O discurso de Robson Gracie

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Robson Gracie, atual patriarca da família. Foto: Acervo Pessoal

Robson Gracie, atual patriarca da família. Foto: Acervo Pessoal

Na festa em homenagem a Helio Gracie, após o aplaudidíssimo discurso do médico e amigo Pedro Valente, Carlos Robson Gracie adiantou-se para um abraço. Foi a senha para Rickson passar gentilmente o microfone ao faixa-vermelha filho de Carlos Gracie, na sede náutica do Vasco, na Lagoa.

“Helio Gracie dizia que este era um dos mais corajosos da família”, passou a bola Valente.

Com o indefectível oculinhos, mestre Robson subiu ao pequeno palco forrado de tecido vermelho e proferiu seu discurso, na cerimônia em homenagem ao professor falecido em janeiro.

“Primeiro me alegra ver aqui tantos amigos, de mais de 50 anos, reunidos. Eu devo minha vida a Helio Gracie. Foi ele quem me criou, de modo que foi meu pai. Mas devo minha vida a ele de verdade.

“Quando chegava um valente na academia duvidando do Jiu-Jitsu, o professor pedia que o incauto escolhesse um de seus instrutores para se testar. Como eu era um galinho, o menor de todos, sobrava para mim sempre, por isso fui o que mais fiz desafios lá dentro.

“Discordávamos muitas vezes, e ele dizia: ‘Robson é muito valente, mas é muito malandro…’ Após 1964, enquanto a academia Gracie da Rio Branco era frequentada por militares, ministros e outras altas autoridades do golpe militar, eu escolhi outro caminho, escolhi ajudar meus amigos revoltosos de esquerda. Ou seja, fui contra a freqüência da academia.

“Um dia cheguei na praia e comecei a ver todos os meus amigos subversivos se aproximando da areia, descobri que o plano era assassinar o ministro Mario Andreazza, que jogava vôlei por lá. Discuti, briguei e consegui evitar o pior.

Não fossem os milhares de seguidores de Carlos e Helio Gracie, nossa família e nossa arte seriam uma lenda hoje, uma lenda como o boitatá, as sereias da Amazônia e aquela ferrovia norte-sul” Carlos Robson

“Mas acabei preso tempos depois, amarrado em casa com a faixa-amarela do meu filho Renzo. Fui levado para ser torturado, e vi coisas impensáveis. Ali dentro, ninguém respeitava autoridade, e vi general tomando tapa de sargento. Helio Gracie foi quem interveio, com Figueiredo e o general Sylvio Frota, e me salvou. Um mês depois de Helio me procurar, me deixaram numa estrada. Dos 50 que estavam presos comigo, 49 morreram. Só Robson Gracie saiu vivo.

“A mãe do senador Arthur Virgílio foi quem me acolheu, e Helio me levou de volta para casa. Rickson, Rorion, não achem que ele foi mais pai de vocês do que meu, e de Carlson, Geysa, Rose, Sonja, Oneica. Não se pode construir algo sólido, juntar o tijolo com a argamassa, sem a parte macia e a parte dura. Meus irmãos, não podemos nunca dissociar Carlos e Helio Gracie, os irmãos que junto com Osvaldo, Gastão e George Gracie, levaram o Jiu-Jitsu a ser esse sucesso mundial hoje.

“E, se estamos aqui hoje, temos que agradecer a todos vocês, jovens e experientes praticantes de Jiu-Jitsu. Não fossem os milhares de seguidores de Carlos e Helio Gracie, nossa família e nossa arte seriam uma lenda hoje, uma lenda como o boitatá, as sereias da Amazônia e aquela ferrovia norte-sul, que sumiu sem ser construída. Obrigado”.

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