Do Rio ao Havaí: Conheça Patrick Almeida e sua história de paixão pelo Jiu-Jitsu

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Patrick em ação na semifinal do Moscou Open, na faixa-preta. Foto: IBJJF

Da infância em Campo Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro, até ministrar aulas na Rússia e seguir com treinos intensos de competição no Havaí. Patrick Almeida conta sua trajetória muito pouco usual das que encontramos no Jiu-Jitsu: abandonou a carreira na medicina para seguir sua paixão pelo esporte.

Muita coisa aconteceu no hiato desta história repleta de desafios, consistência e determinação, tudo graças ao bom e velho Jiu-Jitsu. Nada foi fácil para o faixa-preta Patrick Almeida, hoje com 26 anos, atleta formado pelos professores Everaldo Penco e Fabinho Oliveira, na Carlson Gracie Recreio. Sua trajetória de sucesso pode servir como inspiração para você, sonhador que quer seguir com ainda mais afinco em busca dos seus objetivos.

O Jiu-Jitsu surgiu na vida de Patrick, como em muitos outros casos, quando ainda era jovem, para combater o bullying que sofria na escola. Patrick era alvo de constantes apelidos e agressões constantes na escola, até que seu primo mais velho sugeriu as que ele entrasse nas aulas de Jiu-Jitsu. Os pais de Patrick no começo torceram o nariz, com receio da imagem ainda presente dos valentões da década de 90, no entanto acabaram cedendo ao esporte.

Fabinho Oliveira com Patrick e Everaldo Penco. Foto: Arquivo pessoal

Sua primeira lição de Jiu-Jitsu foi sobre adaptação. Com um kimono emprestado e muita vontade de aprender, Patrick usava seu tempo após as aulas para ir de bicicleta até a academia e dar seus primeiros “rolas” na academia Vikings, com o professor Elienai Rodrigues. Tempos depois o professor se mudou e Patrick, já morando no Recreio, teve a oportunidade de treinar na Team Nogueira, com o professor Everaldo Penco, que vinha a ser seu mestre ao longo de sua carreira como atleta.

A vida de treinos era intensa, mas o plano maior naquele momento era cursar medicina em uma faculdade federal, já que, Patrick tinha excelentes notas na escola. O vestibular o levou para um caminho diferente, que foi cursar Engenharia em Minas Gerais, e lá seus primeiros passos como professor começaram num pequeno projeto social. Posteriormente, uma paralisação geral da faculdade em Minas levou Patrick de volta ao Rio, surgindo uma outra oportunidade de cursar Medicina, desta vez na gélida Rússia.

“Fui com tudo para Kursk, uma cidade muito fria e extremamente remota”, conta Patrick, “naquela época não tinha Jiu-Jitsu, mas o sambo, judô e wrestling eram parte do cotidiano deles. Na minha faculdade tinha sambo e eu resolvi tentar. Dei a sorte de chegar lá no dia de treino de solo e eu com o Jiu-Jitsu deitei e rolei sobre os russos. Ganhei o respeito deles, mas eles não me aliviaram no treino de quedas. Não sabia o que era chão ou teto na aula de derrubadas. No treino de trocação era a mesma coisa, só que ainda pior. Passei a frequentar a igreja Bola de Neve de lá e me disseram que eles tinham planos de abrir um treino de Jiu-Jitsu, só que faltava um professor. Me candidatei e as turmas foram crescendo”. Mal sabia o faixa-preta que ele teria sido um dos pioneiros do Jiu-Jitsu em Kursk, deixando um legado na cidade.

Patrick no alto do pódio com seus alunos, no Moscou Open de 2014. Foto: Reprodução

Com a experiência adquirida dando aulas e uma indicação do amigo Mahamed Aly, Patrick mudou-se para São Petersburgo, também na Rússia, para treinar e ajudar numa academia de Jiu-Jitsu, pedindo transferência para a Universidade de Medicina de São Petersburgo. Conforme Patrick ia lutando e vencendo a maioria dos campeonatos nacionais, sua paixão pelo Jiu-Jitsu começou a falar mais alto do que sua ambição pela Medicina. Patrick então decidiu se arriscar, largar tudo e ir em busca de sua carreira como atleta. Essa foi a primeira vez, de muitas, que o faixa-preta aprendeu a se reinventar.

De volta ao Rio de Janeiro, Patrick ajudou na fundação da Carlson Gracie Recreio e, posteriormente, começou a atuar como professor, dando algumas aulas particulares de Jiu-Jitsu. Uma de suas alunas pagou adiantado seu montante de horas, e seu maior sonho no Jiu-Jitsu seria concretizado: lutar o Mundial na Califórnia.

Com passagens e hotel reservados, tudo estava certo para competir no maior torneio do Jiu-Jitsu, se não fosse por um imprevisto: uma infecção no ouvido atrapalhou a reta final dos treinos e o peso não desceu como deveria, forçando Patrick a subir dos médios para o peso pesado. Mesmo com toda a dificuldade e contra recomendação médica, e as lágrimas ao alcançar a Pirâmide de Long Beach, o casca-grossa entrou para lutar, sendo superado.

“Mais uma vez o Mahamed esteve ao meu lado para me ajudar”, revelou Patrick. “Tive problemas com a passagem de volta para o Brasil que me forçou a ficar mais um tempo nos EUA. Não fraquejei e voltei para o Rio, onde teria outra experiência sensacional.”

Patrick com o amigo de longa da Mahamed Aly. Foto: Arquivo pessoal

Patrick falava dos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro. Uma amiga da família indicou o esportista para trabalhar no evento, coordenando a área de pesagem de diversas modalidades como judô, taekwondo e boxe. Essa bagagem o fez receber um novo convite para retornar ao país que foi indispensável na sua carreira: a Rússia. Dessa vez Patrick não ia como estudante de medicina, mas sim professor de Jiu-Jitsu e parceiro de uma das maiores redes de academia da grande São Petersburgo.

“Cheguei lá numa época em que o governo apoiava torneios de newaza, luta agarrada com finalizações”, lembrou Patrick. “Nossos alunos treinavam o Jiu-Jitsu brasileiro e despontavam nessas competições. No meio dessa correria de aulas e torneios, o Everaldo Penco viajou até a Rússia para uma turnê de seminários, e ao chegar lá me graduou à faixa-preta. Eu inclusive estava treinando para o Europeu de Jiu-Jitsu, com foco na faixa-marrom, mas ele disse que eu teria que me virar e lutar de faixa-preta, porque me graduaria assim mesmo.”

Já como professor, Patrick ganhou a sua categoria no peso e conquistou o absoluto sem kimono no Moscou Open, além de arbitrar em torneios pela Europa em cidades como Copenhague, Praga, Lisboa e Moscou, que já arbitrava antes. Infelizmente, num desses torneios, a fera acabou rompendo dois ligamentos do joelho e teve que se reinventar pela segunda vez. As aulas diminuíram devido à gravidade das lesões, tendo alguns alunos se desligado pela falta do professor. Passado um tempo, ele e o seu então sócio, Igor Buchman, receberam uma proposta interessante de vender a academia. E assim o fizeram.

Com seu joelho lesionado e sendo forçado a ficar fora das competições por um período, Patrick aproveitou para viajar o mundo e conhecer outros países – mais de 30, pelas contas do atleta. Sua temporada sabática terminou quando recebeu uma proposta para lecionar em Denver, nos EUA, surgiu, mas outro fator embolaria uma equação tão simples.

Em passagem por Lisboa, Patrick disputou e venceu o open da capital. Foto: Reprodução

“O Tiago Oliveira, que é técnico de futebol e treinava comigo e com o Everaldo no Recreio, me procurou na intenção de me levar ao Havaí, para dar um seminário. Eles enviaram as passagens e, ao chegar lá, conheci o Keola Akao, um havaiano fora de série que me introduziu à cultura local. Acabei me apaixonando pelo lugar, pelas pessoas e sua hospitalidade. Ele comentou que buscava expandir a academia, formar um time de competição e tal, então falei da proposta que tinha em Denver para dar aulas, mas ainda assim gostaria de ficar no Havaí e continuar meu sonho de ser um atleta de ponta. Keola me fez uma contraproposta, me oferecendo todo o suporte e acordamos que eu ficaria. Também tive a sorte de ter o apoio do Horlando Monteiro, faixa-preta da Kimura, que também está aqui no Havaí, como treinador da equipe. Temos idade e pesos parecidos, podendo nos ajudar mutuamente no processo. Estou há poucos meses aqui e estou aplicando para ficar como atleta, e poder assim viver o meu sonho novamente.”

Com uma história que começou no Rio de Janeiro, fazendo aulas de Jiu Jitsu para se defender na escola, depois passando por ministrar aulas na Rússia em paralelo ao seu curso de medicina e, por fim, seguindo para o Havaí, onde segue atualmente dando continuação à sua carreira de atleta. Escolha de sonhos, mudanças de planos e, principalmente, muita determinação e treinos intensos. Patrick Almeida aprendeu a se reinventar a cada imprevisto e oportunidade que a vida lhe proporcionava. “É muito difícil ficar longe das pessoas que amamos, família, amigos e abrir mão de tantas outras coisas por um objetivo, pois esse é seu sonho e você precisa vencer na vida. O preço de abrir mão de tantas coisas é caríssimo, mas sem isso nada é possível”, conta o faixa-preta.

Patrick em duelo acirrado contra o craque Tommy Langaker, em Copenhagen. Foto: Reprodução

Desta forma, podemos concluir que mesmo um jovem diante de sonhos tão distintos e tendo que se reinventar diversas vezes ao longo de sua trajetória, pôde alcançar o mundo e seguirá batalhando até conquistar seus objetivos na carreira de atleta. Mesmo em tempos de pandemia, com quarentena em todas as partes do mundo, a bagagem de superações e força de vontade de Patrick faz com que o professor trate de forma especial o momento, já com planos para o fim da tormenta.

“‘O vencedor é vencedor por vencer. O perdedor é perdedor por ele desistir.’ Sigo correndo atrás, com muita vontade. Nem essa quarentena vai me parar. Operei meu joelho durante o severo inverno da Rússia, não conseguia me movimentar pelo bairro por conta do frio e do gelo acumulado na rua, que escorregava muito. Estive praticamente em uma semi-quarentena nessa época, e aprendi que preso em casa, ou você se afunda ou você se ergue ao máximo. Não podemos nos deixar descansar, ficar em casa nos torna preguiçosos. Temos que lutar contra o conforto. Tenho aproveitado a quarentena para treinar mais, ler mais e fazer vários cursos online. Aproveite o seu tempo para investir em você e em se tornar um alguém melhor”, concluiu a fera.

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