BJJ

Entrevista com idealizador do primeiro game sobre BJJ: “Mercado do E-sport será maior que dos esportes tradicionais”

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Luiz Eduardo Adler e seu sócio, Pedro Thiago Mourão: praticantes de Jiu-Jitsu apaixonados por videogames. Foto: Glauber_photo.  

Muito em breve, mesmo numa realidade de quarentena como agora, em que as pessoas devem ficar reclusas em casa, você vai poder praticar Jiu-Jitsu e até mesmo competir contra grandes rivais de todo o planeta. A equipe da Smash Mountain Studio está terminando de desenvolver um jogo sensacional e pioneiríssimo, voltado para o universo da arte suave. Trata-se do BEJJ

“Os usuários vão poder criar e personalizar o seu avatar. Progredir da faixa-branca até a faixa-vermelha. Montar equipes com os amigos. E, claro, participar de grandes campeonatos on line”, diz Luiz Eduardo Adler, o Duda, fundador e CEO da Smash Mountain Studio. 

Quando divulgamos as fotos promocionais do game no Instagram da GRACIEMAG (@graciemagoficial), a postagem gerou mais de 150 comentários, todos eufóricos e elogiosos à iniciativa de Adler, alguns até em tom de agradecimento. 

“Fiquei muito feliz com a recepção do público. Ganhamos mais de mil seguidores no dia daquela postagem. Aos mais ansiosos, já posso revelar que o game explora a máxima que diz que ‘o BJJ é o xadrez humano’. Portanto, partimos para uma mecânica de jogo de cartas, visando estratégia e tática ao invés de habilidade motora e reflexo em apertar botões e fazer combinações”, diz Adler. O CEO garante que o game vai estar disponível para download no segundo semestre de 2020.

Confira essa e muitas outras informações sobre o BEJJ na entrevista a seguir! 

GRACIEMAG: Como o projeto do game começou?

LUIZ EDUARDO ADLER: Sou o sócio-fundador da Smash Mountain Studio e um apaixonado por Jiu-Jitsu. A empresa desenvolve experiências inovadoras em tecnologias imersivas como realidade virtual (VR) e videogames. Ela possui um lado B2B, prestando serviços para empresas ou indivíduos, como por exemplo treinamentos em VR, minigames para eventos ou outsource em arte (modelagem 3D, animações, etc.), mas também possui um lado B2C com o desenvolvimento de seus próprios produtos. Quando criei a empresa no final de 2016, notei que não existia um game da arte suave. Como praticante, resolvi juntar o útil ao agradável e abraçar o desafio. Além da oportunidade de mercado, seria possível investir e trabalhar com uma paixão, e ao mesmo tempo suprir uma demanda, de certo modo oculta, da comunidade apaixonada pelo Jiu-Jitsu e aficionada por videogames.

Trailer do game BEJJ, que tem previsão para ser lançado no segundo semestre de 2020. 

Concretizar essa ideia foi um processo difícil?  

No início, não foi possível dar muito gás no projeto, pois precisávamos correr atrás de serviços para movimentar o fluxo de caixa da empresa e ao mesmo tempo gerar portfólio para prospecção de novos serviços. O objetivo era garantir a sustentabilidade da empresa independente dos produtos que viríamos a criar. Entretanto, o conceito do game foi desenhado em paralelo. Fizemos um primeiro protótipo com papel e caneta! Algumas regras básicas, estilo papel e tesoura, e testes em casa com amigos, os quais vale citar: Luiz Octavio Caneppa e Ruan Oliveira. Passado estes primeiros testes, a planilha de Excel entrou em ação. Muitas horas, dias e meses foram gastos em cima desta planilha e na documentação do GDD (Game Design Document). Todo o conceito básico do jogo foi criado e precisávamos testar novamente para escolher o caminho a ser seguido. Desta vez fizemos umas cartas impressas diagramadas em powerpoint. Com a ajuda da planilha, jogávamos as cartas, imputávamos os dados nela e víamos os resultados do turno. Fomos ao dojô do professor Muzio de Angelis – que também nos orientou sobre as regras complexas do Jiu-Jitsu  – para fazermos mais testes com o pessoal. Filmamos as reações dos jogadores e fizemos muitas anotações. Cada vez mais tínhamos certeza em avançar com o projeto. 

Árbitro de fama internacional, Muzio De Angelis emprestou sua voz aos árbitros do game. “Investimos muito no realismo”, diz Adler.

Em 2018 o game avançou bastante em termos técnicos, certo? 

Sim, no início de 2018 fizemos de fato um protótipo em aplicação para Android. Com uma interface bem tosca pudemos testar ainda mais o jogo e avaliar os desafios tecnológicos e de game design que teríamos pela frente. Entre pausas e retomadas ao projeto, devido a alguns serviços que devíamos prestar para garantir caixa, resolvemos investir ainda mais no BEJJ para, em julho de 2018, começarmos o desenvolvimento de uma versão Beta. Foi quando também filmamos as referências das posições que iríamos usar no jogo. Fomos até a academia Minos em Botafogo com autorização do Marcos Ayala para filmá-las com 3 câmeras simultaneamente – duas filmando lateralmente e uma por cima. Assim teríamos vários ângulos para que os animadores 3D pudessem realizar suas animações com todos os detalhes. Para isso, contamos novamente com a ajuda do Ruan, do Santiago Deragon (quedas) e mais recentemente do Enzo Batista. São animações muito complexas para serem feitas na mão, portanto precisávamos de alguém que além de ser um excelente animador também deveria entender bem de luta agarrada. Assim, nosso primeiro animador a começar esses serviços não poderia ter sido escolha melhor do que o Marcos Piolla que, apesar de não ser do Jiu-Jitsu, entende bastante de luta em pé e de chão (karatê, judô, luta-livre). Ele também foi responsável por encontrar outros grandes animadores para nos ajudar na saga (o Sid e o Christiano)… esta foi uma das partes mais complicadas e demoradas do projeto devido à complexidade! Em Junho de 2019, com uma interface e onboarding (experiência inicial do jogador) ainda precários, porém mais funcionais que a versão anterior (Alfa), fizemos um teste durante 1 mês com um total de 2,5 mil pessoas e avaliamos as métricas de retenção de usuário. Ficamos satisfeitos com o resultado. Com uma versão ainda sem animações 3D das posições e com as regras e funcionamento da mecânica ainda não bem compreendida pelos jogadores, o BEJJ teve resultados numéricos acima da média. Colhemos muitos feedbacks de quem testou e em cima deles reestruturamos todo o game para enfim conseguir a versão que temos hoje, depois de muito trabalho. Em maio de 2020 pretendemoster a versão Open Beta para Android e na sequência uma versão Beta para iOS, ainda sem data certa.

Registro do início dos trabalhos, quando as cartas de papel serviam como esboço para o game que está prestes a ser lançado. 

Quais os benefícios que o game oferece à comunidade do Jiu-Jitsu?

Sem dúvida alguma, o BEJJ agrega, e muito, para todos os lutadores. Por mais que não se esteja treinando fisicamente as posições, a parte mental fica em pleno vapor. Tanto durante as lutas online quanto na hora de montar o arsenal de cartas dos avatares. Podemos pensar da seguinte maneira: para um novo aluno que acabou de entrar no Jiu-Jitsu, ele poderá usar o BEJJ como estudo. Claro que ele pode estudar através de vídeos no Youtube, no Instagram ou cursos comprados, extremamente úteis com certeza. Mas, no jogo ele se encontra imerso naquele ambiente. Ele se entretém, ele compete, ele cria amigos e integra equipes. E isto pode ser feito a qualquer hora e em qualquer lugar, desde que haja internet. E para lutadores experientes, nada melhor do que relaxar respirando Jiu-Jitsu, ativando sua massa cefálica e até mesmo criando novas ideias para quando estiverem no tatame novamente para surpreender seus colegas de treino. Temos a ideia de criar uma e-liga de Jiu-Jitsu através do BEJJ, seguindo a tendência mundial dos E-sports que muito em breve será um mercado maior do que os esportes tradicionais. O BJJ não poderia ficar de fora!

Quais os principais desafios que você enfrenta/enfrentou para implementar o game?

Os desafios foram e são muitos! Mas podemos focar em 3 principais. Em primeiro, o principal desafio: o Jiu-Jitsu, além de ser uma luta agarrada em duas situações (em pé e chão), possui regras bem complicadas. Só aí, já exige um tratamento diferente de jogos de luta normais, onde se tem uma barra de HP a qual vai diminuindo na medida que os lutadores vão recebendo golpes (socos, chutes, etc.). Não temos isso no BJJ (pelo menos o competitivo). Então, como representar a arte suave da maneira mais fiel possível em um game? Pensamos em explorar o lado de que o BJJ é o xadrez humano. Portanto, partimos para uma mecânica de jogo em cartas, visando estratégia e tática ao invés de habilidade motora e reflexo em apertar botões e fazer combinações. Quem sabe no futuro podemos fazer uma mistura de mecânicas ou até chegar em um modelo que isto seja viável e divertido em um segundo game, mas por hora serão apenas jogabilidade com cartas. O segundo maior desafio é o técnico. O BEJJ está sendo desenvolvido para mobile. Mesmo querendo levá-lo para PC e quem sabe para consoles no futuro, não podemos gerar gráficos muito elaborados, pois muita gente com celulares medianos e internet média não conseguiriam participar do jogo. Tivemos que optar por um meio termo. E ainda, o Jiu-Jitsu conta com muitas posições que usam a lapela e outras partes do kimono, um desafio enorme para ser vencido para termos mais animações de qualidade. Ainda estamos nesta batalha, sem contar outros desafios técnicos que teremos para resolver pela frente.

Adler entre Deragon e Ruan, nas gravações realizadas na academia Minos, no Rio de Janeiro. 

E o terceiro desafio?

O terceiro e maior desafio, que de certo modo é um complemento do segundo, é o financeiro. Fizemos todo o desenvolvimento da versão Beta com uma equipe extremamente pequena para este tipo de jogo (free-to-play mobile). Desenvolver um game é extremamente complexo e custoso. Diversas habilidades profissionais são requeridas, pois tem-se uma mistura de arte com desenvolvimento de softwares. Além disso, inúmeros testes são necessários para que se tenha um bom produto final. Eis o motivo do jogo estar em teste Beta até hoje. É extremamente importante ouvir a comunidade em volta do jogo, pois eles que irão consumi-lo. Não podemos simplesmente abaixar a cabeça e fazer as coisas como achamos melhor sem ouvir o público. Portanto, um longo período de desenvolvimento por conta da equipe reduzida se faz necessário, e isto, ainda assim, possui um custo considerável. Hoje temos 50% das funcionalidades do jogo prontas. Queremos chegar a uns 80% delas antes de lançar uma versão final do BEJJ. Destas novas funcionalidades a serem implementadas, queremos focar na criação e gestão de equipes, campeonatos online e cartas especiais (lúdicas) chamadas de Perks para aumentar a tática durante as lutas. Depois atacaremos outras funcionalidades possíveis. Para isto estamos em busca de investimento para agilizar a versão final o quanto antes, disponibilizando um game super completo e divertido para todos.

A equipe da Smash Mountain Studio reunida. 

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