Uma medida para acabar com o fechamento nas finais do Jiu-Jitsu?

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Marcus Bochecha e o velho companheiro Cara de Sapato na final do absoluto do Pan 2012: apenas um abraço pelo ouro. Foto: Ivan Trindade/GRACIEMAG.com.

Os companheiros Marcus Buchecha e Antônio Cara de Sapato, na final de absoluto que não houve no Pan 2012: apenas um abraço pelo ouro. Foto: Ivan Trindade

Se o futebol, esporte centenário, debate até hoje sua ética, regras e regulamentos, por que no Jiu-Jitsu seria diferente? Em cima do tatame, a polêmica gosta de vestir o kimono quando o assunto é o fechamento das chaves nas finais, ou seja, o acordo de cavalheiros entre dois colegas de equipe que chegam juntos à final – e o único golpe de Jiu-Jitsu que a torcida vê é um abraço. Se você é leitor do GRACIEMAG.com, já viu esse tópico aqui outras vezes. Mas, será que uma solução criativa pode amenizar o problema? Um professor acha que sim.

Claudinho Arrais, faixa-preta e organizador do Campeonato Sul-Americano de Jiu-Jitsu, viveu uma situação curiosa no fim do ano passado. Ele conta: “Houve um campeonato em Santa Catarina no qual quatro atletas da mesma equipe fecharam já nas semifinais. O pior é que o prefeito da cidade estava presente, para realizar a entrega do prêmio ao campeão absoluto. Tive então de me desdobrar para tentar fazê-lo entender que no Jiu-Jitsu isso era passível de ocorrer. De forma educada, mas brincando, ele disse que a categoria principal de um campeonato não podia ficar sem final, e se ofereceu para fazer, ele, uma final contra qualquer um dos quatro”, relembra Arrais.

Ruim para o fã de Jiu-Jitsu, péssimo para a TV

Após sofrer o problema na pele, e ciente de que é um desconforto enfrentar um amigo ou irmão, Claudinho maquinou uma solução simples para sanar o problema.

“Entendo que lutar com companheiros de treinos seja uma situação muito delicada, e isso deve ser respeitado sempre. Por outro lado, também por respeito, não podemos deixar o campeonato, os fãs e as TVs sem as lutas que decidem os títulos. Tal prática de fechar a chave foi consagrada no Jiu-Jitsu numa época em que não existia a internet, e as informações técnicas eram guardadas num sigilo quase militar, o que não acontece hoje com tantos seminários, DVDs, vídeo aulas e o próprio YouTube”, remonta Claudinho.

“Minha sugestão é que o campeão e o vice que fecharem a chave recebam as medalhas normalmente, afinal chegaram lá com justiça, graças a muita dedicação, muitos treinos e lutas limpas. No entanto, os pontos de ambos não seriam computados na disputa de equipes. A medida protegeria o campeonato e os fãs, e faria o atleta pensar menos na vaidade e mais no time”, diz o faixa-preta de Rilion Gracie.

(Veja a seguir JT e o amigo e companheiro de time Jimmy Harbison lutando à vera, na final do absoluto do Houston Open 2012:)

Para Claudinho, tal punição pode começar a mudar o quadro e ajudar a empurrar o Jiu-Jitsu para frente, não para trás.

“Sem finais, sem mídia, sem patrocínios”

“A opção pelo fechamento fere demais o Jiu-Jitsu. O campeonato perde o seu propósito sem a luta final. O público perde ao não assistir à grande decisão. A grande mídia não especializada (leia-se TV) põe em duvida se vale a pena noticiar um campeonato que pode não ter luta final. Sem mídia, sem grandes patrocínios. Logo, é injusto que a equipe que permita que isso aconteça não sofra nenhuma pena por sua atitude, ela que é responsável por formar o atleta. Concordo que todos devem ter o direito de decidir o que é o melhor para sua equipe, desde que não prejudique o crescimento do todo, no caso, o Jiu-Jitsu”, reforça Claudinho, que também tem sua academia em Florianópolis.

O professor não é ingênuo a ponto de achar que isso solucionaria tudo. Mas vê com bons olhos “forçar” essa mudança de mentalidade, mesmo que isso leve a treinos de luxo entre amigos nas finais.

“Claro, surgirão outras formas de evitar essas lutas finais por atletas da mesma equipe. Alguns vão simular lesões, outros vão se recusar a lutar, outros vão fazer apenas uma luta marmelada, de exibição. No caso de suspeita de simulação de lesão, uma avaliação médica com atestado do doutor responsável pela competição talvez fosse uma solução, mas mesmo uma luta de exibição seria melhor que o juiz simplesmente erguer o braço de um lutador, para frustração geral. Enfim, tudo pelo desenvolvimento do Jiu-Jitsu, esporte que educa e nos dá tanto orgulho de fazer parte, como atleta, professor, organizador e dono de equipe”, conclui Claudinho.

E você, leitor, acha que a ideia pode ganhar corpo? Comente abaixo, no melhor fórum para debate sobre o Jiu-Jitsu, o GRACIEMAG.com.

O organizador bem acompanhado: André Santos, Crolin Gracie, Claudinho e Carlinhos Gracie. Foto: Divulgação.

O organizador bem acompanhado: André Santos, Crolin Gracie, Claudinho e Carlinhos Gracie. Foto: Divulgação.

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