Gabi e a maior lição da estreia no MMA: “Em 6 meses ninguém vira campeão”

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Gabi Garcia celebra no ringue na Saitama. Foto: Direitos reservados a RIZIN FF/Sachiko Hotaka

Gabi Garcia celebra no ringue na Saitama. Foto: Direitos reservados a RIZIN FF/Sachiko Hotaka

A estrela do Jiu-Jitsu feminino Gabi Garcia quebrou o marasmo da temporada com sua estreia no MMA, na noite de réveillon em Tóquio, na clássica Saitama Super Arena. Apesar de ter cometido erros, Gabi foi valente e derrubou, em luta válida pela novíssima Rizin Fighting Federation, organização derivada do extinto Pride, a pro-wrestler americana Seini Draughn, também conhecida como Lei’D Tapa.

Após aplicar uma sequência e ver o último golpe passar no vazio, Gabi usou as costas da mão e conseguiu o knockdown. No solo, estabilizou da meia-guarda por cima e desferiu mais alguns socos para liquidar a fatura por nocaute técnico.

(Confira a luta completa e o nocaute de Gabi, aos 2min36s do primeiro round, aqui.)

De volta à Califórnia, Gabi já voltou aos treinos na academia Kings MMA, do renomado Rafael Cordeiro, e está corrigindo os erros e ajustando o jogo para sua segunda luta, que deve ser mais um clássico Jiu-Jitsu x judô, como os japoneses adoram promover.

GRACIEMAG conversou com a campeã de Jiu-Jitsu, que listou as lições aprendidas com a vitória.

GRACIEMAG: Qual foi o seu grande aprendizado com esta estreia no MMA, Gabi?

GABI GARCIA: A maior lição que aprendi não foi dentro do ringue do Rizin, mas fora dele. Não lembro de ter treinado tanto para uma luta na vida como fiz desta vez. Cheguei exausta na época da luta. Mas foram apenas seis meses de treinos de MMA. E em seis meses ninguém vira campeão. No Jiu-Jitsu eu ralei por 16 anos para ser a Gabi que eu fui, e também fui muito desacreditada no meu começo nos campeonatos. Li muito depois da estreia o pessoal dizendo para treinar mais a parte em pé. Eu treinei e sigo treinando muito, com uma equipe incontestável, fora de série mesmo: Rafael Cordeiro no muay thai; Marco Morales, o professor do Anderson Silva, no boxe; treinei MMA com Anderson, Fabricio Werdum, Renato Babalu, Lyoto Machida, Rafa dos Anjos… E o Mike, meu preparador físico ainda, com quem treinei muito a parte de caminhar dentro do ringue. São grandes nomes do MMA me ajudando muito. Tomar pancada de homem não é fácil. É preciso tempo. Só depende de mim e da minha dedicação.

A luta não foi bonita, mas você estava meio no automático logo depois de sofrer o knock-down, certo?

Estava no automático, eu vi tudo preto na minha frente mas não desisti. Foi mérito dela, pois eu errei e mantive a minha guarda baixa. Mas aprendi muito. Eu cheguei ao Japão para o Rizin e ainda tive de cortar o peso, acabei batendo o peso na segunda tentativa por questões pré-menstruais. Aprendi ali que os dias que antecedem uma luta de MMA são totalmente diferentes dos eventos de Jiu-Jitsu, é um mundo que eu não conhecia. No fim, precisei viver aqueles seis meses de ralação em três minutos de luta. Eu queria botar para baixo, mas às vezes a gente tem um plano e ali no desenrolar a coisa não dá tão certo. Tomei um knock-down em 12 segundos de luta. É algo que eu preciso corrigir, meu professor de boxe me chamou mil vezes a atenção mas com a adrenalina eu mantive de novo a guarda baixa, e senti o golpe. Senti até o fim da luta, aliás. Quando nocauteei a Tapa eu ainda estava tonta, percebi no vídeo que eu fui direto me agarrar nas cordas.

Como foram estes três minutos na sua visão?

Percebi que fazer uma estreia logo diante de 30 mil pessoas não é mole. Quando subi naquele elevador da Saitama Super Arena e vi o público lá de cima, comecei a conversar comigo. “Qual é o teu sonho, Gabi? Vai querer mesmo realizar ou vai ficar pelo caminho?”. Ali senti a pressão que envolve toda uma luta profissional. Fiquei mais tranquila com o Fabio Gurgel e o pessoal todo no meu córner. Lembro que senti a mão dela e vi tudo preto. A sorte foi que ela não quis fazer meu jogo de Jiu-Jitsu no chão, o que me permitiu levantar e me recuperar um pouco para voltar para a luta. A partir daí lutei no automático. Mas o automático também faz parte do Jiu-Jitsu, e é esse tipo de instinto que faz muitas vezes a gente vencer. Eu treinei tanto nesses seis meses que isso me fez resistir mais. Com menos treino eu talvez tivesse ficado ali mesmo, nocauteada. Não desisti, fui para cima e quando ela sentiu, venci. Saí da arena aplaudida, sem conseguir andar na rua. E o mais legal, com o celular cheio de recados da comunidade do Jiu-Jitsu, astros que ainda vão fazer sua estreia e sentiram a adrenalina do momento. Passei seis meses longe da família na Califórnia trocando porrada com alguns dos melhores do mundo, eu sofri mas valeu a pena.

Rumores apontaram que sua próxima oponente pode ser a heptacampeã mundial Tong Wen, campeã olímpica em 2008, de 32 anos, 1,80m e 130kg. Alguma novidade?

Antes o plano era lutar de seis em seis meses, mas a organização gostou da repercussão e já marcou para abril, em Nagoya. Queria descansar mais a cabeça mas vai ser legal lutar de novo logo. Minha segunda luta deve ser de fato contra uma judoca chinesa mais pesada que eu, mas não sei o nome dela. Pode ser ela. Vamos ter tanto lutas na minha categoria, até 93kg, quanto lutas sem peso definido, como havia no antigo Pride. Depois a ideia é lutar novamente no início de setembro, mas nada certo ainda.

Rizin FF
Saitama Super Arena, Japão
31 de dezembro de 2015

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