A opinião de Verissimo sobre MMA & Jiu-Jitsu e o que pode estar faltando ao UFC

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Dois atletas de MMA no octagon do UFC. Foto: Divulgação/UFC.

Dois atletas de MMA no octagon do UFC. Foto: Divulgação/UFC.

Em primeiro lugar, respeito. Alto lá.

Luis Fernando Verissimo, 75 anos, é o Anderson Silva dos cronistas brasileiros, ofício que exerce desde 1969. Seus textos começam finos como a voz de Anderson, e terminam invariavelmente num joelhaço – para ficar num golpe de um personagem seu, o Analista de Bagé.

Na coluna de ontem, publicada nos maiores jornais do país, Verissimo comprovou a boa forma. O alvo, porém, foi o MMA. (Leia o texto na íntegra, aqui).

Ponto de vista é feito umbigo, cada um tem o seu. Mas é divertida a descrição de Verissimo de dois lutadores no chão do octagon, “como um bicho de duas costas e oito patas em convulsão”, nas palavras do mestre.

Escritor best-seller, LFV não é um leigo em lutas, em absoluto. Ele já nos disse, certa vez, que assistia às lutas de MMA do Pride, na madrugada, de curiosidade, como todo mundo. Escreveu sobre Mike Tyson e Muhammad Ali diversas vezes, e numa destas contou que tentou comprar ingresso, sem sucesso, para ver a despedida do mito do boxe, em 1980.

“Talvez tenha sido melhor assim. Ali despediu-se do ringue melancolicamente. Podia ter evitado isto. Mas acreditou na sua própria mágica e achou que conseguiria voltar”, escreveu na ocasião, quando completou: “Mas o homem ficará na história dos Estados Unidos, e não apenas na sua história esportiva. Foi protagonista ativo de algumas revoluções, como a que deu uma nova perspectiva ao negro americano e a que acabou com a intervenção no Vietnã. Foi sempre uma mistura fascinante de palhaço e super-homem”.

O escritor gaúcho Luis Fernando Verissimo: UFC, sangue e violência vazia. Foto: Divulgação.

O escritor gaúcho Luis Fernando Verissimo: sangue e violência pura no UFC. Foto: Divulgação.

Quem ainda hoje estranha o sucesso da troca de bordoadas na TV talvez não saiba que o primeiro evento esportivo a ser filmado, na história da humanidade, foi uma luta. Mais um ponto para o boxe. Quase um século depois disso, porém, o MMA na TV segue levando suas pancadinhas.

O fato é que muita gente boa gosta de MMA. E muita gente boa detesta. Muitos ainda não entendem direito quando a luta vai ao chão. Normal, trata-se de um esporte novo, consolidado em 1993. E é bruto, sim. Mas apontar o MMA como “apenas a violência em estado puro”, como Verissimo escreveu, parece exagerado. É algo como ver na TV um esquiador saltando de uma rampa, nos Jogos de Inverno, e dizer que trata-se apenas de um maluco se atirando num abismo. Tem técnica, tem treino, tem boas doses de coragem, e até um pouco de maluquice. Normal.

Muitas vezes, quem não pratica artes marciais não compreende que vestir um kimono, trocar golpes com sua sombra ou tentar derrubar um oponente, seja pela força ou pela inteligência, é um prazer edificante e revigorante como andar na praia, nadar no mar ou correr atrás de uma bola.

Seja como for, há uma bela lição e talvez até uma contribuição ao esporte num certo trecho do texto de Verissimo:

“…[O MMA] é o ‘catch’ despido da fantasia, com sangue de verdade. Não há mais mocinho e vilão, apenas duas máquinas de brigar, brigando”.

Dando um desconto, será que muita gente boa torce ainda mais o nariz para o MMA por ver os atletas como simples máquinas? Por desconhecer a história de vida, o que pensam, e o que querem provar com mais aquela vitória?

Entre os faixas-pretas de Jiu-Jitsu, Forrest Griffin era um policial. Minotauro, o baiano atropelado por um caminhão, é uma inspiração ambulante para quem passa dificuldades. Wanderlei, que ajudava o pai no balcão, tem muito a nos ensinar. Renzo, um dos pioneiros, lê James Joyce entre uma briga e outra. Toquinho treinava derrubando bezerros e dormiu embaixo do viaduto do Rebouças antes de treinar na BTT. Demian, que luta neste sábado no canal Fox nos EUA, quase foi jornalista, e talvez sonhasse em ser alguém como Verissimo.

Como se vê, o esporte também tem seus “super-homens”, além dos palhaços, todos fascinantes. Pode ser esta uma carência do UFC, em especial nos telões durante o show. O evento talvez esteja divulgando pouco, ou de forma apressada, o lado humano dos artistas do espetáculo para o espectador acidental. Quem é o vilão naquela luta? Para quem o cara vai querer torcer? Algo que o Pride japonês fazia com maestria.

Enfim, mais drama e menos sangue não fariam mal a ninguém, quem sabe com a exclusão da cotovelada no chão.

Quem está dizendo isso nem somos nós, é o expert Verissimo, fã de Ali, Tyson e quem sabe um dia, dos astros do UFC.

Verissimo com um exemplar de GRACIEMAG nas mãos, no Rio. O mestre não está de bobeira.

Verissimo com um exemplar de GRACIEMAG nas mãos, no Rio: o mestre sempre foi ligado em lutas. Foto: Raphael Nogueira.

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