“Mar calmo não faz bom marinheiro”, ensina professor Richard, nosso GMI na Austrália

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O Jiu-Jitsu, há muito, tornou-se um esporte que transcende fronteiras. Mais: a arte marcial, apesar de ser vista de fora como uma luta tenaz, também é capaz de criar um ambiente de harmonia entre os praticantes.

É o que aprendeu o nosso GMI Richard Gonçalves, líder da equipe Live Well Martial Arts, sediada em Sydney, na Austrália. O faixa-preta carrega a bandeira da arte suave na Oceania e tem se destacado como professor e competidor nos tatames australianos.

Em bate-papo com a equipe GRACIEMAG, Richard compartilhou seus aprendizados como líder de uma equipe no exterior e deu dicas de como ter sucesso como professor de Jiu-Jitsu fora do Brasil.

GRACIEMAG: Que dicas você daria ao leitor de GRACIEMAG que também almeja migrar para fora do Brasil, em especial para a Austrália, e ter sucesso no Jiu-Jitsu?

PROFESSOR RICHARD: O Jiu-Jitsu tem crescido muito na Austrália em todos os aspectos, tanto no número de novos adeptos, quanto na quantidade de competidores. Aqui existem muitas oportunidades, porém não é fácil. Você precisa se dedicar ao máximo e correr atrás para os planos se concretizarem. A minha principal dica para professores de Jiu-Jitsu que queiram ensinar a arte ao redor do mundo é a coragem. Sem ela, você fica estagnado.

Além dessa ousadia, o que mais faz diferença, professor?

Racionalmente falando, é preciso procurar entender o mercado local, a cidade. Pesquise antes de tomar qualquer atitude. A chance de dar errado é quase zero se você fizer tudo com preparação, organização e coragem.

Quais foram os principais desafios que você precisou vencer ao longo da sua carreira?

Foram muitos (risos). Porém, acredito que um dos principais era conciliar minha carreira na área financeira com o Jiu-Jitsu. Eu trabalhava bastante, então tinha de encaixar os treinos durante o dia. Fazia um treino Jiu-Jitsu pela manhã, malhava na hora do almoço e quando dava fazia outro treino à noite. Essa foi minha rotina durante anos – e sou pai de família desde os 29 anos. Quando olho para trás, vejo que tudo valeu muito a pena. Afinal, aprendi uma das coisas mais importantes da vida que é saber administrar o tempo. O dia tem 24 horas e cabe muita coisa nele.

Você gosta mais de competir ou de dar aulas?

Gosto dos dois e vou explicar o porquê. A competição me ajuda a me manter focado, disciplinado, treinado. Sem contar que mesmo após todos esses anos competindo, ainda sinto aquele frio na barriga, aquela vontade de ganhar. E isso me enche de motivação. Sinto que vejo os alunos carregando o legado quando dou aula. Poder ver a evolução deles, tanto no esporte como na vida, me deixa muito feliz e realizado. Nada melhor do que repassar o que você sabe. E mais importante: aprender o que ensina. O professor precisa estar ativo nas competições, mostrar aos alunos na prática, não acredito em professor de “teoria”, o bom professor mostra à vera.

Qual teria sido sua grande vitória como lutador? E qual foi a derrota mais dura?

Acho que a glória maior foi no Brasileiro de 2016, quando não tomei nenhum ponto em quatro lutas e finalizei a final em uma das minhas posições favoritas, a chave-peruana. É difícil falar sobre a derrota mais dura, porque todas são. Mas, uma especial foi contra o Henrique Ceconi, na final do AJP, em Gramado, em 2019. Foi frustrante porque eu estava muito confiante e não consegui fazer nada durante a luta.

Quem foi o seu grande ídolo na carreira?

Acho que a palavra ídolo é muito forte. Há lutadores que admiro e sempre gostei de ver lutar. Como o Margarida, Jacaré e o Saulo Ribeiro. Pelo lado empreendedor, vejo o Carlos Gracie Jr como uma grande referência. Ele criou o caminho para que lutadores de Jiu-Jitsu pudessem viver do esporte. Não fosse por ele, talvez não teríamos a arte nos quatro cantos do mundo como temos hoje.

Quais são as suas metas futuras aí na Austrália?

Minha principal meta na Austrália é expandir a marca Live Well Martial Arts para que mais pessoas possam conhecer o Jiu-Jitsu e mudar de vida por meio do esporte, socialmente ou economicamente. É importante que eles descubram o seu potencial graças ao esporte. Quando temos pessoas engajadas em cuidar do corpo, mente e alma, criamos uma sociedade livre de vícios e mais saudável, com menos violência. O Jiu-Jitsu é a grande ferramenta transformadora.

Quais são as principais semelhanças e diferenças do mercado do Jiu-Jitsu na Austrália em comparação ao Brasil?

O mercado na Australia ainda é pequeno. Não temos um universo de academias como no Brasil, e nem teremos pelo tamanho da população do país. No entanto, temos muito Jiu-Jitsu de qualidade por aqui. O esporte sem kimono tem crescido bastante, o calendário de competições está cada vez mais ativo. As cidades recebem torneios praticamente todos os meses. Um fator interessante por aqui são academias sem nenhuma grande bandeira por trás. Há diversos professores criando sua marca pessoal, ensinando do jeito que acreditam sem seguir padrões estabelecidos por outras associações que às vezes não têm a mesma sintonia. Assim, levo a marca Live Well Martial Arts com muita personalidade, pois acredito que não existe bandeira maior que a do Jiu-Jitsu.

Você tem um mantra para os momentos duros?

Eu não me interesso muito por frases motivacionais. Sou um cara da fé. E acredito que situações difíceis são nada mais do que mais um aprendizado. A vida precisa de momentos bons e ruins, o mar calmo é legal, mas é a tempestade que ensina o marinheiro. O meu lema talvez seja: esteja sempre preparado para o bom e para o ruim.

Qual é a filosofia por trás da sua escola, a Live Well Martial Arts?

Carregamos um nome forte, que prega “viver bem”. Levamos à risca tudo relacionado ao nosso nome. Nosso foco é que cada pessoa que entre em nossa academia tenha uma experiência incrível e se sinta parte da nossa família. Prezamos por um ambiente seguro onde os alunos possam desenvolver suas habilidades com uma energia boa de amizade e treinos duros. Em resumo, nossa filosofia principal é transmitir para cada aluno um ambiente seguro e de muita harmonia.

Além do Jiu-Jitsu, você pratica o surfe na Austrália, certo?

Sim, o surfe surgiu na minha vida antes do Jiu-Jitsu. Ganhei minha primeira prancha aos 7 anos. O surfe é um esporte incrível que me ajuda muito na concentração, no condicionamento e no controle da adrenalina – este é para mim, um dos principais benefícios. Às vezes brinco com os alunos que o Jiu-Jitsu é fácil perto do surfe. Afinal, quando alguém te estrangula, você tem a opção de dar os tapinhas e sair fora. Ao surfar, quando o mar fica grande, você não tem a opção de desistir. Ou você tem a mente blindada ou o risco é grande.

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