de comer, a quantidade, a frequência das refeições, a forma de processar os alimentos. Você então descobre qual o peso ideal para o seu corpo e também se dá conta do quão necessários são os períodos de recuperação e relaxamento. Dormir bem é fundamental. Sair como os amigos, saber desfocar nas horas certas e retomar o foco no momento correto. Afinal, se você ficar pensando na competição 24 horas por dia, você tende a implodir, tanto fisicamente (pelo overtraining) como também pelo estresse”.

“Competir é aprender a lidar com o medo. Vejo muita gente que escolhe treino na academia, que se incomoda em dar os três tapinhas para colegas de treino. Esse é um tipo de medo extremamente maléfico, na maior parte das vezes sentido por quem não costuma competir. Sim, pois a competição impõe ao atleta desafios muito maiores, então qualquer ‘medinho’ na academia tende a sumir para alguém que disputa torneios com frequência. E, devo confessar, com o tempo eu acabei gostando de sentir medo nos grandes eventos. É difícil explicar. Mas no dia em que eu parar de sentir adrenalina quando pisar na área de luta de uma competição, eu paro de lutar. Vai perder a graça”.

“Agora, competir é uma coisa. Viajar para competir, no entanto, é um desafio ainda maior. Minha viagem para o Roma Open 2017 é um ótimo exemplo para você entender isso. Uma fight trip como essa requer certo planejamento. O ideal é chegar alguns dias antes, para o atleta se aclimatar e coisa e tal. Lembre-se que há questões como clima local diferente, fuso-horário, alergia à poltrona do avião, noite mal dormida durante o voo, torcicolos… Só que eu fui para a Itália com o dinheiro contado, não tinha verba para chegar dias antes e me hospedar num hotel bacana e confortável… Ou seja, esse período de adaptação não existiu para mim”.

“E aí você chega num lugar como a Itália, onde o padrão de alimentação é um tanto pesado, cheio de comidas calóricas, e precisa bater o peso da categoria. E quando sai para dar uma corridinha está um frio danado lá fora, você tem que improvisar várias camadas de agasalho para poder correr e perder peso, e voltar para o hotel e ficar de boca fechada, mesmo estando na terra sagrada das pizzas e macarronadas. Para complicar ainda mais as coisas, eu estava sozinho, sem falar a língua local. Eu não tinha com quem deixar minha mochila nas arquibancadas. Entrava para lutar com a mochila nas costas. Enquanto isso, do outro lado, estavam gringos cheios de gás, adversários locais que não estavam passando pelos mesmos perrengues que atletas forasteiros como eu”.

“É claro que entrar pra competir me sentindo mal alimentado, talvez até ‘fraco’, exigiu que eu compensasse tais adversidades pelo aspecto mental. E aí você percebe que 90% da missão de um lutador têm a ver com a parte mental e também com o coração. Mentalizei meus alunos a expectativa da minha vitória. Pensei na viagem, no treinamento, na família… Falei para mim mesmo que daria o máximo. E deu certo. Fui campeão do Roma Open. No dia seguinte, fui terceiro colocado no Europeu Sem Kimono. Nesses dois dias, fiz oito lutas. Não sofri um ponto sequer. A luta que perdi no Europeu terminou empatada”.

“É com base em toda essa experiência que recomendo aos atletas iniciantes do Jiu-Jitsu: Competir é preciso. E viajar também! Não evite o seu medo. Use o medo como trampolim e assim transforme-se numa pessoa melhor, num lutador mais evoluído, e ainda desbrave o planeta, fazendo amigos e vivendo muitas aventuras. Oss!”.

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