Como suportar a pior porrada que a vida pode nos dar, com Rickson Gracie

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Treinar Jiu-Jitsu é aprender, pouco a pouco, dia a dia, a ficar mais calejado para suportar as porradas da vida.

Foi o que aprendemos com mestre Rickson Gracie, lutador que virou sinônimo de invencibilidade ao apresentar um cartel de 11 lutas e 11 vitórias no vale-tudo, para não mencionar as incontáveis vitórias no Jiu-Jitsu como faixa-preta.

Em entrevista ao pessoal da revista “Ragga”, em 2010, o Gracie comentou o mais profundo revés capaz de estraçalhar uma pessoa – mesmo que seja um samurai. Rickson jamais havia falado tão abertamente sobre a morte do filho, Rockson, encontrado num hotel em Nova York, em dezembro de 2000.

Após ouvir a pergunta: “Qual foi a maior porrada que levou na vida?”, Rickson ensinou:

“Sem dúvida nenhuma, a perda do meu filho, há dez anos.”

“Sinto que essa partida representou muito, porque consegui administrar essa derrota. Nada pode ser mais significativo que perder alguém que você realmente ama”, aprofundou-se Rickson. “Quando você fala em perda, pode pensar na força, na perseverança, na reza, no acreditar que vai haver o amanhã, em todos esses fatores que, talvez, um amigo venha e bote a mão no seu ombro. Todas essas opiniões são relevantes, mas, na minha verdade, cheguei à conclusão que nada disso importa. Quando você perde uma coisa realmente profunda, você tem que sentar, chorar e aceitar que chegou ao fundo do poço”.

“Lá do fundo, você vê a razão de dar um tiro na cabeça, de parar de fazer o bem, de desistir de ser uma pessoa feliz. Você pode querer se enganar, ‘é ruim, mas posso aguentar’, e essa falta de honestidade faz que você nunca cure a ferida. Cheguei no fundo do buraco e decidi, lá do fundo, se ia voltar à tona ou não”, completou.

Rickson, o faixa-preta Renato Barreto e Rockson. Foto: Renatobarreto.com.br

O Gracie precisou de anos para digerir a perda do filho, como ele explicou.

“Passei por um processo de cura com a minha família. Durante praticamente três anos, fiquei focado em reganhar essa energia e buscar uma razão que me fizesse ser feliz de novo. E a razão são os três filhos lindos que tenho, a minha família, o Jiu-Jitsu. Para fechar esse assunto na minha cabeça, busquei durante muito tempo um lado bom nessa partida, uma coisa que pudesse ter como vantagem diante dessa tragédia. Depois de muito meditar, de me enclausurar nos bosques, sem vontade de surfar, brincar, treinar, cheguei à conclusão de que existia uma vantagem, um lado positivo. Até aquele momento, realmente nunca havia dado valor ao tempo, sempre achei que era controlador do meu tempo, que poderia deixar para falar com meu filho amanhã, deixar uma viagem ou uma aula para depois, que o tempo era só uma questão de adaptação na minha agenda. Deixei de fazer muitas coisas achando que poderia fazer depois. Com a partida do meu filho, entendi que não existe o amanhã. A gente tem de fazer tudo como se não houvesse amanhã.”

Rickson comentou ainda sobre o aguardado confronto contra Kazushi Sakuraba, que acabou não acontecendo à época por causa da tragédia:

“Essa luta seria o meu maior salário em todos os tempos. Me ofereceram 5 milhões de dólares, eu botaria meu burro na sombra. Ele venceu vários Gracie e seria uma boa luta para mim, talvez a melhor luta. Realmente ele ficou atravessado na garganta de todo Gracie”, concluiu o hoje faixa-coral.

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