
Ricardo de la Riva e sua famigerada guarda. Foto: Gustavo Aragão/GRACIEMAG
[ Por: Willian von Söhsten * ]
Costumo brincar com meus alunos que há tantos golpes no Jiu-Jitsu que eu poderia escrever folhas e folhas de um caderno apenas com seus nomes. São posições que foram recepcionadas pelo Jiu-Jitsu brasileiro com seus títulos originais como o katagame, nomes americanizados como o armlock ou abrasileirados como a baiana e a americana.
Porém, há golpes que trazem consigo uma história ainda mais interessante, uma ligação com lutadores que, de uma forma ou de outra, causaram boa impressão perante a dinastia Gracie e seus seguidores.
O primeiro é a famosa chave kimura. Conhecida originalmente como ude garami, foi imediatamente rebatizada no Brasil pela família Gracie após a épica luta entre o professor Helio e Masahiko Kimura. O judoca japonês da escola Kodokan era um fenômeno em sua modalidade, sendo considerado o mais jovem godan (quinto dan na faixa-preta) da história daquela arte.
Mundialmente conhecido em uma época que não existia internet, em 1951 veio ao Brasil para enfrentar o mirrado e destemido Helio Gracie. Havia considerável diferença de tamanho, peso e idade entre os dois e mesmo assim o patriarca da família mais famosa das artes marciais brasileiras resistiu por 13 minutos ao chamado “gigante japonês”, antes de sucumbir à eficiente chave de ombro.
Dali em diante, o golpe passou a ser chamado, dentro das academias de Jiu-Jitsu, como kimura, uma alusão a um dos poucos lutadores que conseguiu vencer o pequenino Gracie. (Confira a técnica, a seguir.)
O segundo golpe que lembramos aqui também foi batizado com o nome de um judoca, mas dessa vez um brasileiro. Se numa competição o seu professor disser a você para tentar o sode guruma jime, provavelmente você ficará perdido, sem saber o que fazer. Pois esse é o nome japonês do que aqui conhecemos como estrangulamento ezequiel.
Ezequiel Paraguassu é um grande judoca brasileiro que participou das Olimpíadas de Seul-1988 e Barcelona-1992. Antes de embarcar para os Jogos na Coreia do Sul, o lutador brasileiro decidiu afiar suas técnicas de solo e para isso procurou a academia do grande mestre Carlson Gracie.
Contrariando uma das grandes premissas do Jiu-Jitsu, que diz que o lutador por cima precisa transpassar a guarda do oponente para conseguir a finalização, Ezequiel fez muitas vítimas nos treinos ao aplicar o sode guruma jime de dentro da guarda.
No judô, o golpe não ganhou tanta popularidade pois a restrição de tempo para o combate no solo inibe um pouco a sua aplicação. No Jiu-Jitsu, sem essa problemática, a técnica ganhou força e foi amplamente disseminada. O curioso foi que Ezequiel mudou-se depois de disputar as Olimpíadas para a Suíça, de onde não fazia ideia que seu nome era largamente associado ao golpe nas academias de Jiu-Jitsu do Brasil afora.
Cerca de 19 anos mais tarde, ouviu de um outro professor, durante uma competição, a instrução para que o aluno arrochasse um “ezequiel”. Foi então que aqueles períodos de treino em Copacabana, na rua Figueiredo Magalhães 414, vieram a sua mente. (E você, sabe encaixar o golpe do Sr. Paraguassu? Confira abaixo.)
Por fim, a famosa guarda com gancho De la Riva é um dos grandes marcos do Jiu-Jitsu moderno. Lapidada instintivamente por Ricardo De la Riva, ela ganhou fama após ser usada contra Royler Gracie, até então invicto no peso-pena, durante a Copa Cantão de 1986. Assim como as demais posições, este estilo de guarda já havia sido verificado no judô, mais precisamente o do estilo nonatei.
Assim, Kimura, Ezequiel e De la Riva são nomes que trazem consigo mais do que uma referência técnica, carregam um pouco da boa história do Jiu-Jitsu. E você, amigo leitor, gosta de aplicar algum deles durante o rola? Relembre por fim a guarda De la Riva, e bons treinos!
* Willian von Söhsten é formado em jornalismo e direito, com pós-graduação em semiótica. É faixa-preta de Cícero Costha e professor de Jiu-Jitsu na academia Team Nogueira, em Ribeirão Preto, SP.
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Me digam aí uma alavanca ou uma técnica que Hélio criou e que já não tenha sido criada pelo judô…
O faixa branca aqui vai falar um absurdo: parece que Roberto Gordo Correia fez mais pelas técnicas do jiu jitsu do que o senhor Hélio Gracie.
Com todo o respeito. Oss!
Nao necessariamente criou as tecnicas,mas desenvolveu e adaptou todas elas.
Rickson enfileirava os faixas pretas Japoneses,considerado Quase um Deus por la.
Queria ver um dia um desafio dos melhores faixa preta de JJ Puro Japones,e De BJJ para ver no que que dava.
Criar, criar ele não criou como ele disse, mas reviveu o Jiu-Jitsu tradicional japones que foi sumindo com o surgimento do judô. De jiu-jitsu x judo tem Helio Vs Kimura; Royce Vs Yoshida. O que o mestre Hélio de fato fez foi defesa pessoal dentro do jiu.
Concordo com a primeira parte. O Judo esportivo em que se limita o tempo no chão a poucos segundos matou o Ne-Waza, que os alunos de Maeda (Carlos Gracie, Gastão Gracie, Luís França e outros) mantiveram.
Mantiveram também o nome Jiu-Jitsu. As técnicas de Defesa Pessoal também foram ensinadas por Maeda, tanto é que tem nome em japonês ( Waki-gatame, Kote Gaeshi, etc). Pra mim, o maior mérito dos Gracie, Principalmente do Prof. Hélio foi a divulgação por meio dos desafios. Da mesma forma que aprendemos o futebol com os ingleses e hoje jogamos mais que eles (será?), fizemos com o Jiu-Jitsu que, enquanto se eclipsava no Japão, crescia no Brasil.
Na minha opinião se tratando de artes marciais nos dias de hoje, nada se cria mas tudo se copia.
Falou tudo em poucos palavras!!! (y) (y) (y) (y) (y)