Rafael Dallinha (Rada Jiu-Jitsu) lembra desafios e a saga do esporte na Califórnia

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O faixa-preta Rafael Dallinha, professor em La Jolla, aportou na Califórnia com o terreno já capinado. Muitos anos antes de sua chegada, o ensolarado estado americano tinha sido desbravado por feras como Rickson Gracie, Nelsinho Monteiro, Fabio Santos e outros professores lendários que emigraram do Brasil.

Hoje, perto de completar duas décadas por lá, o professor analisa o que mudou nos últimos anos, os caminhos que a arte marcial ainda tem a percorrer e como sua academia vem se fortalecendo.

GRACIEMAG: Como foi sua mudança do sul do Brasil para a Califa? Foi uma decisão planejada?

RAFAEL DALLINHA: Nada. Eu vim para os Estados Unidos em 2004, para lutar o Pan da IBJJF e ficar seis meses, com o objetivo de aprender inglês. Eu estava cursando o último semestre da faculdade no Brasil, mas acabei me dando bem no Pan. Fiquei motivado e em seguida ganhei alguns campeonatos, após lutar com gente bem dura, de nome no esporte. Com isso chamei atenção e recebi um patrocínio, do Gilberto da Jiu-Jitsu Pro Gear. Assim, fui ficando. Lutei todo fim de semana, em todo torneio que aparecia, treinando o máximo que podia. E assim já se passaram quase duas décadas, uma vida. E sigo aprendendo e me divertindo aqui.

Como foram seus primeiros dias?

Eu vim encaminhado para treinar com o professor Rodrigo Medeiros em San Diego, que era muito amigo do meu professor Murilo Rupp, em Santa Catarina. Fiz sete lutas naquele Pan 2004, era até bastante competidor para a época. O Jiu-Jitsu já começava a se consolidar, e o torneio foi irado. Acabei então morando em Los Angeles por dez meses, onde treinava com o professor Gerson Sanguinito. Logo depois me mudei para San Diego para ficar perto da academia do Rodrigo Medeiros, que estava muito forte já. Muitos dos grandes lutadores apareciam para treinar com a gente antes das competições.

Você presenciou algum fato que mudou a cara do esporte, e atraiu mais gente para as academias locais?

Eu senti uma grande mudança em 2007, quando a IBJJF trouxe o Mundial para a Califórnia, em Long Beach. Ali começamos a ver o Jiu-Jitsu ganhar muita tração e atrair alunos de todos os cantos. Era um panorama que já vinha desde o boom do UFC, da audiência maciça do “The Ultimate Fighter” em 2005. Mas com o Mundial o esporte deu mais um salto.

Como os californianos encaram os treinos?

A modalidade aqui é muito forte, e profissional. Acho que os locais levam as coisas muito a sério, seguem um treinamento muito profissional e se comprometem. O Jiu-Jitsu e as academias mudaram muito desde que cheguei em 2004.

Há muitas academias hoje na sua região. Como você vê a concorrência?

Há de fato muitas academias por aqui, especialmente em San Diego, mas nem assim o mercado me parece saturado. Eu vejo com outros olhos: quanto mais academias, mais conhecido fica o Jiu-Jitsu. E quanto mais reconhecimento, mais alunos teremos sempre. Tenho duas academias, uma localizada em La Jolla e outra em Oceanside. As duas escolas Rada Jiu-Jitsu são rodeadas de academias, mas isso só nos faz crescer e trabalhar melhor. Quem não fizer um trabalho profissional vai aos poucos perder espaço e mercado. O segredo, como em qualquer profissão, é sempre se reciclar e estudar.

Você ralou muito antes de se tornar um professor reconhecido?

Trabalhei com tudo que você possa imaginar. Estacionei carros, limpei banheiros, entreguei pizza e muito mais, mas sempre sobrava disposição para ralar nos tatames. Cheguei certo tempo a trabalhar duro numa empresa de mudança, em que fazia até três mudanças por dia. De noite, ia treinar, sempre cheio de energia e motivação. Eu encarava os trampos como uma etapa da vida, eu sabia que lutando e treinando, em breve iria abrir a minha escola, e viver do e em prol do Jiu-Jitsu. Mas não foi fácil.

O professor Rafael Dallinha, em La Jolla, San Diego. Fotos: Divulgação

E compensou?

Foi uma estrada difícil, mas hoje é só alegria. Tenho uma escola linda em La Jolla e nossa primeira filial em Oceanside, com alunos, atletas e amigos que admiro demais. Hoje deixei de lado a formação de craques do esporte e me concentro mais em qualidade de vida, em criar pessoas do bem, pessoas que vão dar um treininho para fortalecer sua saúde física e mental. Hoje vivo pelo prazer de treinar, vou competir quando dá, mas o principal é estar com os amigos de verdade, encontrar os velhos parceiros de surfe e ficar com a família. No fim das contas, afinal, é isso o que interessa. Com tudo o que aprendi desde que comecei lá no sul, meu objetivo é fazer do Jiu-Jitsu a ferramenta mais divertida e eficiente para mudar a vida das pessoas de uma maneira positiva.

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